A MELHOR IDADE NA INTERNET

Recebo, com imensa alegria, a mensagem abaixo, e de pronto, passo a respondê-la. Seguem os meus votos de agradecimento e apreço à missivista. Espero que, com as informações que ora seguem, possa satisfazer o seu pedido.

“Bom dia, Joaquim Moncks:

Obrigada! Sou de Brasília, sim. Moro em Sobradinho, cidade satélite de Brasília. Estudo no Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB. Estou cursando o último semestre de jornalismo. Como disse no e-mail anterior, estou fazendo uma grande reportagem impressa sobre a terceira idade na internet.

Abaixo seguem algumas perguntas.

Obrigada pela ajuda!

Abraços,

Luiza Galvão dos Santos – fone (61) 7812.7443.

lulugsantos@gmail.com

Em 28Set2010, por e-mail.”.

ENTREVISTA:

Nome: Joaquim Moncks

Idade: 65 anos

Profissão: Oficial PM na reserva; advogado; poeta; crítico literário; ensaísta; palestrante sobre temas literários; ativista cultural e oficineiro de Poesia.

1- Por que o senhor resolveu aprender a usar a internet?

Por estar no mundo e não querer perder o trem da história. Não tenho vocação jurássica...

2- O que te encanta na internet?

A facilidade e a rapidez com que se processam os contatos humanos e a velocidade de acesso aos tópicos de informação e lazer.

3- O que irrita?

A demora no acesso, os humores da máquina e da própria net. Também os altos custos de utilização da net e alguns incompetentes e desleixados provedores.

4- Se relaciona freqüentemente com alguém pela internet?

Sim, com cerca de quinhentas pessoas, usualmente.

5- Reencontrou algum amigo com quem não tinha contato há anos?

Sim, vários. Até redescobri alguns familiares desgarrados do contexto familial.

6- O que este aprendizado mudou em sua vida?

Permitiu que, nas várias atividades que exerço e já exerci, viesse a ter uma nova concepção formal, principalmente no tocante à criação de poemas e prosas, nos cânones da estética contemporânea.

7- Por que o senhor resolveu fazer um Orkut?

Porque necessitava cultivar a plantinha Amizade e, também, utilizar o espaço internético para apresentar aos orkutianos algumas facetas do meu pensamento e de minha criação em prosa, verso e análise literária.

8- Qual sua opinião a respeito dessa rede social?

O Orkut desempenha, hoje, um importante papel na vida das pessoas e, em particular, na minha. Há “amigos virtuais” que se tornam mais presentes, úteis e indispensáveis na vida social que alguns ‘omissos’ do mundo real. A virtualidade é um fato inconteste, o amigo virtual se diz presente e fala com desenvoltura sobre alguns assuntos que dificilmente abordaria pessoalmente, principalmente por falta de tempo e a insegurança das ruas para encontros presenciais. Atualmente, a rigor, não há diferença entre “amigos virtuais” e “amigos reais”. Esse diferencial inexiste, o que realmente existe é o ser ou não ser AMIGO. Acresça-se que até “Deus é um exemplar virtual”, abordei ironicamente, num texto recente...

9- Desde quando o senhor posta seus textos na internet?

Utilizo a informática desde 2002, porém, somente a partir de junho de 2005, passei a postar na Grande Rede. Comecei no Recanto das Letras – site para Escritores, e hoje tenho nele mais de 1.500 trabalhos publicados – em prosa e verso, com mais de 400.000 acessos (leituras), com uma média de 270 acessos por texto publicado, somente nesse site. A existência de um arquivo de textos fora do meu computador (PC) dá certa segurança de que o que venho escrevendo está sendo arquivado organizadamente, e corre menor risco de extravio. Acresça-se o principal: o produto intelectual está ali, posto à disposição dos interessados para vir a ser lido, fruído.

10- A internet ajudou o senhor a aperfeiçoar seus textos?

Sim, efetivamente ajudou em muito, pela exposição do texto no monitor, claro, limpo, ao alcance dos olhos e a facilidade de operacionalização da máquina. Adquiri novos critérios estéticos que, antes, só se poderia contemplar e fruir à hora da publicação impressa, e nem sempre ficava do agrado do autor. No PC, as palavras brincam e viajam segundo o gosto e humores da virtualidade, com um simples clicar do operador, que funciona como um moderador estético.

11- Qual sua opinião sobre a internet?

O mais importante instrumento contemporâneo da criação e comunicação humanas. De perspectivas ainda impensáveis e, aparentemente ilimitadas, além de energia limpa e ergonômica para o usuário e utilizadores do mesmo ambiente de trabalho. Acho que até o livro impresso está com os dias contados e surgirá uma nova apresentação para o usual arquivo do conhecimento, se bem que o e-book parece que não recebeu a aceitação e utilização esperadas. Enfim, não colou...

12- O senhor é Oficial PM, na reserva, advogado, professor, ativista cultural, agente literário, poeta. Como foi sua transição, nessas profissões, para o mundo virtual?

Qual a importância da internet nesses meios? Demorei um pouco para aceitar a novidade, com medo de que viesse a prejudicar a minha criação artística e profissional e o meu lazer fora de casa, visto a ‘fissuração do novo’, que sempre acomete os noviços e que os pode enfeitiçar ao ponto de “roubá-los” do plano da realidade fática. Tendo sido deputado constituinte no RS, em 1987/88, e legislador ordinário em 89/90, contratei um jovem de 18 anos para operar o computador do gabinete durante todo esse tempo, o qual somente coletava dados cadastrais do eleitorado que nos visitava e registrava o que o levara ao gabinete parlamentar. Enfim, o acervo servia para arquivar informações necessárias ao futuro período de campanha eleitoral. Nem estatísticas fazíamos... O chefe de gabinete usava uma máquina de datilografia manual e a secretária, uma IBM elétrica de última geração... Eu não tinha noção da real capacidade da informática e sofri o atraso de cerca de quinze anos para vir a atuar cotidianamente na área, com a utilização da net. Porém, não me arrependo da perda desse lapso temporal, porque amadureci a vontade de lidar com o novo e aprendi com calma e gosto a tecnologia vigente.

13- O senhor tem algum poema relacionado à internet?

Sim. A poeticidade exige a sensibilização dos mecanismos sensoriais e intelectivos do criador, a ponto de impressioná-lo com fortes elementos plásticos do plano fático ou idealizados, fantasiosos, que se materializam na escritura. Talvez porque computação e internet sejam ferramentais sem alma e toque humanos, não consomem o lirismo ao ponto de se tornarem “pessoalizadas”, com apreciável história para a criação poética. O que se configura é o operacional, aparecendo, rarefeito, o personagem lúdico:

– Do livro O POÇO DAS ALMAS. Pelotas: Editora da Universidade Federal, 2000, p. 83. http://www.recantodasletras.com.br/poesias/1180244

CONFISSÃO

A poesia é um suspiro sem destino.

Decodifico a vida em poemas.

Ante o computador e a net,

resmungo liberdades,

mas convivo, prisioneiro.

Liberdade, viola de prata,

tão pesada, que nem toca.

– Para o livro inédito O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2010/12.

http://www.recantodasletras.com.br/entrevistas/2528917