Selmo Vasconcellos do Jornal "O Rebate" de Porto Velho/RO - Entrevista Luciana Tannus
SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever?
LUCIANA TANNUS - Atualmente tenho me dedicado ao estudo e nas horas vagas às minhas leituras e escritas. Exerço o que necessito e necessito do que exerço.
SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário?
LUCIANA TANNUS - Eu sempre gostei muito de ler e escrever. Adorava ler contos, crônicas, poesias... Eu me lembro de ler muito Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Marcus Rangel Porto, escritor, cronista, compositor e radialista. A primeira crônica que li dele foi a “Velha contrabandista”, fantástica. Lia também muitos contos de Luiz Vilela, um livro de que não me esqueço: “Tarde da Noite”. Quanto à poesia, em especial pelos dias de hoje: “Precisa-se de um amigo” do meu queridinho mineiro “Carlos Drummond de Andrade”, “Meus oito anos” de Casimiro de Abreu, nostalgicamente instigante e proposital.
Sempre estive em contato com a arte e a literatura, de certo modo. Em Belo Horizonte, fiz teatro em várias escolas públicas em que estudei. É uma pena não existir mais o teatro nas escolas de hoje.
Não posso deixar de citar aqui também, a questão da gene que muito propiciou essa afinidade com o mundo literário, pois o meu avô fora um grande amante da literatura e da arte.
SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País?
LUCIANA TANNUS - Ah!!! Não sou uma escritora, ainda, que tenha livros publicados. Mas tenho uma participação especial na Antologia Poética: Nós da Poesia, editada pela All Print (SP) e lançada na Bienal Internacional do Livro em 11 de setembro de 2009.
Participo também na Antologia Plêiade, de Carlos Conrado, Aracaju/SE e em Novos Talentos da Literatura Brasileira, Autores Contemporâneos.
Admito que o mercado editorial, ainda, é muito fechado para novos escritores, mas acredito que esse comportamento tem mudado, muito timidamente, mas tem mudado. Em contrapartida, temos este mundo maravilhoso da internet que, num piscar de teclas, (rsrsr), o nosso trabalho tem viajado o mundo em tempo real.
SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir literatura?
LUCIANA TANNUS - Pode ser até ser engraçado eu falar que o sofrimento faz do ser humano em geral, um poeta. Pois, até àquele indivíduo que nunca teve uma intimidade com um lápis e um papel até então, no sofrimento, ele expõe o que lhe dói à alma.
Poesia é para todos, de alguma forma você faz poesia sem perceber que está fazendo. Mas há quem dê à poesia um toque especial, por isso ela se diferencia da generalidade.
Acho que o sofrimento propicia essa atmosfera ideal para se fazer literatura, porque é o momento em que você veste a sua obra de corpo e alma, através de angústias, desejos, impotência, tristezas, desilusões... A dor consegue transmitir vida à sua obra, pode transparecer incoerência, mas é verdade. Veja uma mulher dando à luz ao seu filho, é um misto de dor e felicidade. Felicidade pela sua obra e dor pelo processo, pela criação. É assim que vejo a dor, enquanto fator preponderante à realização de minha poesia.
Não que eu não consiga criar quando não estou sofrendo por algum motivo, o que quero dizer é que eu escrevo e crio melhor nessas condições. Fora isso, versifico.
SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?
LUCIANA TANNUS - Acho que antecipei alguns em pergunta anterior, mas existem outros de que gosto muito:
“Graciliano Ramos” - Eu tive a oportunidade de fazer um trabalho enriquecedor sobre “Vidas Secas” na faculdade e esse livro me marcou muito, na época, em virtude da situação crítica dos personagens imposta pelo meio ambiente em que viviam e o modo como Graciliano Ramos incorporou, tão bem, esses personagens. É um livro que retrata até hoje a realidade de nosso país por meio da injustiça social, da fome, da desigualdade e da miséria.
“Guimarães Rosa” de O Grande Sertão: Veredas. O inovador de nossa Língua Portuguesa.
“Fernando Pessoa” com os seus heterônimos, fantástico! Era um homem enigmático.
“Cecília Meireles”, mulher realista, mas também de sonhos.
São muitos os escritores que admiro, daria uma lista enorme se, aqui, citados. Falei desses escritores mais antigos porque eles marcaram muito a minha infância.
Contemporâneos, eu posso citar Clevane Pessoa, por quem tenho uma admiração muito grande. É uma escritora de muita sensibilidade e veia artística admirável. Lê tudo, versa sobre tudo, é uma profunda conhecedora do ser humano, a maior e mais complexa obra de arte que Deus criou.
E outro que acho que tem um potencial incrível e uma visão esclarecedora sobre artes plásticas, literatura e cinema e que conheci há pouco tempo, Luciano Trigo.
SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos escritores?
LUCIANA TANNUS - Não há uma fórmula mágica para escrever, a não ser, ler. Leiam muito, leiam sobre tudo, sejam críticos, e nunca deixem que outros menosprezem a sua criação. Existem (enes) escritores, alguns são famosos, reconhecidos, outros nem tanto, e ainda, outros que vivem no anonimato, mas cada qual tem o seu valor. Trocando em miúdos e fazendo um trocadilho: Escrever é preciso, aperfeiçoar é necessário.