Tchello d'Barros entrevistado pela SEB - Sociedade Escritores de Blumenau

Sociedade Escritores de Blumenau

03.10.2009 – Blumenau - SC

Tchello d’Barros é entrevistado por e-mail pela poeta Terezinha Manczak

1) Fale um pouco sobre a sua vida (onde nasceu, data de nascimento, onde estudou e em que momento de sua vida entrou em contato com a literatura/poesia/conto/crônica).

Tchello d’Barros: Nasci nos últimos dias de uma primavera de 1967na idílica Palmares, comunidade agrícola encravada no planalto catarinense, hoje é o bucólico município chamado Brunópolis. Depois de morar em mais 10 cidades, pousei em Blumenau em 1990, onde aprontei tanto quanto pude na área cultural, até que em 2004, radiquei-me no Nordeste, onde meu QG tem sido a alagoana cidade de Maceió, de onde sigo para minhas viagens pelo Brasil e pelo mundo. Por conta dessa trajetória, estudei em muitos lugares, mas nem vou citar pois não me ensinaram quase nada sobre Literatura. Em Blumenau passei um tempo no Curso de Letras, na Furb, mas não concluí por conta da mudança para Alagoas. Meu contato com a literatura foi aos 7 anos, quando, no encerramento do ano letivo declamei uma quadrinha, que meu avô me ensinou, e por ter sido o primeiro aluno da sala a aprender a ler, ganhei uma coleção de livros com os contos dos irmãos Grimm. Depois que li esses livros, nunca mais parei de ler. Comecei a publicar apenas em 1993, enviando poemas para concursos literários. De lá para cá são 6 livros solos publicados, todos de poesia, mas tenho também contos, crônicas, artigos e muitos poemas publicados em mais de 30 coletâneas e antologias, por enquanto.

2) Descreva a sua atividade literária antes da SEB (livros, exposições, artigos, declamações)

T. d’B.: Em Blumenau, minhas principais atividades foram no Teatro e nas Artes Visuais. Participei ativamente nos cursos, oficinas, festivais e peças teatrais realizadas pelo NuTE – Núcleo de Teatro e Escola, no Teatro Carlos Gomes, além de representar a cidade em diversos festivais de teatro, com os grupos em que participei. Como ator participei de uma dezena de peças e outro tanto de performances. E também na Bluap – Associação Blumenauense de Artes Plásticas, realizamos diversas exposições coletivas e projetos culturais, onde destaco o Arte na Indústria, uma mostra coletiva que itinerou pelos refeitórios das principais empresas têxteis. Nesse período iniciei também meu trabalho como curador em artes visuais, tendo realizado algumas exposições coletivas e individuais de artistas locais, nacionais e mesmo de outros países. Na literatura sempre procurei participar do que acontecia na cidade, colaborando com jornais culturais, declamações em eventos, organização de exposições de Poesia Visual, palestras e realização de oficinas literárias. Fui um dos criadores da Feira do Livro de Blumenau, que foi um sucesso, mas não passou da primeira edição por conta da miopia cultural dos políticos que depois tomaram o poder na cidade. Um projeto bacana foi o Viva Poesia, onde com o poeta Marcelo Steil, palestramos e declamamos em 40 escolas da cidade, publicando 4 livros com poemas dos alunos de ensino fundamental, resultantes de um concurso que promovemos. Na Fundação Cultural, incentivamos a criação da Editora Cultura em Movimento, e representamos SC no Congresso Brasileiro de Poesia, realizado em RS. Há muito mais, mas não é o caso aqui de cansar os leitores com relatórios. Melhor é citar Jorge Luís Borges: “Um livro é uma forma de felicidade.”

3) Como ficou o seu trabalho de escritor/poeta, depois de ingressar na SEB?

T. d’B.: Ficou menor, ao menos no aspecto quantitativo. Pois logo que fundamos a entidade, iniciamos a realização de toda uma programação cultural para aproximar a produção literária local com a comunidade regional. Isso tudo nos tomou um tempo enorme, com muito planejamento e a própria execução das ações. Mas é claro que no sentido qualitativo houve uma evolução, pois as atividades da entidade permitiam uma discussão crítica sobre a produção literária, tanto pessoal quanto coletiva. E também as oficinas literárias que promovemos trouxeram um pouco mais de conteúdo teórico e exercícios práticos para que pudéssemos ampliar os limites da Prosa e da Poesia praticada no Vale do Itajaí. E há que se mencionar também o aspecto da divulgação. As ações culturais da entidade levaram a produção escrita dos associados para diversos públicos, em inúmeros eventos, promoções e projetos culturais. E posso concluir essa dizendo que ficou mais prazeroso, digamos assim, o processo de compartilhamento da produção com os pares, pois além das sessões de declamações que criamos para vários eventos na cidade e região, criei também um sistema chamado Tertúlias Literárias, com aprazíveis encontros sempre com um anfitrião recebendo os associados para uma programação gastro-etílica-poética, onde as declamações, leituras e performances entravam noite adentro. Era como se a própria literatura promovesse esse encontro entre amantes da literatura. E não dá para não citar o Painel da Poesia Emergente, que contava com exposições de poemas na Biblioteca Municipal, e que depois mensalmente tinha exposição de textos de algum novo autor, em 6 bibliotecas e instituições culturais da região, simultaneamente.

4) Escreva algumas de suas lembranças da SEB (eventos, reuniões, viagens, homenagens, entre outros

T. d’B.: Rememoro com alegria a noite em que 16 pessoas fundaram a Sociedade Escritores de Blumenau, assinando a ata de fundação no auditório Edith Gaertner, na Fundação Cultural de Blumenau. E minha memória seletiva pede que me lembre de algumas ações criadas por mim, com o intuito de ampliar a visibilidade da produção escrita dos associados. Uma delas foi a criação do site da SEB, em cuja primeira versão constava inclusive com o relatório anual das atividades. Depois, convidei escritores de vários estados brasileiros para se associarem, visando intercâmbios, onde contamos inclusive com a participação de escritores de Portugal e Inglaterra. Coordenei duas viagens onde levamos os poetas e prosadores locais para as bienais do livro de Rio de Janeiro e de São Paulo, com a intenção de que o pessoal tivesse um contato maior com os profissionais do livro no Brasil. Tentei inclusive que a cidade de Blumenau tivesse um estande nessas bienais, divulgando seus autores, mas não obtive sucesso nisso com os gestores culturais da época. Depois criei um concurso literário que foi um sucesso, recebendo inscrições de cerca de 1.600 textos, vindos de inúmeros lugares do país e vários do exterior. Essa atividade culminou na premiação dos participantes e na publicação da coletânea Espelhos da Língua, integrando a programação do sesquicentenário da cidade. Mas uma das atividades principais foi sem dúvida a criação do Fórum Brasileiro de Literatura (inicialmente nominado de Congresso Brasileiro de Literatura) e que foi realizado pela FCB, com nossa participação na coordenação. A imagem que me vem é a reunião da SEB onde depois de aprovado pela plenária, decidimos apresentar o projeto à Fundação Cultural de Blumenau. Importante destacar que todas as ações acima mencionadas se viabilizaram pelo empenho das equipes que voluntariamente se dedicaram à realização desses projetos.

5) Como você pensa a SEB a longo prazo?

T. d’B.: Penso numa instituição com menos associados, mas com todos desempenhando uma função, alguma atividade, algo que beneficie a todos e que tenha como norte viabilizar publicamente a produção dos autores. Penso numa entidade onde será muito mais importante realizar um macro plano de ação do que a nominata das pessoas que ocupam cargos da chamada diretoria, tipo assim, não importa muito quem esteja naquele ano na diretoria, importa que cumpram metas a longo prazo, estabelecidas pelos associados. Penso numa associação de classe que se profissionalize mais na questão de direitos autorais e publicação. Penso num grupo de autores que se conscientize de seus direitos como cidadão e saiba cobrar do poder público os apoios institucionais para viabilização dos projetos da entidade, uma entidade que aprenda a captar recursos nas vias do marketing cultural e do sistema dos editais públicos. Penso num coletivo que pense grande sem ser megalomaníaco, que sonhe alto, mas dentro dos limites da ética, que transcenda fronteiras e horizontes, mas antes supere suas próprias limitações. Penso numa sociedade de amantes da literatura que estejam mais preocupados em desenvolver sua escrita qualitativamente do que em aparecer na mídia ou entrar para a história. Penso mesmo numa instituição fortalecida, onde os integrantes tenham a coragem de se posicionar e contribuir para as políticas públicas de cultura na região e no estado. Penso num pesquisador do Século XXX, que chegue a conclusão de que a cultura naquela região não teria sido a mesma coisa sem a atuação da Sociedade Escritores de Blumenau.

Tchello d Barros
Enviado por Tchello d Barros em 26/12/2009
Código do texto: T1996043
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