Elaine: Quando falamos de personalidade, sempre vamos pensar no conjunto de traços emocionais de uma pessoa, ou seja, como ela reage emocionalmente diante de situações e comportamentos. Isso tem mais a ver quando falamos em caráter, ou seja, se aquela pessoa tem um bom caráter ou um caráter ruim. É a forma como ela age diante da sociedade. No popular, é o "jeitão" da pessoa. É a maneira como ela percebe alguém e como reage em relação ao outro.

Elaine: São coisas diferentes por conceito e por evolução dos estudos da psicologia. Quando nós falamos em personalidade, cada autor da psicologia a define de uma forma.
Temperamento se dá como uma reação mais instintiva, biológica. Lá no começo deste estudo, quando pouca coisa se sabia das pessoas, começou-se a perguntar qual era a reação daquele indivíduo frente a determinadas características. Foi quando chegamos ao estudo do que é o melancólico, colérico, fleumático ou sanguíneo. Já na personalidade, você tem um conjunto mais amplo [de fatores] que fala não só do jeito da pessoa ser, mas de uma série de definições de reação, de característica e comportamento. É um conceito mais amplo do que o temperamento.

Elaine: Há traços nas pessoas que ficam mais evidentes. Um exemplo é quando falamos no colérico (vou usar a expressão do temperamento de novo), o que marca uma pessoa que tem um jeito colérico? É alguém mais enraivecido, que reage de uma forma mais agressiva. Geralmente, a isso se dá o nome de personalidade difícil. Mas é um erro de conceito mesmo, é a popularização deste termo.

Elaine: Maturidade não é um sinal apenas de amadurecimento biológico, ou seja, de quanto mais idade eu tenho ou menos. Uma personalidade madura é aquela pessoa que consegue viver os seus processos emocionais; é aquela que tem, por exemplo, respostas adequadas para um momento como o término do namoro. Há pessoas que terminam o namoro, conseguem compreender a situação e partem para um outro relacionamento. Mas outras ficam com aquele sentimento de vingança, querem tirar satisfação, pois não conseguem entender emocionalmente o fim de uma relação. Diz-se, então, que essa pessoa é imatura no ponto de vista emocional, ou seja, ela não conseguiu ainda conviver e trabalhar com toda a sua emoção. Ela não consegue, por exemplo, sofrer pressão.

Entendemos que a maturidade passa por aspectos não só físicos, mas a compreensão das vivências emocionais e sociais. Nós não podemos nos esquecer de que somos seres biopsicossocial. Eu tenho tudo aquilo que é meu biológico, psicológico e aquilo que é o meu convíveo na sociedade. Posso ser uma pessoa imatura quando, por exemplo, eu não sei me relacionar num grupo, conviver positivamente no trabalho, na escola ou no lazer.

Elaine: A nossa personalidade é formada por infinitas situações. Uma delas é a nossa estrutura familiar, o berço onde nascemos, como fomos criados e inseridos na sociedade. Então, se eu sou um pessoa muito exposta a festas e eventos, isso vai dizer se eu vou me tornar uma pessoa mais falante, com um jeito mais extrovertido. Se alguém tem uma reação de birra, com uma criança que sempre busca ser agradada, percebemos que ela é um adulto que age como uma criança, ou seja, que só fica bom quando é do jeito dela, que só fica legal quando faz do jeito que ela gosta. Isso também é um traço e um conjunto de questões que vão formar a personalidade madura.

Outra questão que contribui muito para formar a nossa personalidade é a forma de aceitação do nosso "eu". Primeiro, é preciso aceitar-me como eu sou, mas, hoje, nós temos uma exigência da sociedade de seguir o modelo que ela nos impõem. Então, a primeira coisa é nos aceitarmos do jeito que somos, perfeito ou com limitações, para que nos entendamos. Pensar também na aceitação daquilo que são nossas dificuldades. Há pessoas que não conseguem conviver com isso, o que é algo bastante complicado.

Elaine: Uma das maiores queixas, quando falamos de problemas, é quando demitimos alguém. Aquele que se desliga, geralmente, é uma pessoa que tem problemas de relacionamento; não porque ele não é bom tecnicamente ou não conhece aquilo que faz. Alguém que é imaturo pode não conseguir se fixar num relacionamento, não estabelecer um bom vínculo no seu trabalho, pode não conseguir estabelecer um destino profissional. É aquela pessoa que hoje faz culinária, amanhã faz desenho, depois ela disiste e faz administração, mas, daqui a pouco, acha melhor abrir uma barraquinha de cachorro-quente. Mas mesmo assim, ela está sempre descontente. Esses são os principais problemas que podemos ter, porque vai chegar uma hora em que os grupos vão se fechando e a pessoa vai se sentindo muito só.

Elaine: Conhecer o outro é sempre um mistério. Principalmente, observar como é a sua forma de ser responsável. Ele é uma pessoa que cumpre o que diz? É alguém que se adapta fácil às situações ou tem dificuldade de mudar? Como é o humor dessa pessoa? Ela é constante ou oscila muito? Como é o afeto dela, como ela mostra que ama? Ela é alguém mais extrovertida? O importante é percebê-la socialmente, não só com você, porque, às vezes, você comete o erro de olhar o relacionamento só “você e o outro”, porque nós não vivemos só “eu e o outros”, mas com amigos. Então, é preciso sempre ter cuidado.

Elaine: Nós podemos sempre reagir ou tomar decisões com base na razão ou na emoção. Se essa minha emoção é mal trabalhada ou mal canalizada, e eu pauto minha decisão apenas nisso, corro um grande risco de fazer algo errado. O que é importante nesse aspecto é se eu sou um ser apenas racional; e razão também é uma qualidade no ser humano. Há pessoas que são extremamente racionais, analíticas, perceptivas nesse ponto. Outras, são totalmente intuitivas. É importante observar isso, porque a razão tem uma influência, mas ela não é a única forma da nossa reação