Sobre suicídios e crises
Adolf Merckle, empresário alemão, acordou numa manhã de 5 de janeiro de 2009 e depois de tomar seu café, servido por alguns de seus 11 empregados da mansão onde morava, dirigiu-se pensando sobre os últimos acontecimentos até uma linha de trem onde deitou-se sobre os trilhos a espera de algo que aconteceu realmente, como o que se espera de alguém que deita-se por sobre um trilho de trem que está em iminente aproximação. Adolf, que estava entre os 100 homens mais ricos do mundo, assim como inúmeros casos de magnatas desesperados pela crise financeira, suicidou-se.
No fim de 2008 a OMS (Organização Mundial de Saúde) alertou que com a crise financeira é esperado que aumente o número de suicídios, assim como outrora foi observado, na crise de 1929. Além desse alerta a OMS declarou esse problema como um problema de saúde pública e divulgou que em 2020 a previsão é de 29 mortes de homens para cada grupo de cem mil pessoas contra 16 divulgado no último estudo feito em 2000.
No episódio da quinta-feira negra de 1929, onde pela Wall Street se via a “chuva” de corpos dos arranha-céus, principalmente dos grandes milionários e proprietários de ações da bolsa, as listas de suicídios, assim como nos anos que sucederam, foram elevadas e revelaram o principal temor dos pançudos e exploradores pertencentes à elite americana: a pobreza, a perda daquilo que honestamente foi conseguido e acumulado por anos de exploração e a aplicação de mais de 12 horas de trabalho sobre os ombros de mulheres, homens e crianças.
Agora a pouco eu lia um jornal que dizia que, mais que o temor de ficar pobre, o que motiva o suicídio dos grandes milionário durante esse período de crise é o fracasso, é durante as suas rodas de conversa onde fumam os seus charutos e bebem os seus vinhos importados com seus amigos, mostrarem-se arruinados e, acrescentando eu, terem sua vaidade dourada abalada.
Não quero me mostrar insensível aos que são vitimados pela crise econômica, até porque são eles na maioria, os que já vivem e sofrem pelas conseqüências desse sistema, não querendo usar o jargão, mas já usando, desse sistema bruto.
As massas proletárias de 1929 e de 2009, mesmo separados por 80 anos, sofreram e ainda sofrem os maiores abalos e conseqüências do quadro que sempre se mostrou caótico aos que possuem uma visão mais aguçada e que, agora na crise econômica, parece ser vistos até pelos urubus e espoliadores, temerosos pela perda de suas fortunas aplicadas nas bolsas e fundos de investimentos pelos quatro cantos do mundo. Milhões de trabalhadores perderam seus empregos e tiveram que chegar em casa mais cedo naquela quinta-feira negra e nos últimos meses dos nossos atuais dias e sem ter uma perspectiva e algo que pudesse se segurar do terremoto que se processa ao seu redor, ainda assim, por que será que eles não se matam?
Alguns estudos apontam que os suicídios são maiores em países com maior, ou melhor, com dita maior igualdade social e, além disso, é apontado que nesses países em que os indivíduos são mais assistidos pela sociedade, normalmente os suicídios são cometidos por aqueles que, posto em conflito e pelo apoio social que tem, culpam e castigam somente a si mesmo e não o outro, o que difere nos países periféricos como o Brasil, onde normalmente as taxas de homicídio supera as de suicídios, os indivíduos normalmente atribuem e culpam os outros ou a sociedade pela sua vontade e ato de suicídio. Eu gostaria de saber se, além de conjecturas, algo pode ser feito de produtivo a partir dessas pesquisas!? Rsrsr.
Aqui no Brasil, como em vários lugares do mundo, a população já está sofrendo, além da perda de seus empregos, com as conseqüências da crise. O governo federal já anunciou um corte de 2 bilhões de reais nas verbas da educação em 2009 e assim também é previsto em vários setores como saúde e infra-estrutura.
Será que esta crise é prenuncio do fim? Talvez as demonstrações de preocupação que a OMS fez sobre os suicídios dos magnatas devam ser mais efetivas do que aquelas demonstradas pelas taxas de ebola ou AIDS na África, ou pelos mortos na Faixa de Gaza, ou da juventude brasileira morta e perseguida pelo narcotráfico e/ou polícia. Quem sabe se houver uma campanha salve os urubus do capital as taxas de suicídios poderiam abrandar.
Achei uma solução!! Vamos tirar um pouco das verbas que servem para a saúde e educação da população para abrandar os especuladores e salvar da morte empresários como Adolf Merckle, ou melhor, vamos emprestar aos banqueiros.
Vamos nos deixar ser um pouco mais explorados! Seria tão capitalisticamente correto salvar da morte empresários que perderam um décimo de sua fortuna com a crise .
Só pra constar: a fortuna de Adolf Merckle é avaliada em 9,2 bilhões e ele perdeu com a crise 1,5 bilhões de dólares.