A GUERREIRA
Dona Maria vive em Naufragados há quarenta anos. Os amigos e conhecidos a chamam de guerreira e tivemos comprovação que este rótulo se associa a personalidade marcante desta personagem.
Dona Maria faz de tudo um pouco. Duas vezes por dia ela encilha sua égua Lua e perfaz a trilha de naufragados a Caeira onde compra seus mantimentos e também negocia seus produtos. O principal deles é o pão caseiro. Dona Maria vende seu pão e sua renda de bilros e exibe um sorriso que emociona.
Vivendo em condições diria que para um século XXI não são nada convencionais. Sem energia elétrica e com agua provinda da cachoeira, dona Maria criou seus filhos e nem por um instante se mostra triste ou injuriada com sua situação.
O quintal de dona Maria é a bela praia de naufragados e os fundos é a mata onde uma trilha a conduz até a civilização.
Acompanhada por sua inseparável companheira Lua que lhe guia os passos e lhe acompanha nas suas idas e vindas.
Entramos na modesta moradia de dona Maria. Num canto esquerdo próximo a uma janela que dá vista para a trilha um fogão a lenha. Uma Chaleira chiando pronta para passar o café. O assoalho já ruído pela ação dos cupins e do tempo, a casa não possui forro e no inverno deve ser muito fria, nas paredes de madeira já sem pintura alguns poucos quadros de fotografias, uma imagem de Jesus na Cruz e um terço acompanhando a imagem. Na sala sob uma bancada e acompanhada pela poeira uma almofada onde dona Maria desenha as sua tramas e faz sua renda de bilros. Há muito pouco, diria quase nada de móveis. Suspenso na parede da sala um pequeno altar com as imagens de Nossa senhora de Aparecida, São Jorge Guerreiro acentuam a sua religiosidade e fé.
Ainda contamos com o cicerone da Ilha de Naufragados, uma cadela cor de caramelo que atende pelo nome de bebel foi nossa guia principal. Acompanhou-nos durante nossa estada à casa de dona Maria.
Fizemos uma viagem ao tempo onde as dificuldades estavam claras, porém junto às diversidades também encontramos uma paz indescritível.