Tchello d'Barros entrevistado no Site Maceió Entrevista | Sandro Egues

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12.05.2006 - Maceió/AL

Tchello d’Barros é entrevistado pelo editor Sandro Egues

Maceió Entrevista: Tchello, nesta mostra “Grafos & Cromos”, de infogravuras compostas com traços, linhas, pontos e figuras geométricas, como é o processo de composição de suas imagens?

Tchello d’Barros: É uma via de mão dupla, no sentido de que procuro captar elementos gráficos e cromáticos de meu entorno e depois devolvo para a realidade esses elementos processados em desenhos e infogravuras. A base é a pesquisa, com muita observação do cotidiano, fotos, desenhos, rabiscos, rascunhos e muita experimentação livre e lúdica. Uma pequena parte dessa experimentação é traduzida então nas imagens dessa exposição.

ME: Quais as expectativas da sua obra para o cenário cultural de nossa cidade? Se Maceió te inspira, como isso acontece?

T.d’B: Confesso que não há grandes expectativas, até mesmo em função da cidade não ter um público freqüentador de exposições de arte, sendo que isso é decorrência direta da falta de políticas públicas voltadas para as Artes Visuais. Mesmo assim a mostra tem recebido visitas de um público qualificado, formado por artistas, arquitetos, decoradores, pessoas da área de moda e alunos envolvidos em projetos artísticos. Sobre a questão da inspiração, busco na cidade principalmente elementos presentes na arquitetura local, seja a arquitetura antiga do bairro de Jaraguá, com seus combogós, frontões e grades artesanais, seja na arquitetura contemporânea dos edifícios da orla, revestidos com coloridas pastilhas de cerâmica.

ME: Como você já viajou muito pelo mundo, como percebe a presença

da geometria e dos elementos da cor em Maceió?

T.d’B: A experiência de já ter perambulado por 20 países inevitavelmente traz uma visão cosmopolita para uma situação local e nos faz perceber elementos bastante peculiares de nosso balneário provinciano. É claro que para quem trabalha com arte isso é um prato cheio, começando pela percepção da presença da geometria, não só na arquitetura, mas nos balões de São João, nos circos que peregrinam pelo interior, nas mandalas de palha de ouricuri, no artesanato popular, na pintura corporal dos índios Kariri-Xocós, e nas intrincadas composições das rendas de Filé, Labirinto, Redendê e Renascença. Sobre as cores, é interessante lembrar que estamos aqui muito próximos da Linha do Equador, onde a incidência dos raios solares intensifica as cores de tudo que está ao nosso redor, o que acaba influenciando na escolha de tonalidades mais vibrantes para compor a série "Grafos e Cromos", que em outras palavras significa 'formas e cores'.

ME: Você pretende integrar seu trabalho no mundo da arquitetura e

decoração ou vislumbra uma obra mais conceitual e cultural?

T.d’B: Trata-se de uma proposta absolutamente conceitual, um estudo de abstração geométrica, totalmente lúdico, portanto com valores e poéticas muito pessoais, sendo que o objetivo é apenas apresentar os resultados de tais investigações estéticas. Como isso tudo se concretiza numa exposição em galeria institucional, é normal que profissionais dos segmentos de arquitetura, moda e decoração manifestem interesse em veicular as imagens em seus projetos. É bastante curioso como eles propõem aplicabilidades para as imagens, seja em paredes, ambientações, camisetas e vários produtos. Pessoalmente acho até interessante o fato de uma criação chegar

a um público mais amplo através de suportes os mais diversificados, isso faz parte da pós-modernidade.

ME: Como você define seu trabalho em Artes Visuais e quais as principais influências em sua obra?

T.d’B: Pessoalmente tenho sido avesso a formulações definidoras e qualquer tipo de rotulação, até mesmo em função de neste início de milênio estarmos vivendo num caos de experimentações nas Artes Visuais, cujos conceitos vão se ordenar mais para diante, com pesquisadores sérios que possam sistematizar toda essa ebulição. Mas em meu caso, não será demais lembrar de movimentos que se debruçaram sobre a aplicação da geometria na produção visual, à exemplo da Op Art, o Hard Edge, o Concretismo e o Construtivismo. Sobre alguma eventual influência, que prefiro chamar

de confluência, é preciso de fato pagar um tributo à quem passou antes por essa seara, e nesse caso minhas referências são, M. C. Escher, Mondrian, Vasarelly, e até mesmo Rotko e K. Haring, sem falar em boa parte dos modernistas brasileiros, onde no momento vou citar Carlos Vergara e o imprescindível Aloísio Carvão.

ME: Em seu universo constam também produções em teatro, literatura, vídeos, muitas viagens, e até um filme. Como isso tudo se relaciona em seu processo criativo?

T.d’B: "Tudo faz parte de tudo", dizia o poeta catarinense Lindolf Bell, e no meu caso procuro estabelecer as possíveis relações entre as modalidades de expressão dessa esfera com muitos quadrantes, que chamamos de Arte. Atualmente estou mais focado na produção literária e visual, pois dependem apenas de mim. Ex: o equilíbrio necessário numa composição de um quadro se manifesta mesmo inconscientemente na escrita de uma poema. O rigor que procuro usar em meus textos, aparece também

na diagramação das imagens que construo no trabalho de desenho e pintura, e por aí vai, tudo se relaciona, se contamina e vai impregnando as áreas afins. Já as viagens, além de ampliar o leque de visão de mundo, permitem sempre um distanciamento, a possibilidade de olhar de longe para o que vem sendo produzido e de que forma vem sendo conduzido. É um tanto piegas, mas gosto de me ver como um 'caçador de horizontes'.

ME: Você já recebeu alguma proposta para utilizar sua obra no segmento da arquitetura e construção?

T.d’B: Existem alguns diálogos que apontam a bússula para essa direção. Isso porque apenas recentemente retomei o desenvolvimento de meus trabalhos em Artes Visuais, estive dedicado à publicação de alguns livros de minha produção em poesia experimental e também bastante ocupado com instituições culturais no Sul. Agora, aqui em Maceió, tenho me concentrado mais na produção de imagens, e uma das possibilidades é que arquitetos e urbanistas possam aplicar tais criações em obras públicas e privadas. A criação de monumentos e obras tridimensionais em espaços públicos estão na pauta das discussões.

ME: Você usa alguma fórmula padrão nessas infogravuras em que se

percebe muita matemática e geometria pura? Outras temáticas também aparecem em seu trabalho?

T.d’B: Seria oportuno lembrar que embora a maioria dessas criações seja finalizada em programas de computação gráfica, cada imagem começa mesmo é na ponta do lápis, é na experimentação do desenho livre que as mandalas, labirintos, pentágonos e outras formas estilizadas e convergentes vão surgindo. Então, apesar de uma necessária utilização da matemática como recurso, e a proposta se estabelecer de fato sobre uma plataforma geométrica, também é verdade que essa elaboração toda acontece antes no plano intuitivo, semi-consciente, com espaço para o mágico, o lúdico e o mistério, que no fundo é parte de toda criação artística. Em outras fases,

explorei várias temáticas e linguagens, em especial os desenhos e pinturas com a figura humana, muitas vezes com modelo vivo. Nada impede que eventualmente isso possa ser retomado, ou mesmo que o trabalho se encaminhe para outras direções.

ME: Como foi a experiência de expor as infogravuras da série “Grafos & Cromos” na Galeria do Sesc?

T.d’B: Essa galeria tem alcançado algumas conquistas no rarefeito segmento das Artes Visuais em Alagoas, o que me estimulou a escolhê-la para apresentar a mostra "Grafos & Cromos", pois essa exposição poderia estrear em qualquer outro estado brasileiro, mas até mesmo pela temática abordada, achei justo apresentar essa série antes por aqui. Cabe lembrar que no geral, aqui no Brasil as instituições voltadas para as Artes Visuais, ainda não atingiram o profissionalismo adequado para os desafios que o segmento vem apresentando com as novas mídias que aí vem se integrando, como a produção de vídeo, a Performance Arte, as Instalações e os chamados Site-specific. Mesmo assim, a Galeria do Sesc tem se mostrado atenta, investindo na qualificação da equipe técnica e numa postura aberta para ações complementares à uma exposição, como palestras, oficinas e lançamento de livro, no caso ações que ocorreram junto à exposição "Grafos & Cromos".

ME: Tchello, depois desta mostra, há alguma nova exposição ou projeto em andamento?

T.d’B: Vou responder apenas parte da pergunta, comentando o que já está em andamento, como a veiculação desta mostra, depois do encerramento, no site www.tchello.art.br onde um público mais amplo terá acesso às imagens. Já está em pesquisa bastante avançada uma proposta com labirintos, que é outro tema que há tempos me interessa e o resultado deverá aparecer em minha próxima exposição. Na literatura tenho desenvolvido aqui no Nordeste uma pesquisa sobre Literatura de Cordel, na qual tenho ainda montado uma coleção de folhetos e também produzido alguns textos nessa forma fixa, que é uma das mais interessantes das praticadas no Brasil. Além disso, estou expondo fotografias eróticas numa mostra coletiva chamada Universidarte, na universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e já estou com mostras agendadas para a Paraíba, Pernambuco e Bahia. Menciono apenas essas ações, pois as mesmas, já estão de certa forma aparecendo aqui e ali, quanto aos outros projetos nos quais estou envolvido, bem, quem vim ver, verá...

www.tchello.art.br

Tchello d Barros
Enviado por Tchello d Barros em 17/01/2009
Reeditado em 21/01/2009
Código do texto: T1389173
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