CONCEDIDA À LXSD PARA O EDITOR BORCK

Nadir Silveira Dias em ENTREVISTA CONCEDIDA AO EDITOR LUIZ HENRIQUE BORCK, através da diligente colaboração de Ludmila Xavier Silveira Dias (LXSD), acadêmica de Direito, em 11.07.2001:

LXSD: Onze de julho, quarta-feira, Porto Alegre, cinzenta, dia de chuva fina tocada a vento. Seria triste? Não, porque compartilhamos de uma ocasião especial nesta entrevista descontraída com Nadir Silveira Dias. Acompanhe os segmentos significativos de sua vida e o seu bom-humor:

LXSD para LHB – Fale um pouco de você.

Nasci no Lajeadão dos Silveiras, em Piratini, mas me criei e me registrei na marítima Rio Grande, a querida “Noiva do Mar”. Na Capital Gaúcha prestei exames de Primeiro Grau no Ginásio Pão dos Pobres e de Segundo Grau no Colégio São Manoel. Depois, conclui no SENAC o Curso Técnico de Corretor de Imóveis, hoje Curso Técnico em Transações Imobiliárias, que ajudei a criar quando integrava o Sindicato de Corretores de Imóveis do Estado do Rio Grande do Sul e o Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 3ª Região - CRECI-RS. Em 1987, bacharelei-me em Direito pela Faculdade de Direito das Faculdades Integradas do Instituto Ritter do Reis e exerci a prática forense e a advocacia até o início de 1992, quando me licenciei da OAB/RS para assumir o cargo obtido por concurso público de provas e títulos de Assessor Jurídico do Quadro Efetivo do Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande do Sul, e agora no Tribunal de Justiça, como Assessor de Desembargador. Desde 1997, integro a Casa do Poeta Riograndense, a Associação São-Luizense de Autores – ASAS, a Sociedade Partenon Literário, sócio fundador, e a AGADIE – Associação dos Advogados do Mercado Imobiliário Empresarial. Em 2001 passei a ocupar a Cadeira nº 77 do Conselho Acadêmico do Clube dos Escritores Piracicaba, cuja Patrona é Ines Silveira Dias, e, como sócio fundador, integrante do Centro de Integração Cultural Latino-americano (CICLA).

LXSD para LHB – Quando se descobriu poeta? E escritor?

Na verdade, não sei se sou poeta. Sou o que sou e muitos dizem que sim. Outros, dizem ou dirão que não. Escrevo desde menino e ainda conservo com muito carinho livros de histórias juvenis com corações desenhados e coloridos pelo estímulo e carinho de estimadas professoras do então Curso Primário, por alguns primeiros lugares em finais de ano. Seus nomes ainda os tenho bem registrados: Emelina E. Corrêa Capra, Maria Suely Nunes, Marina H. Netto, Lêda Ferreira Cadaval e Neusa B. dos Santos, as duas primeiras sob a direção da professora Lêda Numa e as três seguintes sob a batuta da professora Edazima M. Martins, misto de simpatia, doçura e energia na instigação ao aprendizado. Escrever poemas, em versos livres, modo habitual, é mais recente, pois esparsamente escrevia textos poéticos, perdidos no perpassar do tempo. O ingresso nas Letras Jurídicas decorre da própria profissão e, claro, do interesse precedente pelas Letras.

LXSD para LHB – Em quais livros participa?

Em mais de vinte antologias, relacionadas no fim deste livro, além dos livros individuais Rastros do Sentir e Locação de Imóveis Comentada em Locuções e Verbetes.

LXSD para LHB – Como se autodefine?

Um lutador, antes de qualquer outra coisa. Quiçá, mais prosador que poeta e um contumaz incentivador do desejo de aprender, que aplico a mim mesmo (ontem, hoje, sempre!).

LXSD para LHB – “Rastros do Sentir”, primeiro livro individual. Como nasceu o título?

Rastros do Sentir nasceu da idéia do autor que pretendia algo próximo de Estampas ou Vinhetas do Sentir e da idéia do editor que sugeriu Rastros de Vida (que eu não gostei). Gostar de Rastros, porém, foi instantâneo, daí a mescla que tantos apreciam.

LXSD para LHB – Parece-nos, às vezes, que se inclina para Augusto dos Anjos. Quais autores o influenciaram?

Não que eu saiba, exatamente. Há quem afirme que sim, especialmente no poema “Lembranças Ancestrais”, pois o autor de “Eu” (Augusto dos Anjos – 1884-1914), publicado em 1912, não tinha por temática apenas a morte, a morbidez e o trágico. Também criou poesias cujo primado é a vida, predominante nos meus versos. Um ponto comum talvez seja alguma extravagância vocabular em contraponto à métrica formal do professor pós-simbolista ou pré-modernista e a forma livre com que faço versos.

De formação entrecortada, quase autodidata, não creio que possa afirmar sobre a influência direta de algum poeta, senão de todos que tenha lido, dos quais assinalo, entre muitos, Gonçalves Dias (1823-1864), Casimiro de Abreu (1853-1927), Olavo Bilac (1865-1918) e Pablo Neruda (Neftali Ricardo Reyes - 1904-1973). Também recordo de repentistas nordestinos, bem declamados pelo estimado Tio “Theo” e das trovas e modinhas cantadas por minha mãe, além das poesias contidas nas letras vertidas das ondas do rádio pelo cancioneiro nacional, português, regional, e espanhol, ouvidas com minha mãe adotiva, Aidê Pires, seguindo-se o gosto pelas canções italianas, francesas, alemãs e nativas. Aprecio os simbolistas, especialmente Alceu Wamosy (1895-1923), em nosso meio, ainda que mais parnasiano que simbolista, segundo a crítica e a sua Poesia Completa (1994). É impar o simbolismo vertido no célebre soneto “Duas Almas”, obra pela qual se tornou mais conhecido o alferes-poeta uruguaianense, falecido em Santana do Livramento dez dias depois de ferido no Combate de Ponche Verde, nos campos de Dom Pedrito, em 03.09.1923. E aprecio não menos os naturalistas, e Émile Zola (1840-1902), sua expressão maior.

E o gosto pela leitura não adveio apenas dos bancos escolares, assim também como de figuras como João Batista Lucas, e a afeição pela arte da fotografia pelo exemplo e incentivo de Manoel Agostinho Lucas, estimado padrinho. Dentre os autores que mais li e ainda leio, são eles Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Antônio Houaiss.

LXSD para LHB – Em sua prosa notamos sempre o relevo do cenário: paisagem, elementos da natureza. O que diz sobre isso?

Aí sim, talvez a influência de Júlio César Ribeiro Vaughan (1845-1890), mineiro, de Sabará, na sua mais celebrizada e polêmica obra, “A Carne” (1888), em que isso se verifica de forma poética, doce e ardentemente complicada: a vida e morte fluindo juntas, compassadamente, no cadinho graúdo das mazelas humanas. De qualquer modo, a narrativa em prosa ou versos é fundamental. Sem ela o etéreo se sobrepõe ao real. E a beleza, assim como a verdade, precisa estar expressa na poesia, especialmente na poesia, pois ela, verdade, não está afastada do “Princípio Poético” (1850), de Edgar Allan Poe (1809-1849), por sinal, traduzido por Júlio Ribeiro (Assassinatos da Rua Morgue), obra que deu início ao moderno conto policial. Aliás, como poeta, Poe é um homem à parte, como novelista e romancista, é único no seu gênero, nas palavras de Charles Baudelaire (1821-1876) que, juntamente com Stéphane Mallarmé (1842-1898), foram os responsáveis pelo reconhecimento do gênio de Edgar Allan Poe, primeiro fora dos Estados Unidos.

LXSD para LHB – Em poemas como “Cristal no Big”, infiltra-se a idéia de uma musa. Poderia revelar quem é?

Eu sempre a tive. Identificá-la tem se mostrado mais complicado. Ela existe em mim desde sempre. Identificá-la, a minha luta. “Cristal no Big”, depois “Fugaz Encanto” na Antologia “E Por Falar em Amor” reflete bem essa busca. Como as próprias linhas indicam, parece ter sido apenas mais uma visualização que não aconteceu ...

LXSD para LHB – A preocupação social decorre do homem, do jurista, do poeta ou do prosador? Até que ponto o fato de ser jurista influencia na criação literária?

Na verdade, de todos ao mesmo tempo. Do homem, porque este precisa aprender e apreender o sentido das coisas no curso da vida. Do jurista porque é de seu mister lutar em prol da Justiça, como lidador ou aplicador do Direito, seja em benefício do bem comum do povo ou no suprimento das necessidades humanas. E do poeta porque a este compete impregnar seus versos de beleza, sem afastar a verdade e sem descurar da liberdade e da responsabilidade. Nesse ponto, o prosador acha-se mais solto, mais livre, do que o poeta, pois aquele não precisa criar em seu texto nem a beleza e nem a verdade de que a Poesia carece e depende.

Sobre a influência do jurista, ela é tradicional, pois desde as primeiras escolas de pensamento já se fazia presente esta mescla de Literatura, Filosofia, Sociologia e a própria realidade social que fazem a prática e compõem a própria formação jurídica acadêmica, hoje menos do que ontem, mas no entanto, ainda muito presente, a influir na criação literária.

LXSD para LHB – Em termos literários, como define o seu momento atual?

É ainda de aprendizado. Com um livro individual e pouco mais de duas dezenas de participações em antologias, torna-se certo afirmar que, conquanto a alegria de premiações significativas (1º Lugar em Contos, ASAS/BORCK), Medalha de Ouro, Contos do Brasil Contemporâneo da Revista Brasília, DF), o desenvolvimento desse trabalho sistematizado é ainda recente, pois conta com pouco menos de cinco anos. Em outras palavras, este momento presente talvez seja o de estar apenas no início.

LXSD para LHB – Uma mensagem para os leitores.

“Compre Baton”. Traduzindo: busquem o que lhes interessa: sonhem, sonhem, sonhem, realizem e realizem! E isso não prescinde do trabalho duro e de muita leitura. De qualquer forma, busquem, tentem ser e fazer felizes, pois o Universo segue cumprindo o seu próprio destino. E, parafraseando Brian Weiss, nunca esquecer que “Só o Amor é Real”, obra da qual recolho estas significativas citações:

“A alma do homem é como a água;

Vem do Céu

E sobe para o Céu,

Para depois voltar à Terra, em eterno ir e vir.”

Goethe

“Lê-me, Leitor, se encontras prazer em ler-me,

porque muito raramente eu voltarei a este mundo.”

Leonardo Da Vinci (1452-1519)

“Tenho certeza de haver estado aqui

mil vezes antes, tal como sou,

e espero voltar outras mil vezes.”

Goethe (1749-1832)

Por fim, experimente perceber a luz que emana de uma Poesia, de um texto poético. Você vai se surpreender!

A entrevista foi publicada nas páginas 7-12 do livro NADIR SILVEIRA DIAS & AMIGOS, Série Amigos, vol. 8, Antologia Literária, de Nadir Silveira Dias e Amigos, 130pp. 14x21, Ed. Borck, dezembro de 2001, São Luiz Gonzaga, RS, Brasil.

Escritor e Jurista – nadirsdias@yahoo.com.br

Nadir Silveira Dias
Enviado por Nadir Silveira Dias em 26/03/2006
Reeditado em 26/03/2006
Código do texto: T128598
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