Entrevista com o poeta mineiro Leandro Landcaster
O poeta sabe fingir, mas não sabe nunca mentir.
Por Eliz Moraes
1) Vamos lá Leandro, começando por uma pergunta bem básica: por que escrever poesias?
"Escrevo poesia porque, assim como todo ser humano, preciso expressar meus sentimentos e isto vai além. Escrevo poesia porque sinto que ela trabalha e enobrece a alma do poeta,
e quero ir até o último dia da minha vida expressando e trabalhando isso, porque polir a pedra rara da vida nunca é demais. A vida nunca se satura de ser polida e ela sempre pode ficar mais brilhante do que antes."
2) Então a poesia se encarrega de polir a existência?
"Pelo menos a minha sim... é importante dizer que a poesia não tem bem nem mal, ela simplesmente é. Há quem use da poesia para escurecer e não polir, ha quem use da poesia para fazer um simples trabalho manufaturado e repetitivo. Eu não penso assim comigo, acho que a poesia tem que me explorar e me diferenciar a todo momento porque se não for assim, não completo os espaços em branco que existem."
3) Escrever é tarefa árdua, que exige incessante trabalho intelectual ou os versos fluem da alma, como muita gente acredita?
"As duas coisas. Duas coisas definem o escrever: a técnica e a sensibilidade. Um bom poeta não é aquele que usa apenas uma destas alternativas, mas o que as fazem ter uma perfeita sincronia, ou como diria Humberto Gessinger, uma Perfeita Simetria."
4) O poeta é um fingidor, como afirmava Fernando Pessoa?
"Sim... o poeta é um dos maiores fingidores de todas as épocas, séculos, de tudo, mas deve se ter em mente que é o fingimento mais sincero possível, é o fingimento positivo, que traz esperança alegria ao mundo e transforma o sangue na oitava maravilha. O poeta é um fingidor porque a dor aos seus olhos é bela, algo que ninguém mais vê."
5) Qual a relação entre um poeta e um leitor? A mais próxima ou a mais distante possível?
"Depende do poeta e depende do leitor:
*o poeta que quer por vezes parecer distante é distante
*o leitor desinteressado também, mas quando ambos estão de forma pulsante entre o texto e o olhar de interesse... aí se tornam irmãos quase de sangue."
6) De onde nascem as suas palavras, de algum objeto inspirador?
"Sim, minhas palavras nascem das minhas METADES, que não são apenas duas, mas são imensas. “Metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade". Apesar de tudo, estas metades são movidas por uma força maior, algo que dá o florescer da poesia em mim, é o que chamamos de amor, já que tudo é feito dele, até mesmo o ódio. Sim, eu e as palavras somos movidos por amor (carnal ou não). "Metade de mim é amor e a outra metade também".
7) Ser só ou só ser?
"Ser só é bem Melhor do que só ser, porque quem faz parte do "só ser " vive por viver, já quem faz parte do "ser só" é pelo menos uma pessoa por inteiro. Só mas por inteiro."
8) Jean Valjean seria um guia para o fundo da alma?
"Jean Valjean é um guia para o fundo, para o externo e para todas as outras camadas da alma existentes. Victor Hugo retratou neste personagem o peregrino dos altos e baixos caminhos da vida. Jean Valjean era mais que um Andarilho dos caminhos do mundo, da frança. Era alguém que passou pelos caminhos imateriais (bonitos ou tenebrosos) da vida real."
9) Nas palavras de Augusto dos Anjos, “o que importa a mim que a bicharia roa/todo o meu coração depois da morte...”. A morte é mesmo tão banal? Ou é apenas o fim de algo sem inicio?
"Esplêndida pergunta! Uma coisa que aprendi nesta vida é que um ciclo não tem início, ou seja, a vida não tem princípio e não estou falando de reencarnação ou algo do tipo, só estou dizendo que nossa vida faria tanto sentido de trás pra frente quanto de frente pra trás. A morte nada mais é do que mais uma fase da vida. Que importa que a bicharia roa-me se a minha alma é que vai estar presente, se é a minha alma que nunca vai apodrecer, se todos são minha alma. A Morte não é banal, é amiga do homem porque é um anjo negro que nos leva pra outro lado do mundo, nós humanos é que temos a mania de associá-la ás tragédias, sendo assim ela não tem culpa, a culpa, o sangue está nas mãos do próprio homem."
Leandro Landcaster é o pseudônimo usado pelo poeta Leandro Lourenço de Almeida, mineiro natural de Varginha. Suas poesias possuem um leve e incrível toque de misticismo associado a termos químicos e biológicos, assim como o poeta Augusto dos Anjos.