Entre (vistas) e pontos de vista. Ensinantes do presente: múltiplas relações com o aprender, o ensinar e o saber
Entre (vistas) e pontos de vista
Ensinantes do presente: múltiplas relações com o aprender, o ensinar e o saber
Prezados Ensinantes do Presente:
Agradeço a Professora M.Sc. Daucy Monteiro, nossa amiga na Rede Social Ensinantes do Presente, http://ensinantesdopresente.ning.com/ , pelas questões que levantou após a leitura do artigo de minha autoria, intitulado Ensinantes do presente: múltiplas relações com o aprender, o ensinar e o saber, postado para discussão. Suas inteligentes perguntas e colocações me fizeram rever momentos de outras autorias, transformando este processo em uma possível entrevista, organizada a partir das questões colocadas e abaixo publicadas.
Daucy Monteiro
1- Até que ponto a afetividade e a amorosidade fomenta a construção da autonomia e da autoria?
R: A meu ver, quando facilita processos mais significativos para que o sujeito humano compreenda, a partir de suas visões de mundo, que os outros possuem visões de mundo também diferentes e que a riqueza maior de todo o processo é conviver com a diversidade, perceber-s diferente e saber que nesta diversidade está nossa maior riqueza.
Daucy Monteiro
2- Fomentar reconfigurações de atos e pensamentos levaria ao fomento da construção da autonomia e da autoria? Como você vê esses fomentos de forma objetiva?
R: De forma objetiva percebo esta questão como movimentos de aberturas cognitivas e emocionais que possibilitam o humano contato, capaz de lidar com o que é diferente. Nada é mais facilitador da autonomia e da autoria dos sujeitos humanos que a possibilidade do encontro efetivo e afetivo com a diferença.
Daucy Monteiro
3- Você coloca “ampliar capacidades criativas e promover a circularidade de dados e informações que facilitem o desenvolvimento do pensamento, elaborando proposições que façam a interligação entre as partes e o todo e entre o todo e as partes, numa perspectiva sistêmica.” Ampliar, promover, facilitar, elaborar, fazer, interligação, não seriam muitas ações dificultando a compreensão de quem ensina, além de amar, demonstrar afeto?
R: Sem dúvida, são muitas ações sim, mas a meu ver, estes são os desafios da Educação do Século XXI. Talvez estudarmos mais sobre Novos Paradigmas nas Ciências e Criatividade facilite aquisições para maiores competências e habilidades nossas neste sentido.
Daucy Monteiro
4- “Sujeitos aprendentes em busca de auto-organização num mundo de extrema complexidade.” Vamos refletir sobre o sujeito que aprende... ou sobre o sujeito que ensina e que deve oportunizar ao sujeito que aprende momentos (atividades) onde ele seja capaz de desenvolver sua autonomia através da autoria?
R: Aqui, repenso com meus estudos que somos todos ao mesmo tempo aprendentes e ensinantes. Alicia Fernandéz esclarece bastante sobre estas questões em seu livro “A mulher escondida na professora”, (Ed. ARTMED, p.66-75) quando nos explica suas idéias sobre dispositivos de interpretação psicopedagógica tomando por base a linha do m “mostrar-guardar”. Acredito que, com isso, nossa permanente busca deve ser pela aprendizagem saudável.
Daucy Monteiro
5- “Ampliar nosso olhar sobre estes movimentos humanos...” Quais? Qual é o seu propósito com a afirmativa?
R: Talvez uma nova releitura do trecho que segue, agora com algumas expressões por mim sublinhadas possa ampliar a compreensão desta questão:
“Tanto individualmente quanto na coletividade, enquanto sujeitos ensinantes e eternos aprendentes, será a construção de novos olhares sobre tais temas que irá favorecer posturas qualitativas de busca por atividades pró-sociais e condutas novas, que sigam as novas dimensões e tendências presentes em nosso tempo: se desejamos melhor qualidade de vida para todos é preciso, no nosso acionar cotidiano, nos dedicar a tal movimento, propondo-nos a nos tornar melhores pessoas a cada dia, seja no estabelecimento de nossas relações no mundo do trabalho, da escola, da família e da sociedade como um todo, seja com o desenvolvimento de nossas próprias personalidades, de nossas próprias biografias. (Neste último trecho está o meu propósito maior com esta afirmativa).
Daucy Monteiro
6- “Será com a necessária movimentação pela autoria de pensamento que o sujeito humano ganhará sentido para o seu acionar diário, sempre um processo de que envolve regulação, auto-regulação, adaptação e evolução.” Processo consciente? De quem ensina- todos? De quem aprende- todos? Como pensar esse ponto?
7- “Na perspectiva psicopedagógica que vivencio e defendo” Você pode contar um pouco sobre a sua perspectiva psicopedagógica?
R: Minha perspectiva psicopedagógica está focada nos processos humanos de interação e intercâmbio, onde gosto de fazer uso das metáforas como possibilidade de ampliação da capacidade de comunicar, de tornar comum dúvidas, anseios, desejos. Gosto de fazer uso de elementos advindos de campos de conhecimento plurais, tais como a Arteterapia, a Arteeducacáo, a Psicopedagogia, dos processos grupais, a estimulação aos processos de crescimento em grupo, as práticas de docência compartilhadas, estimuladoras da autoria de pensamento, enfim, um movimento desejante muito produtivo que venho compartilhando ao longo dos anos, participando como docente convidado em diversos cursos de pós-graduação em Educação e Psicopedagogia no Brasil, prestando consultorias às escolas e instituições, participando de eventos educacionais e psicopedagógicos ministrando oficinas, capacitações, palestras, conferências, escrevendo artigos, interagindo em diversas espaços virtuais, publicando meus livros, editando revistas cientificas, enfim. Talvez ainda nos falte olhar com um pouco mais de aberturas de sentidos para os estudiosos de Educação e Psicopedagogia de gerações mais recentes. Temos novos autores mostrando outras possibilidades de interpretação da complexa realidade educacional, pedagógica e psicopedagógica de nosso tempo. Insiro-me e autorizo-me a estar neste movimento, buscando participar ativamente com aquilo que posso... Sigo desejante, aprendente...
Daucy Monteiro
8:“Numa compreensão nova sobre a própria aprendizagem,” qual seria essa compreensão?
R: A de construir uma nova lógica aos viventes que interagem num mundo que, cada vez mais, estimula nossas configurações biológicas para a aprendizagem. Sim, será a lógica das configurações biológicas, aliando o inconsciente, os sistemas superiores de pensamento, com certeza de acordo com Vygotsky, mesclando com a ampla produção de significados e sentidos sobre a própria vida e seus dinamismos. Para tanto, interagir, dialogar, acoplar estruturalmente conhecimentos plurais, percebendo nossas incompletudes e buscas por melhores fazeres, melhores sentimentos, melhores ações em nossas interações com os outros. Sinto e penso que a Interdisciplinaridade é uma das nossas maiores possibilidades de compreender as potencialidades da aprendizagem, fator essencial para a emancipação humana.
Daucy Monteiro
9-Pode explicar mais um pouco a terceira travessia/travessura?
R: Não sei se saberei explicar no sentido comum dado a esta palavra, mas posso “sentipensar” novamente sobre ele e emitir algumas ideias. A terceira travessia/travessura é: “Criar vínculos que estimulem nossas percepções psicológicas ao desenvolvimento de nossas vozes interiores, dando fôlego às dimensões anímicas que possuímos em nosso ser, como possuem vida os pássaros que cantam a cada nova manhã.” Intuição, humanismo, percepções para além da simples racionalidade, amorosidade, sentido de fraternura como nos ensina Leonardo Boff, resgate do humano no humano como nos relembra Edgar Morin, persistir nos processos humanísticos, acreditar firmemente na nossa capacidade de mediação, sentipensando e sentifazendo uma práxis pedagógica efetivamente psicopedagógica e promotora da autoria de pensamento.
Daucy Monteiro
10: “...a meta maior seja a vivência da amorosidade, compreendida como estratégia subjetiva que amplia os valores humanos da paz, do amor, da verdade, da ação correta e da não-violência.” Aqui a subjetividade aparece.
O que significa para você amorosidade?
R: Tempos atrás, escrevi um artigo intitulado “Amorosidade e Psicopedagogia”, publicado no site http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=632 e que coloquei no ícone texto de nossa Rede Ensinantes do Presente. A leitura deste artigo talvez possa auxiliar a ampliação da ideia de Amorosidade. Amorosidade é viver com intensidade cada momento vivido, ampliando horizontes para que possamos fazer o nosso melhor como ser humano.