ENTREVISTA: JOSÉ OUVERNEY UM DOS EXPOENTES DA UBT(UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES)

Venho aqui publicar a entrevista concedida por José Ouverney que é hoje um dos melhores trovadores de nosso país, aliás, um icone de nossa cultura apesar do próprio se achar um simples escritor de trovas, mas vale lembrar que admiro-o porque ele sabe trabalhar esta arte com extrema exatidão e concisamente traz a pura essência desse gênero abstraindo sentimentos e sensações que ainda não se pode descrever, veja o que ele disse nessa entrevista:

1. Quando começou a escrever trovas?

Escrevo desde 1969 mas não tinha conhecimento da existência de um movimento organizado no Brasil. Da mesma forma acredito que muitos, ainda hoje, estejam nessa situação que ocorreu comigo.

2. Qual sua primeira musa poética?

Foi uma vizinha, de olhos verdes e cabelos negros, quando eu anos. O que chamamos de "amor platônico"!

3. Como vê a trova hoje na literatura?

É o único gênero de poesia com movimento organizado, tem uma diretoria nacional: a União Brasileira de Trovadores, e diretorias estaduais e municipais em muitos pontos do Brasil. Ela cresceu muito, embora a mídia não costume abrir quase que espaço nenhum não só para a trova mas a poesia em geral.

4. Quais influências recebeu nesse gênero?

Mesmo antes de participar, eu sempre tive muitas trovas copiadas em meus cadernos antigos, de autores que eu não sabia quem eram mas os admirava. Coincidentemente, os autores ainda vivos, vim a conhecê-los quase todos.

5. Quais temas são seus preferidos para discorrer em seus trabalhos?

O trovador faz prevalecer o lirismo em seu trabalho, e eu não fujo à regra. Mas além das filosóficas, gosto muito das chamadas "trovas de ocasião", ironizando alguma situação de momento, seja ela política ou esportiva ou o que calhar.

6. Tem algum tema que não te agrada na hora de fazer trovas?

Os temas muito comuns estão por demais explorados. Prefiro fugir um pouquinho do trivial, porque nos maior margem para criar.

7. Quais as melhores horas para se escrever? E Porque?

É difícil definir. Costumo dizer que tenho dois "anjinhos" que sopram em meu ouvido os versos: um no meio da noite e outro logo de manhã. O da noite, quando recebo as idéias acho-as ótimas; quando vou conferi-las no outro dia, descarto-as todas. O que me visita logo de manhã me traz idéias consistentes. Geralmente é a esse que eu me apego.

8. Já teve alguma dificuldade em expor sua idéia em algum trabalho? houve alguém que o criticasse pesada e tacitamente ao mesmo tempo?

A trova geralmente fala de amor, evoca os sentimentos da alma, exalta a natureza. Só seremos criticados se o trabalho for de má qualidade. rsrs.

9. Como você se descreve como trovador?

Não costuma ser boa política falarmos de nós. Prefiro mostrar meus trabalhos e deixar que opinem.

10. Tem quantos títulos em concursos da UBT?

Participo ativamente em concursos há oito anos e estou me aproximando das duzentas premiações.

11. Como se integrou a esta entidade literária?

Em Pindamonhangaba, minha cidade natal, existe a seção municipal da União Brasileira de Trovadores e, além disso, meu irmão já participa do movimento há mais tempo. Foi apenas uma questão de eu me aproximar. Que fique claro: componho poemas desde os nove anos de idade; a trova é que chegou depois.

12. Quais os principais fatos que marcaram sua trajetória profissional?

Literariamente não sou profissional, escrevo por lazer. Tanto que meus livros editados, 95% deles são doados. Mas é evidente que há muitas passagens emocionantes. Acho que a mais importante delas foi um título de "Cidadão Honorário" que me foi outorgado no município de Jambeiro em 2004, por quatro anos de trabalhos gratuitos prestados à cultura local, promovendo concursos regionais e nacionais, além de introduzir a trova nas escolas com grande sucesso.

13. Tem alguma mania em sua literatura que você queria mudar e não consegue?

Não. Simplesmente porque eu não escrevo a chamada "literatura de conveniência"; escrevo apenas o que gosto e que me faz sentir bem.

14. Se acha no auge de sua inspiração atualmente?

Não. Acho que cada período nos traz situações novas. Vamos nos reciclando. De repente leio algo que escrevi há vinte anos atrás e penso: "acho que hoje eu não teria sido capaz de escrever algo tão legal!" Como também, daqui a vinte anos poderei ler o que escrevo hoje e pensar a mesma coisa. O que vai enriquecendo o nosso currículo ( e disso não podemos abrir mão) é a experiência.

15. Quais seu ídolos na UBT?

Seja como poetas/trovadores ou como seres humanos, há muita gente que eu poderia citar na UBT mas destacarei, do Rio de Janeiro, Waldir Neves e Edmar Japiassú Maia; do Paraná, o A.A. de Assis, de Maringá e ainda o Orlando Brito, de São Luis-Maranhão, além da Selma Patti Spinelli, de São Paulo.

16. Revela algum traço hermético nos léxicos que descreve em cada trabalho ou caminha numa trova menos filosófica em palavras e mais rica em sentimento?

A trova tem por princípio ser a poesia que vai diretamente ao coração do povo; se as complicarmos muito deixa de ser trova. Mas, independente disso, gosto da trova bem elaborada, com técnica, que seja, ao mesmo tempo, clara e profunda.

17. Quantas vezes você já se emocionou ao ver um trabalho publicado de sua autoria?

Várias vezes. A emoção é sempre nova. Mas o dia, por exemplo, em que vi quase uma página de matéria em um jornal de Belém, Pará, com foto, redigida por nada mais nada menos que o "Príncipe dos Poetas do Pará", o acadêmico Alonso Rocha, o coração bateu um pouquinho mais forte, não nego. E lançamento de livro próprio também é muito especial na vida de qualquer amante de literatura.

18. Tem algo que você faria para colocar seus trabalhos na posteridade?

Nunca me ocorreu. Eu apenas escrevo, sem qualquer preocupação.

19. Quais planos para o futuro?

Como lhe disse, sou meio desligado em relação a futuro. Vou apenas de presente, porém, com muito otimismo. À medida em que vislumbro possibilidades procuro contribuir, trabalhando pela difusão da trova , seja através de site ou pelo orkut, ou por jornais e rádios.

20. Qual a sua maior ambição agora?

Seria ver não só a trova mas qualquer tipo de literatura ou de arte em geral invadindo as escolas, fazendo com que as crianças de hoje crescessem cultivando as coisas da alma, valorizando mais os bons sentimentos. Só assim voltaríamos a ter em redor de cada mesa uma verdadeira família.

21. Se vê como um dos expoentes da UBT?

Eu acho que sou mais um. E o fato de eu achar que sou mais um já faz com que eu possa me considerar um expoente. A escada perde muito, se perder um degrau.

22. Se tivesse que escrever para uma pessoa importante neste instante escreveria para quem?

Para minha mãe, minha esposa, meus filhos, meus amigos, etc. Essas sim, são pessoas importantes para mim. Os rotulados de "importantes" certamente nem responderiam, caso eu me atrevesse a escrever-lhes.

Edemilson Reis
Enviado por Edemilson Reis em 24/07/2006
Código do texto: T200834