O imortal Carlos Ventura da Bahia para o Mundo

Ter, 15 de Fevereiro de 2011 00:00

Carlos Ventura esteve de passagem pelo Brasil para divulgar seus novos projetos, recarregar as energias na boa terra e rever a família e amigos.

Ventura é Cantor, Compositor e Escritor, membro efetivo da ACB – Academia de Cultura da Bahia. Na rápida passagem por Salvador e antes do embarque para a Europa ele nos contou as novidades num bate papo descontraído sobre o Brasil, sua vida e o mundo.

VJ- (Valdeck de Jesus): Como é estar de volta à Bahia depois de sua mudança, uma temporada de sucesso e novos projetos na Europa?

CV- (Carlos Ventura): Estar na Bahia é algo mágico e reenergizante. Voltar a casa como um bom filho é maravilhoso, rever a família e os amigos, mesmo que seja só por pouco tempo. Tudo faz parte de algo que já estava escrito em algum lugar e este retorno faz parte disto, poder contar e saber das novidades, ou seja, trocar, trazer e levar energias.

VJ: Você terminou de preparar o CD Caminhos Abertos que, por sinal, já tivemos a oportunidade de escutar algumas músicas que foram veiculadas pela internet e até no seu próprio show, quais os próximos passos?

CV: Nós temos a falsa impressão de que podemos controlar tudo e que tudo está sob o nosso controle. Mas não é bem assim, aprendi a duras penas e com experiências maravilhosas, que nós nada controlamos. Apenas gerenciamos o que nos é colocado a nossa frente. A ideia foi gravar o CD assim que terminasse a turnê Caminhos Abertos mas, como optamos por compor as canções no decorrer do projeto a turnê encerrou e não havíamos terminado a proposta de escrever quatorze canções.

VJ: E quando sai o CD?

CV: Estamos ainda amadurecendo esta ideia porque, no decorrer do projeto, apareceram outras coisas, novos projetos e novas ideias. O CD fica pronto ainda no primeiro semestre de 2011. Ele será que será gravado nos shows, quando o Projeto Caminhos Abertos ira se fundir com o lançamento do nosso novo livro “O Verdadeiro Paraíso”. Este será um CD acústico. Já o Cd de estúdio, com a banda completa, ficará para o segundo semestre, se assim as energias nos permitirem.

Vj: Você pode nos contar esta novidade, Show, Livro, explica o que é isso?

CV: Bem, o projeto Caminhos Abertos, foi e está sendo um marco na minha vida, um divisor de águas e que tem feito jus ao nome, pois inúmeras portas e possibilidades estão surgindo e estamos atentos a elas. Temos o cuidado de organizar de forma a não criar uma teia de coisas a serem feitas sem que o resultado seja o de levar uma mensagem de transformação às pessoas que admiram e se identificam com o nosso trabalho. Eu acredito que, se ficarmos trabalhando em tudo o que aparece, tentando abraçar tudo, é capaz que criemos uma torre de babel e assim percamos a energia, perdemos a essência, perdemos o caminho e, no final, o que seria algo para transformar se transformara numa grande confusão.

Gravar um Cd de estúdio, agora, seria algo que demandaria tempo e grana, e como todos sabem, grana é algo que não dispomos. Tudo que adquirimos através dos shows foi reinvestido no projeto, com pagamento de músicos, locação de equipamentos e espaços. Não toquei em um centavo a não ser para investir na divulgação e venda do “Caminhos Abertos”.

Estamos agora divulgando este novo projeto que é o livro “O Verdadeiro Paraíso”, que foi uma ideia e uma proposta que surgiu em dezembro de 2010. O livro ganhou vida a partir do interesse de Corinne Nüscheler nossa Diretora Executiva (Suíça), da competência da escritora brasileira, Renata Rimet (Coordenação e Concepção do projeto e revisão do livro), além de Mara Nüscheler, na edição e escolha dos trabalhos que serão publicados. “O verdadeiro Paraíso” é um livro multifacetado com contos, poemas, pensamentos, frases e letras de musicas, que traz a minha sensibilidade e olhar sobre a natureza feminina, sua beleza e particularidades. Foram trabalhos reunidos com muito cuidado e carinho para que este olhar possa transformar homens e mulheres. Pretendo atrelar lançamento de livro e show “Caminhos Abertos” Acústico: logo após a sessão de autógrafos, apresentarei trabalhos autorais e o melhor da MPB, ao estilo um banquinho e dois violões, percussão e efeitos.

JV: Onde será lançado o livro “O Verdadeiro Paraíso” e quais as espectativas?

CV: O livro tem previsão de lançamento em março/abril de 2011. Deverá ser lançado aqui na Salvador, na Academia de Cultura da Bahia e no projeto Fala Escritor na Livraria Saraiva do Shopping Salvador.

Estamos aguardando a proposta enviada a Portugal através da nossa agente naquele país a escritora Arlete Piedade. A intenção é fazer lançamentos em Zurich e Berna – Suíça.

Gostaríamos muito de fazer o lançamento em outras cidades e outros estados, mas não temos, por hora, recursos e nem parceiros que possam patrocinar/apoiar o nosso projeto. Aproveito este espaço para dizer que se algum grande empresário ou gestor de cultura e arte quiser nos ajudar a levar este projeto para sua cidade, seu estado, seu país, que entre em contato com a nossa produção. Quanto às expectativas são as melhores possíveis, pois o livro traz uma serie de surpresas, não só no seu conteúdo autoral, mas nas participações mais que especiais que deixarei para que seja surpresa. Fiquei muito orgulhoso em ter figuras importantes na Literatura no Brasil e no Exterior assinando as Orelhas, Contra-Capa e Prefaciando este trabalho.

Comprem! Vocês vão se surpreender.

VJ: Muitos artistas emergentes e que também têm o pé na estrada há tempos como você, reclamam de não terem verbas e nem espaço na mídia. Você acha que isso vai mudar um dia?

Cv: Acredito que sim, quando cultura e arte forem vistas não como moeda de troca e sim como uma poderosa ferramenta de transformação social, quando o Brasil fizer um grande e verdadeiro pacto para isso, através de projetos não eleitoreiros, por uma educação de qualidade, em que o ensino das artes seja levado a sério.

Eu sonho com um país onde a Literatura tenha o seu espaço, o Teatro, a Música, as Artes Plásticas tenham o devido destaque. E tudo isso passa pela Educação. Esta é a receita, levar às crianças um novo conceito de arte e cultura, formar plateias e leitores conscientes.

Acredito que este deva ser o papel dos educadores e dos fazedores de artes: levar a arte para as escolas através de projetos, feiras etc. A eleição de uma Mulher para a Presidência da Republica passou por este processo: o da mudança na concepção machista de que “Lugar da Mulher era na cozinha”. Isso veio por uma mudança cultural e esta mudança está ligada a uma melhoria mínima na educação do nosso povo. Está ligada, também, a uma nova visão cultural em que a mulher representa, de fato, o que é e deve ser: a dona do poder.

É um grande avanço a mulher no poder, observando pelo ponto de vista de que até bem pouco tempo a mulher divorciada era vista como uma ofensa aos bons costumes e a família. Eu não reclamo de nada graças a Deus. Acho que reclamar é gastar energias, sempre tive os pés no chão e sempre busquei, através de parcerias e apoios, realizar os meus projetos.

Sempre trabalhei com recursos limitadíssimos, por um lado isso foi muito bom, trabalhar no limite extremo de tudo (Grana, Espaços, Equipamentos), me motivou a criar e poder mostrar a todos que podemos ser capazes de realizar um bom projeto mesmo sem condições favoráveis. E assim o fizemos, você e todos que foram ao encerramento do “Caminhos Abertos” no Teatro Gamboa, aqui em Salvador, puderam ver a qualidade das apresentações. Foram dois dias de shows em que a qualidade técnica (Cenários, Direção, Iluminação e Produção e Músicos) não deixaram nada a dever às apresentações de Artistas notórios que recebem apoio da esfera pública e de empresas privadas.

Mesmo não sendo amigo do Rei, sempre consegui fazer - e bem feito – aquilo que me propus fazer. Sou um vencedor, pois acredito que nasci para isso: Vencer!

VJ: Visito sempre que posso seus espaços na Web, onde encontro um público feminino fiel e que tem por você, além de respeito, uma grande admiração. Este livro foi especialmente para este público?

CV: Este livro foi uma resposta para este público que ansiava por ter o nosso trabalho publicado. Há tempos que venho aguardando este momento para presenteá-lo com este livro. Recebo e-mails carinhosos tipo, “Quero te ter na minha cabeceira” (Risos) e pedidos para que eu transformasse os meus trabalhos em algo que elas e eles pudessem ter guardado e também dar de presente a quem ama. Em suma, a ideia central do livro já é uma homenagem.

Presenteio também este público no Cd “Caminhos Abertos” com canções a exemplo de “Minhas Mulheres” e outras.

VJ: Já vi comentários carinhosos e até apaixonados de mulheres na própria internet, de que você segue uma linha Buarquiana em seus trabalhos musicais e críticas tipo “imitador de Chico”, como você vê estes comentários e críticas?

CV: Quanto aos comentários e comparações isso me deixa muito feliz e honrado. Até de que sou imitador barato de Chico Buarque mostra que tenho bom gosto. Ser comparado a ele tanto pelas pessoas que escutam e se identificam com o nosso trabalho, quanto pelos “*Críticos” é o Maximo. As paixões e o assédio é normal, a inveja também. O artista encanta mas não é encantado, ele tem problemas e sentimentos iguais aos seus fãs. Tenho isso bem fixado em minha mente, por isso tenho uma relação tão legal com o meu público. Não vejo que o meu trabalho seja uma imitação, sou fã do Chico. Ele e muitos outros grandes compositores da MPB fazem parte da minha formação como pessoa e como compositor. É claro que pode ter um ou outro trabalho que possa lembrar este ou aquele compositor, pois tenho como objeto de estudo e admiração a obra dos grandes mestres, o estranho seria não ter influências deles no meu trabalho.

Sinto que há um quê de marido enciumado nestes Scraps e comentários na Web. Aprendi com a vida que criticar faz parte da natureza humana. Quando critico ou comento sobre algo, eu tento apontar um caminho ou busco uma resposta para o que eu não compreendi. Alguns “Críticos” costumam acreditar que entendem de tudo. E criticar Energias – é assim que vejo a criação -, é uma tarefa extremamente difícil, só quem as sente (As Energias) pode imaginar a sua complexidade. E mesmo assim nada sabe apenas observa e aprende com o que vê e sente. Sempre irá existir a turma do “Vamos criticar, eu quero é aparecer”, e assim tentam desconstruir as pessoas e suas obras, e esta prática de criticar por criticar, mostra o quanto é vazio de conteúdo o trabalho de alguns “Criticos”. Grandes nomes das artes já sofreram o inferno com comparações maldosas e o céu, com comparações boas. Eu não serei o último e nem o primeiro, trabalho estas energias reciclando-as e transformando-as em novos trabalhos.

JV: Tive a alegria de saber que você foi eleito para uma cadeira na ACB - Academia de Cultura da Bahia, o que isso significa para você?

CV: Significa que tenho que continuar trabalhando muito, significa que tudo isso é consequência de tudo que fiz na vida como pessoa, ativista cultural, artista. E que não há reconhecimento maior que aquele vindo dos seus pares, pois estes também têm histórias e estradas. Ser indicado e eleito por eles é a prova de que você veio para este plano com uma missão e que ela, aos poucos, está sendo cumprida e que este é o caminho, o respeito e o trabalho.

Significa, também, que sem o reconhecimento do seu público isso não seria possível, pois é a partir dele que tudo começa e termina. Estas pessoas são co-autoras da sua obra, da sua história; elas são as responsáveis pelos caminhos que sua obra percorre e esta troca é a magia de tudo.

VJ: Você se denomina sempre um Ativista Cultural e suas ações comprovam isso. Você acha que na Academia encontrará espaço para ampliar suas ações?

CV: A história de luta e vida do Sr. Presidente da Academia, Benjamin Batista, por si só, responde esta pergunta. Benjamin é um abnegado sacerdote na luta pela criação de espaços democráticos para o debate salutar das artes e da cultura. O Dr. Benjamin Batista tem no seu histórico de vida esta marca: a de disseminar a Cultura, assim como você Valdeck, com seus projetos literários que trouxe à luz grandes expoentes da literatura do Brasil e diversos outros países. Portanto este é o espaço, para que possamos conscientizar os nossos pares de que tudo é possível, e que podemos transformar. Basta querer e a partir desta conscientização poderemos transformar e conscientizar a sociedade como um todo.

VJ: E como fazer isso?

CV: Através da troca, esta é a formula. Pertencer a ACB - Academia de Cultura da Bahia, não só me honra como também honra a todos aqueles que acreditaram e acreditam no nosso trabalho, nos oportuniza enriquecer o nosso conhecimento através da troca, pois é para isso que eu acredito que estes espaços devam existir, para o compartilhamento. E este compartilhamento deve ter um resultado na sociedade, o de torná-la melhor a cada dia. Não comungo com a ideia que muitos apregoam por aí, que devamos manter os frutos desta troca no ambiente acadêmico, no bate papo intelectual, ou nos arquivos das Universidades. A sociedade espera ser beneficiada com a transformação que esta troca propicia, e nós, formadores de opinião, devemos isso às gerações futuras, pois nada que façamos hoje é para nós e sim para eles. E as Academias, Universidades e todas as entidades da sociedade civil organizada têm este propósito: proporcionar mudanças através das experiências e experimentações. Diversos grandes problemas no nosso país e no mundo foram e são resolvidos com simples ações de entidades e pessoas, agentes anônimos de transformação que, com suas ideias, força de vontade e compartilhamento, mudaram as coisas e seu ambiente, mudaram a sua vida e a vida de muita gente. Gostaria de deixar aqui registrado que a minha indicação e eleição para ACB – Academia de Cultura da Bahia, não seria possível sem que você Valdeck, conhecedor das nossas lutas e companheiro de muitas tantas, membro daquela Casa, não tivesse feito a apresentação a ACB. Contei também com a indicação da nossa colega Poeta e agora confrade Ivone Sol; a dedicação e o empenho de Miriam Sales, a sensibilidade de todos os membros da Academia que votaram, reconhecendo que poderemos, sim, dar a nossa contribuição agora através da ACB, para a cultura da Bahia. Sei que o que também pesou para isso foi a visão plural, democrática e sempre vanguardista do nosso Presidente Dr. Benjamin Batista, que nos deu o seu voto e nos acolheu como um Pai, um irmão mais velho, nesta casa que é a casa de todos nós, abrigo da cultura e das artes, e eterna vigilante da democratização da cultura.

JV: Vivendo fora do Brasil agora, como é o seu olhar para ele, e as saudades?

CV: Só estando fora é que podemos fazer uma reflexão sobre o nosso gigante menino, podemos entender as suas belezas e suas mazelas, a sua cultura e a sua culturalizaçao. Este menino que de 500 anos nada tem, é forte e gentil, valente como o sertanejo, hoje esbanja uma maturidade econômica no mundo, sendo hoje o preferido nos investimentos e, segundo os especialistas, e até espiritualistas, a nação do futuro. O que vejo com muito medo é que se não nos prepararmos agora para este futuro e se não assumirmos o compromisso de um grande pacto para mudar este país através da Educação, esta riqueza que está por vir será usufruída pelos imigrantes qualificados. Eles virão das nações que outrora foram grandes e que, hoje, prepararam seus filhos para as grandes oportunidades do mundo globalizado. Eles virão para manter o ciclo de eterna colonização e, se não assumirmos agora que esta possibilidade é real, nos tornaremos, mais uma vez, os explorados, transformando os nossos jovens em pobres meninos “ricos” e o nosso Brasil uma nova colônia, agora universal.

Quanto às saudades, eu tenho saudades dos amigos, da família da comida mas, não tenho saudades da Bahia.

"...Eu não tenho saudades da Bahia!

Pois não posso sentir saudades de algo que trago comigo, porque sou parte dela, nasci nela e ela está em mim.

A Bahia é estado de espírito, é espiritualidade.

Ser baiano é assim, ter algo de dendê na veia.

Ser Soteropolitano é ter algo de Mar no seu caminhar.

Ter, "Oxente" e "Retado" no linguajar, e nossas particularidades como chamar mesmo mandando ir, a exemplo do “Venha, Vá!” ou o nosso ir com pressa “Vá, Picado!”

A Bahia é Verbo, Singular e Plural

Nunca poderei ter saudades de coisas que trago na língua,

Como o gosto do Acarajé, Sarapatel e o Cravinho do Terreiro de Jesus, o Sorvete da Ribeira, a expressão “Porra Velho, Tá, Massa!”

Sábio dizer que a língua é minha pátria e minha pátria é a Bahia.

Bahia de mil imagens e 365 igrejas, baía do por do sol do Humaitá, de cair do Armazém Gerais na Maré de Março, das Escadas do Passo.

Do Caboclo e da Cabocla, da Mulher de Roxo, do Dique e do Abaeté

Baáa de Todos os Santos, Credos e Cores.

Bahia dos meu amores.

Ahhhhh! Bahiiiiiiiiaaaaaaaa..."

("Ah! Bahia", by Carlos Venttura)

JV: Depois desta declaração de Amor à nossa Bahia não tenho mais o que perguntar, e sim te desejar uma boa viagem e um breve retorno à nossa linda e bela Bahia. Sinta-se À vontade para seus comentários finais.

CV: Bem, estamos nos despedindo da boa terra na esperança de, em breve, estar de volta, com estas e outras novidades. Infelizmente já de partida e com malas prontas e, para nossa satisfação, deixando através deste bate papo, mais um registro de nossas histórias e estradas. Viajo com o espírito de quem está partindo com a certeza de levar o nosso trabalho e a nossa cultura como estandarte. Não poderia me despedir sem agradecer a todos que contribuíram para que estes projetos e acontecimentos fossem realizados, em especial a Corinne Nüscheler, Renata Rimet, Mara Nuescheler, aos confrades da ACB, pela nossa eleição com os votos de confiança e acolhida, Dr Benjamin Batista, Ivone Sol, Miriam Sales, a você Valdeck, por sempre nos dar este espaço para divulgar os nossos trabalhos, a minha família e a todos os nossos colaboradores e parceiros admiradores,“Críticos” e Fãs.

Um grande beijo.

Que a luz esteja com vocês

Contatos: producaocarlosventtura@gmail.com

Fonte: http://www.portalvilas.com.br/cultura/10045-o-imortal-carlos-ventura-da-bahia-para-o-mundo.html#addcomments

Carlos S Venttura
Enviado por Carlos S Venttura em 05/03/2011
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