O exército de um homem só: em breve nos cinemas
A adaptação de uma obra literária para o cinema requer muitos e especiais cuidados. O cineasta Ricardo Zimmer sabe muito bem disso. Seu próximo filme, “O exército de um homem só”, será baseado em livro homônimo do escritor e jornalista Moacyr Scliar, que narra a saga do russo Mayer Guinzberg. Ele chegou em Porto Alegre quando criança, na década de 20, e ao longo dos anos transformou-se numa figura marcante da sociedade gaúcha, ocupando cargos expressivos como o de líder de uma comunidade utópica, a Nova Birobidjan.
Depois de concluir a fase de captação de recursos e conseguir aproximadamente R$ 10 milhões para o projeto, Zimmer finaliza uma nova versão do roteiro motivado pela difícil tarefa de simplificar uma linguagem rica em elementos do corpo humano, decorrente, é claro, da formação médica do escritor: “Um filete de sangue corria pela testa. O Capitão tocou-a com a ponta dos dedos; estava quente. Vivia, estava machucada, mas vivia”.
Embora seja complicado, deixar a história de Scliar redonda para o cinema é apenas um dos desafios de Zimmer. Até porque ele escolheu uma obra que não mostra com clareza vários elementos. Talvez aí esteja o seu charme. Livros atuais como “Rota 66”, de Caco Barcellos, e o “Xangô de Baker Street”, de Jô Soares, entregam tudo de bandeja, limitando a criatividade dos cineastas. A riqueza de detalhes dessas obras minimiza o processo criativo.
Zimmer precisou, então, ler e reler o livro para só depois escolher os atores e os cenários vividos por Mayer Guinzburg, um judeu comunista, que, pelas aventuras e loucuras descritas, pode ser comparado ao Dom Quixote. Em alguns momentos de solidão, por exemplo, ele encontra homenzinhos de quinze centímetros apresentados como o subconsciente de Mayer: “Os homenzinhos aplaudiram. Mayer tirou o casado, arregaçou as mangas. Ia começar a limpeza no local, quando bateram à porta. A princípio ele fingiu não ouvir; mas as batidas se repetiam de maneira tão frenética que ele acabou abrindo a porta”, conta o autor no livro.
Homens de quinze centímetros? Acertadamente, Zimmer fugiu à proposta do livro e não vai utilizar homenzinhos no longa. Eles serão substituídos por anões vestindo roupas medievais, tocando instrumentos musicais e conduzindo marchas revolucio-na-rias. Tudo isso para dar um tom mágico à obra.
Durante alguns ensaios, a idéia, inspirada no longa “Willow, na Terra da Magia”, de Ron Howard, mostrou-se muito eficaz e algumas cenas do encontro do personagem com os anões ganharam em importância. Se seguisse a história à risca, o diretor transformaria “O exército de um homem só” em uma animação da Disney. Rompendo-a ele agregou um diferencial ao filme.
Outra preocupação que incomodou a cabeça de Ricardo Zimmer durante muito tempo foi a escolha dos atores principais da película. Pelo que tudo indica o elenco será de peso e contará, inclusive, com a participação especial da atriz e cantora norte-americana Barbra Streisand, que atuou brilhantemente em “Funny Girl”, de 1968, e arrematou o prêmio máximo do cinema – o Oscar. Além de Barbra, o longa terá no elenco Luciano Szafir (Xuxa e os Duendes 2), José Vitor Castiel (da novela Laços de Família) e a musa Cristiana Oliveira (O gatão de meia idade).
“O Exército de Um Homem Só” ainda não foi rodado, mas tudo indica que será um grande filme. A história é boa e ousada; o diretor teve felling para propor mudanças. Quem ganha com isso é o público que certamente terá uma diversão recheada de ingredientes hollywoodianos: atores famosos, roteiro dinâmico, luz e som adequados. E o melhor de tudo - um final comovente: “Vacila, apóia-se no sofá. As luzes se acendem. É para frente que o Capitão cai. Mergulha no mar escuro”. Vamos aguardar!
Entrevista com Moacyr Scliar
Rodrigo Capella: O que um livro precisa ter para ser bom?
Moacyr Scliar: A resposta está no tripé: prazer - emoção - idéias. A leitura deve ser prazerosa, deve mobilizar emoções (inclusive a emoção estética do texto bem escrito) e assim transmitir idéias
Rodrigo Capella: A literatura brasileira está melhorando?
Moacyr Scliar: Muito. Novos valores estão surgindo, novos temas estão sendo abordados. Não há razão para pessimismo em relação a nossa literatura.
Rodrigo Capella: Como você avalia o fato de muitos escritores serem jornalistas?
Moacyr Scliar: É basicamente a atração pela palavra escrita, partilhada tanto por escritores como por jornalistas.