Entrevista com um grupo de crianças alfabetizadas
Em uma festinha de entrega do primeiro livro de historinhas a uma das turmas recém-alfabetizadas, um repórter - professor, responsável por uma coluna infantil de um jornal de uma pequena cidade, promoveu uma entrevista para fazer o sorteio de uma "Coleção de Monteiro Lobato".
A fim de envolver e despertar na gurizada o prazer de ler, um cenário especial foi montado cuidadosamente bem colorido para a apresentação dos personagens de um dos títulos mais conhecidos do autor: CHAPEUZINHO VERMELHO.
No decorrer da festa, aproveitando a descontração da criançada, o reporte resolve dar início a entrevista:
_ A festa está ótima, vocês estão gostando?
TODOS _ Simmmmmmmm...
Uma aluninha levantou-se e perguntou: se o senhor diz que está ótima, porque parou?
REPÓRTER _ quero conversar com vocês. Agora que já sabem LER - peçam ao papai e a mamãe para LER com vocês e acompanhá-los em feiras de livros e bibliotecas. “LER faz a gente ficar mais inteligente e escrever melhor”.
_ Bem, vamos retornar a nossa entrevista. Farei uma pergunta e quero que todos respondam. A professora distribuirá papel e lápis. Entenderam?
TODOS _ Simmmmmmm...
REPÓRTER _ Vamos lá, prestem atenção: um... dois... três... lá vai à pergunta - o que você quer ser quando crescer?
Para surpresa do “staff” da escola e, principalmente do repórter, de imediato, todos devolveram os papéis: alguns responderam - “não sei” e a maioria “nada escreveu”. Assim sendo, o sorteio foi prorrogado por um prazo de 15 dias a fim de que as crianças buscassem ajuda com os pais e retornassem. Para facilitar, a professora da turma exemplificou: “vocês podem escrever - PROFESSORA, CANTORA, DONA DE CASA, MÉDICA e muitos outros nomes de profissões”.
Atingido o prazo, outro sorteio foi organizado, mas desta vez, sem apresentação alguma para motivar as crianças. O repórter foi logo formulando a mesma pergunta: “o que você quer ser quando crescer”? As respostas foram unânimes - (ainda não sei, sou criança...), a exceção da mesma aluninha que anteriormente interpelou ao repórter o porquê de ter parado a apresentação da peça CHAPEUZINHO VERMELHO; nada escreveu, nem tampouco devolveu papel e lápis.
Perguntada o porquê de nada responder, a explicação veio de imediato."Para responder não preciso escrever; a minha resposta é igual a dos meus amiguinhos. Mas a mamãe escreveu algo para que o senhor entenda que “criança tem que ser criança”. Ela fez, também, uns versinhos. Leia, aqui está!"
SENHOR REPÓRTER: essa é uma pergunta que todos nós quando crianças ou jovens somos cobrados a responder. Estando o senhor a promover um sorteio de obra literária com o objetivo de desenvolver o prazer de LER, desde o banco de escola, seria mais viável fazer uma pergunta pertinente ao interesse de toda criança.. Exemplo: “o que você quer ganhar?” Acredito que todas teriam a resposta na ponta da língua: brinquedos, livros de historinhas... pois, criança quer brincar, quer movimento. Ela não tem concentração para ficar trancada, principalmente, ouvindo “baboseiras” de falsos educadores.
Não sei - “sou criança”!
O que você quer ser...
quando crescer
Muitos perguntam...
ninguém sabe responder
O passado não é questionado
Nem poderia ser
Com pouca idade
Desconhece a própria identidade
Se no presente é perguntado
O que você quer ganhar?
A resposta é imediata - BRINQUEDOS!
Me solta.....me larga....me deixa brincar!