Izabelle Valladares entrevista o escritor e revisor Claudionor Aparecido Ritondale
Por que você é escritor? Algum motivo ou ideal específico?
O prazer de criar por meio da escrita fascina-me. O ideal maior é expressar-me.
Na sua opinião, Claudionor, atrapalha ser professor e escritor, ou é até melhor?
Já escrevi um artigo sobre isso, consta no link http://oliteratico.webnode.com/news/professores-escritores/ No artigo apresento com maior profundidade a questão. Minha opinião é que não há interferência positiva ou negativa, por antecipação. O que motiva as pessoas a lerem ou a prestigiarem um professor ou escritor é algum tipo de proximidade dele, escritor, professor, ou professor-escritor, com a fama. Hoje estamos num mundo tão medíocre que alguém que faça trinta minutos de uma baboseira num programa de domingo de uma emissora que consiga atrair audiência poderá ter mais atenção do que um professor ou escritor.
Como você começou a escrever? Quem lia para você ao principio?
Acho que comecei a escrever muito cedo. No começo, apenas imitava outros, escrevia bilhetes de aniversário, natal, essas coisas. Um dos primeiros poemas foi para uma colega de uma escola de música. Acho que comecei a ler na escola, não me recordo de meus pais dizerem que liam nada para mim, quando criança. Acho que não tinham formação para isso. Sou de uma época quando não havia tantas livrarias, ter livros era mais complicado, mas, ainda assim, meus pais fizeram o esforço de comprarem o que era possível e impulsionaram muito algum apetite inicial para eu conhecer o mundo, mesmo com nossas condições precárias – éramos pobres, eu estudei durante muito tempo em escolas públicas (até o final de meu primeiro curso universitário).
Qual é seu gênero favorito? Algum link onde possamos ver ou ler algo sobre sua obra recente?
Não tenho preferências por escrever. O que mais escrevi até hoje foi poesia, mas não me considero exclusivamente poeta. Dois links: de um poema: http://oliteratico.webnode.com/news/quimicaeroticamente/ E de uma crônica: http://oliteratico.webnode.com/news/observa%C3%A7%C3%B5es%20de%20cotidianas%20viagens%20de%20metro/
Como é seu processo criativo? O que ocorre antes de você se sentar a escrever?
Não sei se é possível revelar todo o processo criativo de algum escritor. Acho que algum segredo sempre vai ficar guardado. Além disso, é impossível transmitir tudo o que ocorre. Acho que o início é uma vontade de expressar algo. Os assuntos e sugestões vão surgindo no dia a dia (cada um tem sua vivência de amores, frustrações, realidades profissionais, questões financeiras, notícias que lê, outras leituras que faz). Se há alguma necessidade de buscar material, deve haver pesquisa, porque ninguém conhece tudo sobre tudo. O escritor que não pesquisa corre o risco de criar situações inverossímeis ou ridículas. Depois da pesquisa, uma organização de material, não muito rigorosa, porque não se pretende fazer ciência, mas arte. O capricho, a partir do estudo da forma e a revisão atenta do que se produz, é a parte da elaboração do texto. Deve haver algum momento da famosa inspiração, porque ela é quem faz a diferença. Não só de transpiração vive o talento. Talvez ela, a transpiração, seja 99%, mas a diferença está na inspiração, porque trabalhar é permitido e oferecido a qualquer um. De onde vem a inspiração? Talvez do ar (que é efetivamente o que se inspira), talvez do cotidiano, talvez da memória de coisas agradáveis. Após o material pronto, deve-se experimentar a divulgação, que, para mim, é o processo mais espinhoso.
Que tipo de leitura ativa sua vontade de escrever?
Sou um leitor de qualquer tipo de texto. Aprendi ouvindo uma entrevista do Nelson Rodrigues, que dizia que lia até lista telefônica, que tudo pode sugerir uma ideia, um princípio de história, ou um cenário. Mas não apenas leitura desperta minha vontade de escrever, outros estímulos, como a música, um programa de televisão, uma matéria jornalística veiculada no rádio, um anúncio de jornal, um espetáculo de dança, muita coisa me motiva.
Quais são para você os ingredientes básicos de uma historia?
O principal é o interesse despertado no leitor. Há leitores para todos os tipos de história. Talvez o maior ingrediente esteja na divulgação do conteúdo, porque até escritores considerados difíceis chamaram a atenção de muita gente. A base é a vontade de contar uma história. Bons contadores sempre encontrarão jeitos de encantar. O simples fato de contar já é em si encantador, apenas há alguns que sempre despertam maior interesse. O que é básico para uma boa história? Um bom contador, assuntos tocantes, habilidade em desenvolver as ideias, atenção para o clímax, soluções criativas, trabalho habilidoso com a linguagem.
Em que sapatos você se encontra mais cômodo: primeira pessoa ou terceira pessoa?
Para mim, há uma intenção diferente em cada um dos focos narrativos. A primeira pessoa parece mais confessional, a terceira pessoa agiliza as ações pela independência em relação ao sujeito. Mas os dois devem ser bem estudados para garantir bons efeitos. Modernamente, o foco narrativo tem sido muito trabalhado, com enfoques de vanguarda que o tornaram também um ponto importante a ser observado para a obtenção de efeitos surpreendentes.
Que escritores conhecidos são os que você mais admira?
Leio muito, tanto os que se expressam predominantemente em português, quanto autores que se expressam em outros idiomas. Cito alguns, desculpando-me com muitos outros que não são menores, mas que merecem todo o respeito e admiração: Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Mário Quintana, Fernando Pessoa, José Saramago, Nelson Rodrigues, Machado de Assis, João Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Mário de Andrade, Italo Calvino, Alberto Moravia, Nélida Pinõn, Rachel de Queiroz, Doris Lessing, além dos clássicos Dante Alighieri, Luís de Camões, Johann Wolfgang Von Goethe, e geniais escritores que também foram filósofos como Friedrich Nietzsche, Benjamin Franklin, Ralph Waldo Emerson, Henry David Thoreau, e muitos, muitos mais escritores, e muitas, muitas mais escritoras.
O que torna um personagem crível? Como você cria os seus?
A capacidade de fazê-lo parecer próximo do leitor. Conan Doyle criou o detetive Sherlock Holmes que foi tão crível que muitos o consideravam uma pessoa. Fanáticos leitores até inverteram a situação de morte dele, indo ao local designado no livro de Conan Doyle e invertendo a situação: o assassino teria morrido. Depois de tê-lo feito morrer na ficção, Conan Doyle, após muita pressão dos leitores, teve que “ressuscitá-lo”. A magia foi imensa. Não sei se minhas personagens são críveis. Eu as invento a partir de uma intersecção de várias características de gente com quem convivi. Às vezes, até sonho ou arranco da literatura algumas ideias.
Você é igualmente hábil contando historias oralmente?
Não acho que seja hábil em narrativas orais. Não me lembro de muitas ocasiões em que eu tenha feito uso da palavra para propositadamente contar histórias literárias. Admiro quem o saiba fazer. Como professor, já tive oportunidade de transmitir a emoção da literatura por meio de leituras de textos e interpretação de histórias. Até já participei de grupos de teatro. Dou preferência à escrita, mas acho que é possível transmitir oralmente as emoções. Como sou muito fã de rádio, já tendo ouvido dramatizações de histórias em que os recursos auditivos conseguiram dar conta da emoção, acredito que essa é uma boa maneira de entreter pessoas.
Profundamente em sua motivação, para quem você escreve?
Não escrevo para quem não sabe ler (há, infelizmente, vários graus de analfabetismo – nenhum deles está apto a ler profundamente literatura), nem para alienados, fanáticos e burocratas. Como a maioria da humanidade tem traços de analfabeto, alienado, fanático e/ou burocrata, escrevo para uma minoria cada vez mais seleta.
Escreve como terapia pessoal? Os conflitos internos são uma força criadora?
Apesar de existir arte como forma de terapia, não gosto de pensar em meus textos como possibilidades de oferecer algum tipo de tratamento a enfermidades (terapia está, queiramos ou não, relacionada a doença). O fato de existir conflito não envolve necessariamente doença emocional ou algo que requeira terapia. Não considero que meus escritos possam fazer bem, por si sós. Há quem ache que literatura é algo sempre maravilhoso, mas há criação de monstros e situações nocivas engendradas por escritores. Procuro não envolver aspectos de terapia em meus textos. Situações internas que me provoquem perplexidade podem dar motivação para escrever, assim como dificuldades vividas por outras pessoas. Como sou eu a escrever, quando me vejo como autor, tudo o que vem de fora acaba virando algum tipo de inquietação minha, então sempre algo criado será fruto de uma situação próxima de um conflito interno. O problema é ser próximo do autobiográfico em tudo, coisa que eu não forço.
O feedback dos leitores serve para você?
Já serviu bastante. Hoje, como não tenho tido praticamente leitores, não consigo avaliar. Faz um bom tempo que não recebo apreciação de praticamente ninguém. Não sou avesso a observações, mas acho que não tem havido interesse pelo que eu escrevo. Em virtude dessa indiferença, acho que devo mudar radicalmente, até estou num esforço danado para reler o que produzi a fim de descobrir algo que provoque retorno dos leitores. Quase sempre quem me escreve são escritores, não para comentar algum texto meu, mas para mandar-me outro texto ou indicar-me leitura de algo que produziram. Acho que a maior parte das pessoas que leem são escritores que querem ser lidos, assim como a maior parte das pessoas que procuram ver atentamente quadros são pintores, quem vai a espetáculos de dança é bailarino, assim por diante. Artistas consomem arte, o público em geral não tem apetite para nada além de suas vidas insignificantes ou para o consumo da arte que a mídia impõe, que é uma música massificada, literatura televisiva assimilável (novelas, uns poucos filmes apelativos e minisséries), quadrinhos violentos e uma imensa baboseira veiculada pela Internet, seja por mensagens de autoajuda, seja por filmes amadores de duvidosa qualidade do Youtube. Como procuro fazer arte, estou fadado a não ser apreciado.
Na sua opinião, o escritor deve ter opiniões políticas e filosóficas sobre a atualidade, ou deve somente fazer sua literatura?
Não existe neutralidade. Quem diz ser apolítico, é um conservador, alienado e que, de forma silenciosa, aprova tudo o que é de pior em política. Quem não tem apetite para refletir sobre sua realidade, que é o que a filosofia propõe, não pode ser um bom artista. A arte não é afastada da realidade. Querer fazer arte pela arte, como falsamente propunham os parnasianos (o que significava defender valores conservadores, quer dizer, a cultura oficial vigente), não é algo aceitável. A arte é sempre engajada, é sempre fruto de alguma convicção política e filosófica. O artista pensa sua arte e envolve-a, de alguma forma, em alguma tendência de poder, daí ser sempre alguém com opiniões filosóficas e políticas. Não é possível apenas fazer sua própria literatura, sempre, de alguma forma, se o artista tem alguma opinião sobre o mundo – e ele sempre a tem. Até em histórias infantis se tem um conjunto de concepções do mundo e da organização da sociedade para se transmitir, ou seja, sempre se está sendo político e filósofo, quando se escreve.
Você se apresenta para concursos? Você recebeu prêmios?
Sim, aprecio concursos, porque trazem uma oportunidade de reconhecimento. Não apenas participei de vários, como já obtive alguns prêmios. O prêmio mais importante que obtive foi o primeiro lugar no Concurso Literário “Com a palavra os professores do Brasil”, da Litteris Editora (Rio de Janeiro), em 2008, vencedor entre 2.100 textos, enviados por mais de 1.700 inscritos, no Brasil todo. Meu texto, o poema “Momentos de aprender” foi publicado no livro Com a palavra os professores do Brasil, editado em janeiro de 2009. Outro prêmio importante foi o terceiro lugar num concurso de poemas do Satélite Esporte Clube, de Itanhaém, São Paulo, dos funcionários do Banco do Brasil, com o poema “Nós que viemos depois de Brecht”, que constou da coletânea Estações & Elementos, publicada pelo Satélite Esporte Clube em 2000. Em 2010, recebi uma menção no importante Prêmio de Poesia Nósside, da Itália, promovido por uma instituição ligada à UNESCO; agora em 2011, figuro como finalista no importante Prêmio SESC-DF de Literatura, modalidade Poesia. Também já participei de concursos como jurado ou presidente de júri. É também uma experiência de leitura fascinante, além de, em alguns casos, conferir alguma remuneração pelo serviço, servir como divulgação de seu nome e auxiliar a encontrar novos talentos literários.
Você compartilha os rascunhos de suas escrituras com alguém de confiança para ter sua opinião?
Às vezes. Ultimamente, não tenho feito isso, não por um sentimento de autossuficiência, é que não tem ocorrido nada nesse sentido, mesmo. Creio que me isolei um pouco do convívio com escritores, porque não conheci muito apetite de ninguém para opinar sobre coisas dos outros. De maneira geral, escritores são muito narcisistas. Eu gostaria bastante de poder participar de grupos que provocassem discussões sobre os textos de todos. A última vez em que tentei aprender algumas técnicas de romance houve rejeição de algumas observações minhas, numa forma tão ostensiva, que eu acabei desistindo de me entrosar em grupos de candidatos a escritores. Recebi uma opinião de um escritor, num curso que fiz pela Internet, achei que foram muito úteis, até utilizei muitos dos seus conselhos. A experiência dele foi importante para uma possível evolução de meu texto. Tive uma curta experiência num curso de especialização que se chamava Formação de escritores, mas minha ansiedade não me permitiu continuá-lo – eu enxergava apenas teoria infértil, sem nenhuma preocupação com os textos produzidos pelos alunos, algo que me frustrou. De fato, é difícil receber crítica pelo que se escreve, principalmente se o escritor não é conhecido. Santa mediocridade brasileira!
Você acredita ter encontrado "sua voz" ou isso é algo eternamente buscado?
Pergunta difícil e estranha. O que é a voz do escritor? Cada texto tem sua própria voz, não vejo como é possível determinar para um autor qual seja essa coisa. Num mundo em que “ismos” fazem pouco sentido, há certas convicções que vão surgindo, apenas isso. Eu já tenho certa idade e um bom tempo de escrita, creio que obtive algumas convicções, mas muita coisa muda. Também existe a percepção diferente de acordo com a cultura. Num mundo em que a mulher é coisificada, uma cena de cinema que exiba demoradamente o corpo da mulher no centro da tela pode significar consumo barato para um tipo de cultura, mas pode significar, em oposição a isso, uma sensação de estar no centro, em uma cultura mais opressiva à mulher. Aquilo que pode parecer a mim uma voz legítima pode não parecer nada a um leitor. Acho que o leitor é quem deve decidir sobre essas questões. Eu me esforço por manter coerência com certos princípios e procuro criar com qualidade.
Que disciplina você se impõe para horários, metas, etc.?
Ainda não consegui muita disciplina. Trabalho em muitos horários, sem preocupação com prazos nem metas. Talvez seja necessário que eu me organize melhor para dar cabo de alguns projetos, que já se acumulam – podem crer!
De que você se rodeia em seu escritório para favorecer sua concentração?
De meu indispensável par de óculos, um calendário e um relógio; livros, silêncio, luz, espaço, ar bem respirável, conforto, meu cãozinho fidelíssimo, um computador com Internet, material de escritório, alguns papéis com anotações, pastas de documentos, algo que toque música, um telefone, algumas tranqueiras. Eventualmente, há por perto gente que eu ame – que não são coisas, mas pessoas queridas.
Você escreve na tela, imprime com freqüência, corrige em papel...? Como é seu processo?
Escrevo onde puder. De preferência, no computador de casa, salvando tudo no disco rígido, às vezes em algum outro suporte (CD, pendrive). Mas também em papel, já escrevi até em guardanapo de restaurante. Não costumo imprimir para corrigir no papel, faço correções no próprio computador, sem o uso de programas corretores, porque, como professor de Português, tenho obrigação de até corrigir os programas corretores, se for o caso.
Que sites você frequenta online para compartilhar experiências ou informação?
Nenhuns, na verdade. Tenho estado um pouco à margem disso. Gostaria até de conhecer algum que me trouxesse algum compartilhamento. Não me atrevo a mandar observações nem a pedir, porque, numa ocasião recente, alguém não compreendeu o que escrevi e me deu uma resposta atravessada, que me deixou decepcionado e sem vontade de continuar a tentar entrosamento com outros possíveis escritores. No curso em que freqüentei umas poucas aulas, houve um fórum dos alunos, no qual ingressei, mas ainda não vi muita coisa além de informações vagas, algumas dicas de leituras de autores estrangeiros, muita divagação e pouca objetividade.
Como foi sua experiência com editoras?
Muito ruim. Eu paguei pela edição dos meus três primeiros livros a um editor independente. Nunca fui editado por editoras grandes. Tudo o que tenho publicado hoje está no Clube de Autores, a editora virtual da Internet que praticamente não cobra custos de edição – link http://clubedeautores.com.br/search?qt=&qa=Ritondale&q=&commit=Buscar{0}
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Não tenho mais a intenção de pagar para ter livros meus publicados.
Em que projeto você está trabalhando agora?
Em vários: um romance com toques policialescos sobre um publicitário e uma antologia de textos sobre ética (antologia de meus textos). Na realidade, interrompi tudo isso para entregar trabalhos de revisão e tradução.
Primeira pergunta de um leitor para você: seu estilo literário pode ser comparado ou contrapartido ao de algum escritor?
Pode. O critério para isso é que deve ser bem pesado. Eu já tive quem me perguntasse sobre influências. Não havendo plágio, o resto é normal, já que comparar é algo típico do ser humano. A maior lisonja foi eu ter tido um princípio de romance comparado a James Joyce. Infelizmente não consegui agradecer à pessoa que fez a comparação. Como não me lembro mais o nome dela, deixo aqui meus agradecimentos, que acho que ela nunca lerá.
Segunda pergunta: tem algum projeto que você vem trabalhando pela literatura, além dos próprios livros?
O conselho editorial de uma assessoria; a editoria de textos de uma nova empresa; textos para minha futura página pessoal na Internet; a coordenação do júri de concursos literários; um curso de literatura para um portal na Internet; textos sobre gramática; prefácios e assessoria editorial para dois escritores novos; cursos à distância de redação; resenhas de autores; cursos e palestras em escolas, sindicatos ou onde for possível; aulas particulares de gramática, literatura, italiano, filosofia, sociologia, música e outras áreas afins; a volta ao magistério regular no ensino fundamental, médio e superior; a conclusão de um livro de divulgação de uma instituição educacional; textos de divulgação de sites; elaboração de textos publicitários e revisão de trabalhos literários e acadêmicos; criação de cursos à distância para oferta pela Internet. Tenho também outros projetos pessoais, que não dizem respeito ao trabalho de escritor nem ao de professor, mas acho que isso pouco interesse tem a esta entrevista. Só para quem é curioso, escrevi meus projetos atuais: deram quatro páginas de computador com letra Arial 12. Vão desde viajar até cuidar de assuntos de família, concursos para tentar ganhar um dinheiro a mais (concursos públicos que não têm nada a ver com arte), pagar débitos, trocar carro, rever despesas, quase tudo o que diga respeito à minha vida, que é muito cheia de diversidade.
Última pergunta: o que um leitor seu pode esperar de sua literatura?
Deixe um recado para nossos e seus leitores, Claudionor.
Acho que minha literatura tenta optar por ser reflexiva. A palavra que eu mais utilizo, seja por si mesma, seja como sufixo adverbial, é “mente”. Sou bastante racional, do tipo que o Jung chamaria de apolíneo. Como aluno de dois alunos do mestre Mário de Andrade, aquele do modernismo, autor do Macunaíma, sou adepto da pesquisa, da vanguarda e da ampla musicalidade (Mário sempre se expressava em termos musicais, até nas críticas que fazia de pintura). Adoro provocar. Não gosto de literatura fácil, de consumo barato. Não nego a possibilidade de ganhar dinheiro com a arte literária, mas não penso logo de cara em propósitos apenas comerciais. Por ser professor, acho que carrego um pouco do sentido de transmitir, de oferecer algo como conhecimento a quem me lê. Não sou modesto, odeio falsos modestos e creio que faço literatura não para salvar o mundo, mas apenas para colaborar para que alguém se sinta um pouco menos insatisfeito com a palavra. Às vezes expresso coisas menos agradáveis, às vezes escorrego por construções menos elaboradas, mas esforço-me por dar força de vida às palavras que emprego. Acredito que isso seja literatura inventiva, ou a literatura que eu consigo fazer. Aos leitores deixo a palavra final, se é que existirão leitores...