Tchello d'Barros entrevistado no Portal Terra

Portal Terra – Cidade Virtual

10.10.2002 – Blumenau SC

Tchello d'Barros é entrevistado pelo Núcleo de Jornalismo

Tchello d' Barros nasceu na localidade catarinense de Palmares (atualmente município de Brunópolis) em 1967. Desde cedo demonstra interesse pelo desenho, e em 1984 recebe suas primeiras premiações em concursos. É como desenhista que ingressa no mundo artístico, ocupando esta função no exército e na indústria têxtil. A partir de 1989 estuda pintura com a artista plástica Sílvia Teske. Em 1993 realiza sua primeira exposição de pinturas, na Universidade Regional de Blumenau. É neste ano que começa a escrever seus primeiros poemas, publicando-os nas antologias "Blumenália Poética II" e "A Poesia e o Operário". A publicação de poemas não pára, e publica em diversas antologias. Em 1996 publica seus dois primeiros livros de poesia: Olho Nu e Palavrório.

Terra/Cidade Virtual: Conte-me um pouco de você e aonde nasceu?

Tchello d’Barros: Nasci numa pequena e bela vila chamada Palmares, hoje é o município de Brunópolis, ao lado de Campos Novos. Um dos meus orgulhos é ser Catarinense. Sou filho da escrivã Marlene Klein e do jogador de futebol Ribas Barros. Morei em 10 cidades do Brasil até o destino me trazer à Blumenau em 1990, cidade que me adotou e faço questão de divulgar pelos lugares aos quais viajo, 17 países até o momento.

Terra: Como começou seu interesse pela poesia?

T. d’B.: Começou pela porta dos fundos, ou seja, eu sempre detestei poesia. Quando estudante, nos empurravam goela-abaixo, textos de poetas arcaicos, tínhamos que decorar os versos exclusivamente para obter notas e todos adquirimos uma aversão pela arte poética. Mais tarde, fazendo teatro, descobri outras linguagens mais modernas e ilustrei textos de poetas contemporâneos, quando percebi que era poeta há muito tempo, mas nem desconfiava disso. Meus primeiros poemas foram escritos somente aos 25 anos.

Terra: Você tem outras profissões?

T. d’B.: Tenho outras atividades, eu diria. Como sempre gostei muito de desenhar, tornei-me desenhista ilustrador e artista plástico. Já produzi mais de 10.000 desenhos para a indústria têxtil e realizei diversas exposições de pintura, tendo inclusive participado de alguns salões de arte contemporânea. No teatro participei como ator de mais de 10 montagens e até fiz uma ponta no filme sobre a vida da Madre Paulina. Já fui militar, surfista, pára-quedista, jogador de voleibol, tatuador, professor e promotor de eventos culturais, mas foi na arte que me encontrei de verdade. Sou um dos fundadores da Sociedade Escritores de Blumenau, entidade literária que tenho a honra de presidir e tenho ainda o privilégio de integrar a Câmara Júnior de Blumenau, onde sou o atual Diretor de Capacitações.

Terra: Dá para viver somente de poesia no Brasil?

T. d’B.: Dá pra sobreviver apenas. Viver mesmo, com qualidade de vida e conforto é mais difícil. A profissão de Escritor ainda nem foi regulamentada no país. O brasileiro lê muito pouco, como se sabe, e as editoras investem quase nada no gênero da Poesia. Conheço vários poetas que editam seus escritos em produções artesanais, distribuindo entre amigos. Foi assim que comecei também. Muita gente também não prestigia os lançamentos e sessões de autógrafos com declamações de poemas. Preferem o anestesiante besteirol televisivo diariamente.

Terra: Você acha que qualquer pessoa pode escrever uma poesia ou tem que ter um dom?

T. d’B.: Poesia é feita de imaginação, criatividade, sensibilidade, ritmo e até um pouquinho de matemática. Esses elementos estão dentro de todo mundo, até pessoas analfabetas poetizam, veja-se o caso de alguns repentistas no Norte e trovadores no Sul. Basta gostar e, é claro, abrir o coração...

Terra: Você tem quantos livros publicados, fale-me sobre cada um deles?

T. d’B.: Publiquei inicialmente o opúsculo "Olho Nu" numa editora de Florianópolis e todos os poemas são construídos com monossílabos ou palavras de até três letras, num formato de ideogramas. Depois publiquei "Palavrório", uma edição de bolso que produzi sozinho. São poemas onde abordo questões metafísicas e minha visão desse mundo caótico em que vivemos. Depois, impresso na gráfica de linotipia da Fundação Cultural de Blumenau, foi editado "Letramorfose", todo com poemas muito curtos, com jogos de palavras, e textos onde a palavra é explorada de forma semântica, sonora e até mesmo visual. Finalmente surgiu "Olho Zen", uma coletânea de haicais, que é um tipo de poemeto oriental, mas muito praticado atualmente no mundo todo. Além disso, meus textos fazem parte de umas doze antologias, no Brasil, em Portugal e pela Internet em diversos sites de literatura.

Terra: Você tem algum escritor em quem inspirou-se ou tem algum preferido, qual?

T. d’B.: Não me inspiro em ninguém, procuro desenvolver minha linguagem própria, mas tenho sim meus preferidos. Jorge Luís Borges, com seu realismo fantástico é o número um. Infelizmente o Brasil, com exceção dos próprios escritores e poetas, ainda não descobriu esse genial argentino universal. Sou apreciador da obra de José Saramago, que tive a felicidade de conhecer pessoalmente, mas já acompanhava sua obra antes da badalação do Prêmio Nobel. Não posso esquecer também de mencionar o poeta Paulo Leminski, pela originalidade de sua obra, é outro desconhecido do grande público.

Terra: Que linha você segue na poesia? Como você define seu trabalho?

T. d’B.: É uma linha experimental, que alguns chamam de vanguarda por causa das pesquisas e efeitos. Como uso alguns elementos do neo-concretismo, meu trabalho em poesia pode ser resumido como concretismo-minimalista. Mas também produzo textos em formas fixas como a Quadra, o Soneto e o haicai.

Terra: Quando você escreve, de onde vem a inspiração?

T. d’B.: Acontece de duas formas diferentes. Aparecem os chamados insights, a qualquer momento, andando na rua, almoçando, conversando ou até sonhando. Então anoto a idéia e depois aprimoro, ou então simplesmente resolvo que vou escrever e começo a digitar sem parar, coisas desconexas, donde separo o joio do trigo e vou aos poucos lapidando, burilando.

Terra: Qual seu próximo projeto? Seus planos?

T. d’B.: Terminar meu livro sobre minha peregrinação pela América do Sul, onde percorri o Deserto de Atacama, o Caminho Inca de Machu Picchu, parte do Caribe e Amazônia. Depois vou terminar duas novas coletâneas de poemas e em 2003 vou retomar meu trabalho de pintura, com uma série chamada Labirintos Pictóricos, cuja pesquisa já está bem adiantada.

Terra: Quais os rumos da poesia no Brasil? Tem espaço para novos talentos?

T. d’B.: Está crescendo o interesse pela poesia e literatura em geral. Há boas perspectivas, haja visto o interesse dos jovens, nas últimas Bienais do Livro que participei. Depois há a geração de internautas leitores e autores que estão "descobrindo"a poesia contemporânea. Eu mesmo hoje sou muito mais lido no eixo Rio-São Paulo e em Portugal do que em Santa Catarina.

Terra: O que você falaria para uma pessoa que quer iniciar na poesia?

T. d’B.: Leia, leia, leia. Depois escreva, escreva e escreva. Depois continue fazendo isso misturadamente e não pare nunca mais de, através de sua escrita, fazer desse mundo um lugar melhor pra se viver, com mais amor, beleza, dignidade e muita, muita poesia!

Tchello d Barros
Enviado por Tchello d Barros em 18/01/2009
Reeditado em 21/01/2009
Código do texto: T1390755
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