Tchello d'Barros entrevistado no LERo | Rodrigo de Souza Leão / Seomário
LERo - Entrevistas com Seomario
07.07.2000 – Rio de Janeiro
Tchello d'Barros é entrevistado por Rodrigo de Souza "Seomario"Leão
LERo: Você bebe na fonte da poesia concreta. Como definiria a poesia que faz?
Tchello d'Barros: Já fiz sonetos, haicais, poesia visual e até escrita automática. Do concretismo penso ter absorvido o conceito de meta-linguagem e as metamorfoses possíveis entre as palavras, pois parecem as pessoas, metamorfoses e clones, reflexos de espelhos, pólos opostos e contradições.
LERo: Além de poeta você é artista plástico. O que um trabalho tem à ver com o outro?
T.d'B.: São veículos diferentes mas a viagem é a mesma. Desenho desde os cinco anos, mas a poesia conheci só depois de vinte e cinco voltas ao redor do sol. Ambos os casos necessitam de criatividade, sensibilidade, técnica, equilíbrio e identidade. As artes plásticas deram-me a noção de rigor e síntese para o estilo conciso dos meus poemínimos. Faço pinturas para os olhos externos e poesia para os internos.
LERo: Você gosta muito de viajar. O que busca nas viagens?
T.d'B.: Aventura, cultura e o inusitado. Diferente do turista, o viajante busca transcender horizontes, principalmente os internos. Na verdade coleciono experiências místicas;
- Conhecer a casa onde viveu Borges em Buenos Aires.
- Escrever poemas no Castelo São Jorge, em Lisboa.
- Apreciar o Guernica por uma hora, no Reina Sofia em Madrid.
- Pensar com o Pensador de Rodin, em Paris.
- Encontrar a palavra "Sacrificius" inscrita numa das torres
de Gaudí, em Barcelona.
- Descobrir em Florença qual dos três Davi é o de
Michelangelo.
- Perder-se no Prado ou no Louvre.
- Visitar o atelier do mestre Rembrandt em Amsterdã
- Tomar café brasileiro num restaurante chinês em Veneza.
E tantas e tantas experiências imprevisíveis e improváveis.
LERo: Como iniciou na prática poética?
T.d'B.: Pela porta dos fundos pois sempre detestei poesia. Na escola só nos ensinavam os, hoje anacrônicos, textos de Castro Alves, Álvares de Azevedo, etc. Em 1992, teatreiro, atuei numa peça escrita pelo poeta Nassau de Souza, quando tive contato com muitos textos poéticos de linguagem contemporânea. O mesmo poeta me convidou para ilustrar seus poemas numa revista de poesia em quadrinhos que se chamou "Hum Gibi Poético". Desse contato mais íntimo com o poema é que percebi que poderia escrever também. Então enviei meus primeiros escritos para três concursos - local, estadual e nacional - e fui premiado nos três. Atualmente a divulgação do meu trabalho é quase toda via Internet.
LERo: Quais os poetas que mais lhe influenciaram ou quais os que mais gosta?
T.d'B.: Busco uma escrita original, porém creio numa confluência com Leminski pois quando me deparei com seu estilo, concisão, humor e ironia me identifiquei no ato com sua obra. Leio de tudo, de bula de remédio à Dante, mas entre minhas leituras estão Camões, Shakespeare, Cervantes, Bashô, Poe, Baudelaire, Manoel de Barros, Rimbaud, Florbela, Pessoa, Cruz e Souza, Drummond, Vinícius, J G A Jorje, J C M Neto, A R Sant’Anna, Gullar, Quintana e Bell. Até o momento nada me arrebatou mais que as obras de Jorge Luís Borges e de José Saramago. Este último conheci pessoalmente em Florianópolis.
LERo: O que a Internet representa para a sua vida?
T.d'B.: Uma caixinha de Pandora virtual, uma janelinha de silício para o conhecimento e a contemporaneidade. É o inconsciente coletivo da idade-mídia. Como escritor tenho ampla divulgação e o que é melhor, interatividade com leitores de qualidade.
RL: Quem é o internauta?
T. d'B.: É aquele que rouba todo dia o fogo de Prometeu. É quem tem o mensageiro Mercuryo na ponta dos dedos. É o cego recém curado, mas o milagre é o da multiplicação dos olhos. É um viajante, transcende fronteiras nas asas de um pássaro digital. Mas espero que ninguém esqueça do calor de um abraço ou de um velho e bom sarau com declamação de poemas.
LERo: O que faz nas horas vagas?
T.d'B.: Leio, escrevo, pinto, viajo, danço, namoro, nem sempre nessa ordem. Aprecio a boemia moderna e exercito os sentidos em práticas altamente radicais como o Parapente, o Rafting e o Bungee-Jumping. Gosto de mexer com a adrenalina. Gosto também de visitar cavernas e cachoeiras.
LERo: Qual o papel do escritor na sociedade?
T.d'B.: Questionar a realidade e reescrevê-la. O escritor deve lembrar aos homens que a arte, o poema, é um pequeno pássaro, mas leva em suas asas os segredos de nossos sonhos.
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