Entrevista Concedida ao Jornal CINFORM-SE em janeiro-2010

Cinform: Você arriscaria cogitar o efeito que o arrastão terá na capital?

G. Aguiar: Certamente, o arrastão literário, o qual será realizado esta semana no calçadão da rua Laranjeiras liderado pelo Sr. Evando Santos será um marco na história do povo sergipano, especialmente, o aracajuano que irá receber gratuitamente livros de autores sergipanos.

Associo à cena da distribuição dos livros a distribuição do pão, da água, da comida. Pois, o Sr. Evando estará distribuindo as crianças, jovens, adultos, idosos, pobres e ricos o alimento literário, o alimento do conhecimento. E é isso, verdadeiramente, o que o sergipano necessita – a constituição do hábito de leitura, o despertar do prazer de ler e de escrever para conseguir apagar os vergonhosos índices de evasão e repetência em nossas escolas, e consequentemente mudar o panorama do desemprego, da fome, da falta de dignidade em nossa sociedade.

Cinform: Quais outros artistas estão engajados nisso?

G. Aguiar: Enviei convites para muitos amigos, artistas plásticos, escritores, jornalistas, profissionais das áreas educacional e cultural solicitando apoio na divulgação desse evento. Acredito que cada um esteja direto ou indiretamente divulgando de alguma forma.

Dentre as pessoas que mantive contato estão: Gilfrancisco (jornalista e crítico literário), Ronaldson Sousa (poeta), Gustavo Aragão (escritor), Silvane Santos (SECULT), Manoel Cerqueira (ator), Mangueira (escritor), Aglaé Fontes (Secretária de Cultura de São Cristovão), Sônia (diretora da Biblioteca Ephifânio Dórea) e outras pessoas envolvidas com a promoção e magia da leitura.

Cinform: O que poderia mudar o índice de leitura na população sergipana, o menor entre as capitais? Que projetos você conhece com esse mote?

G. Aguiar: Embora sejam desenvolvidos em âmbito nacional excelentes trabalhos de incentivo à leitura como: Leia Brasil, Projeto Baú de Leitura, o PROLER, a iniciativa exemplar de um sergipano chamado Evando Santos, o Homem-livro que já implantou mais ou menos 40 bibliotecas em todo o país e inúmeras ações desencadeadas por escolas e outras segmentos sociais sensíveis à causa, é necessário a implantação de programas e projetos por parte dos governos federal, estadual e municipal, que garantam suas implementações.

Pois, ultimamente em nosso país, a temática “LEITURA” tem sido alvo de seminários, conferências, propagandas governamentais, teses de mestrado, doutorado, dentre outras atividades que se efetivam por aí. No entanto, a efetivação de políticas públicas de incentivo à leitura com bases sólidas, que almejem verdadeiramente uma sociedade leitora, culta, crítica e atuante caminha a passos lentos.

De um modo geral, nos deparamos com algumas ações fragmentadas com intencionalidades retardatárias, ou seja, chegam os livros na escola, mas falta o espaço físico; é construído o espaço físico, mas falta o profissional adequado para atender aos alunos. Sem contar que não há abertura de vagas para o cargo de bibliotecário nem mesmo em grandes bibliotecas, quanto mais nas escolas públicas.

Nesse contexto, o caminho a ser percorrido em busca de uma sociedade leitora é muito árduo. Pois para alcançá-la faz-se necessário não apenas a distribuição de livros de literatura nas escolas, mas também, a garantia do espaço de leitura, bem como o profissional habilitado nessa área para fazer a dinamização ou mediação da leitura.

Outro aspecto indispensável nesse processo é a formação continuada tanto para o professor como para o bibliotecário. A formação continuada é a força motriz responsável pela renovação do sistema cíclico das práticas de leitura e formação de leitores, seja em Sergipe ou em qualquer outro estado do país.

A proposta mais lúcida que qualquer educador pode sugerir para elevar os índices de leitura em Sergipe é o fortalecimento e garantia financeira das ações de leitura existentes no estado (que não são poucas), bem como promover parcerias e estabelecer a articulação entre redes de ensino, secretarias e departamentos governamentais. Dessa forma, evita-se a duplicidade de ações e a falta de continuidade das mesmas.

Cinform: Onde você ensina e para alunos de que faixa etária?

G. Aguiar: Atualmente coordeno o Projeto de Leitura Descobrindo Autores Sergipanos, no Departamento de Educação da Secretaria de Estado da Educação. Este projeto tem o objetivo de promover o acesso à literatura infantojuvenil sergipana nas escolas do ensino fundamental da rede estadual. Ele é desenvolvido através de palestras e oficinas pedagógicas de leitura e produção de textos com os professores das séries iniciais e finais do ensino fundamental.

Entretanto, já lecionei muito nas escolas da rede estadual de ensino, especialmente, alfabetizando crianças. Este fato contribuiu bastante com meu trabalho literário, pois ao lado da criança vivenciei ricas experiências de leitura e produção de textos. Vejo essa experiência como o sustentáculo do meu trabalho como escritora.

Em cada escola que passei, desenvolvi um projeto de leitura. Todos apresentaram bons resultados porque foram planejados com a participação do aluno, apoio dos gestores e em parceria com outros professores. Agregar parceiros em prol de uma grande causa foi e sempre será a chave da vitória de qualquer luta.

G Aguiar
Enviado por G Aguiar em 18/11/2010
Reeditado em 18/11/2010
Código do texto: T2621817
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