VASCO DOS SANTOS: "MINHA OBRA É MULTIFACETADA" Entrevista concedida a Cissa de Oliveira
1) Vasco, depois de conhecer algumas das suas obras, fica difícil perguntar desde quando você se dedica à escrita, porque a impressão que eu tenho é de que isto acontece desde sempre. Quando você descobriu em si esta centelha para escrita?
Vasco dos Santos - Realmente, acontece desde sempre. Nasci num ambiente pobre de riqueza mas riquíssimo de tradições. Criei-me ouvindo as histórias contadas por pais e avós. Até, nas reuniões costumeiras da molecada, era comum, após as brincadeiras, cada um contar as histórias, ouvidas e aprendidas em casa, envoltas no mistério e no encanto das lendas - a moura encantada, o tesouro escondido guardado por uma serpente,etc. Era comum, naquela época, sermos visitados por autênticos jograis ou aedos que, de terra em terra, exibindo folhetos na mão,ao som de violas e guitarras, iam, na plangência dos sons extraídos dos seus instrumentos, dando notícias de fatos e eventos sensacionais de catástrofes, brigas, fatalidades,casos extraordinários no viver cotidiano da gente simples.À tarde, quando o "homem do correio", montado no seu burrinho, descia da vila levando cartas e os dois jornais para os dois únicos leitores da aldeia-o padre o presidente da junta de freguesia, ficávamos ouvindo a leitura das notícias da cidade... Este foi o ambiente, resumindo, em que nasci e vivi até aos 10 anos de idade. Na escola primária, já fazíamos ditados e, a partir da terceira classe (refiro-me à nomenclatura antiga) fazíamos redações. Era o máximo. Por prosseguimento do destino, o Seminário escancarou-me o gosto pela leitura que os padres, na época, incentivavam. Lembro-me que já nos primeiros anos de estudo, fazíamos uma revista - recordo o nome: "A Alvorada", toda compilada à mão, onde comecei, numa vaidade incrível, escrevendo as minhas primeiras poesias: - quadras, sextilhas, sonetos mal alinhavados, histórias lendas, das ouvidas e recordadas, etc. Lembro que o meu primeiro soneto foi publicado no jornal da idade. O soneto, tinha o sugestivo nome: "In vasa mortis" e era assinado com um pseudónimo, o meu primeiro, a saber: Covas Santos- por razões óbvias.Se a memória não me trai eu tinha 13 para 14 anos. Por evidente, deve-se notar que, cresci neste ambiente onde se dava muita atenção à formação literária dos alunos. Nas festas costumeiras, as saudosas "Sessões solenes", havia dois pontos altos no evento: a récita de poesia e a execução, ao piano, de trechos escolhidos pelos professores de música. Participei de todos. Evoco estes momentos como evidências fortes que me carrearam para o campo literário.
2) O primeiro livro que você editou foi o primeiro livro que você escreveu?
VS - Não. O primeiro livro que editei foi de contos. "Contos do Dia a Dia no Vale do Paraiba"(1) - marcador duma fase da minha vida naquela cidade do Vale paraibano. Muito antes, lembro, por ex: de "A Cidadela e as Armas", no meu tempo de vida militar e que morre no limbo como quase todos. E uma coletânea de poemas, que guardo até hoje, recheados de poemas ritmados, metrificados, a saber a Guerra Junqueira, que me apaixonava, etc.
3) Que "Aldeia" era esta, Vasco, onde você nasceu e viveu até aos 10 anos de idade. Sabe-se que você é Português, mas de qual localidade?
VS - Aldeia seria o equivalente aqui a município. No Brasil, tudo é cidade. Em Portugal há aldeias e vilas (os municípios) e cidades e, dentre toda esta divisão, há aldeias maiores, que são freguesias, vilas maiores que são concelhos (municípios) e assim vai. De modo que, a minha aldeia, que, assim, a trato por mais consuetâneo à idéia, é uma freguesia. Pra você ter idéia, designa-se assim: - Alcafozes, Concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco, província da Beira Baixa. E, aí, tem a divisão perfeita da coisa: freguesia-Alcafozes; vila(município) - Idanha-a-Nova (pra distinguir da velha - a Egitânea dos romanos e de Wamba que ficou Idanh-a-Velha). É uma terra de origens, na realidade, meio desconhecidas. Dizem que é árabe pelo "al", outros que é "arrabalde" - eu até me inclino por esta origem, no sentido de que, estando ela localizada a 5 km de Idanha-a-Velha, a famosa Egitânea, que foi cidade opulenta, sede de monarquia (teve rei:o rei Wamba) visigótica, penso que catalogar a minha freguesia (aldeia) de arrabalde não deve ser desdouro e possa ter certa lógica, devido à proximidade da famosa Egitânea... Guarda costumes e tradições antiquíssimas e sempre viveu (penso) envolta no descaso e no isolamento do velho Portugal. Talvez, por isso, o peso das suas tradições e costumes (que já não existem mais) impressione.
4) E já que você falou em Seminário: Você foi apenas para estudar ou havia a intenção de ser padre?
VS - O seminário, naquele tempo, sem dúvida, foi o grande ancoradouro onde se encontrava a possibilidade única de estudar e prosseguir uma vida intelectual ante um acanhado e isolado ambiente em que se vivia. A educação restringia-se aos cursos primários, tão somente. A seguir, vinham os liceus nacionais e os colégios, caros e distantes. Na realidade, o estudo, nas chamadas províncias, era privilégio dos abastados ou do heroísmos dos restantes. Claro, em tese, quem, aos 10 anos, adentrava um seminário não tinha noção de nada. A vocação ia-se cultivando ao longo do tempo. Era um jogo de cartas. Por isso, o número de desistências era enorme. Penso que na minha turma, dum montante de quarenta, pouco mais ou menos, até à filosofia ficaram pelo caminho mais de 2 terços e teologia uns 7 ou 8... O seminário foi a base. Eu costumo dizer, e o reafirmo por uma questão de justiça: em termos de humanidades, filosofia, música, etc, etc. Devo tudo, absolutamente tudo, aos seminários (quem disser o contrário mente) por onde passei. Garanto-lhe que se não fora o estudo e o saber que nessas casas, já extintas, se ministrava, eu nunca teria, por exemplo, chances de, num único momento, após 7 anos de abandono, condições de chegar na São Francisco, prestar vestibular e entrar na Faculdade de Direito com facilidade. Sou eternamente grato a este tipo de estabelecimento que me possibilitou estudar e, pra mais, alimentar o gosto pela literatura em todas as suas dirimentes.
5) E já que você nos diz sobre o seu primeiro pseudônimo (Covas Santos), houve outros? Quais e para quais obras? Diga-nos também se você chegou a publicar com estes pseudônimos.
VS - Bem, quanto a pseudônimos, usei esse Covas Santos, usei Vasco Gameiro, Vasco Alentejano (alcunha de família há mais de 100 anos) e não sei se mais algum mas só em publicações de jornais, um que outro poema ou escritos perdidos na boca do tempo.
6) Para estes diferentes pseudônimos existiriam diferentes facetas do escritor Vasco dos Santos?
VS - Sempre digo, a minha obra é multifacetada. Na realidade, na prosa, muitas vezes, me imagino na necessidade de me dividir em muitos porque, das diversas facetas me encontro com rostos diferentes. Nem imagino o que isto possa significar na minha atividade de poeta e romancista e muito menos ainda nos temas enfocados em cada um dos gêneros.
7) Isto me lembrou Fernando Pessoa e os seus diversos heterônimos... só que todos reunidos.
VS - Talvez. Não sei o que levou Fernando Pessoa a essa opção. Ele, considerado um gênio, deve ter tido as suas razões. No meu caso, esse é como que um devaneio que, por vezes e espontaneamente, me ocorre. Todavia, confesso, em certas circunstâncias, chego a pensar que essa poderia ser forma de desdobramento, até, lógica, e mais adequada ao tema abrangido e descrito, seja em poesia ou prosa. Um em diversos ou diversos em um. Mas, não sei até que ponto isso, a efetivar-se, seria válido a quantos me leiam ou lerão.
8) Os temas dos seus livros são bem diversificados. Apenas como exemplo eu citaria três dos mais recentes: “Porque Choram os Biguás” (2) um romance-denúncia como bem citou Aristides Theodoro. O outro é “O Achamento do Brasil”(3) que conta – e canta – a saga das descobertas, todo em versos livres, enfim, um poema épico. Outro: “O Solitário da Montanha”(4) mais voltado para o lado místico. Eu poderia citar outros, como os de poesia, inclusive um só de sonetos(5), e por aí vai, todos de inquestionável qualidade. A pergunta é: - Dentre as categorias literárias que você já publicou qual delas mais o agrada?
VS - De fato, essa diversidade foi e é proposital. Não esqueça que também sou editor, a quem, por dever de ofício, cabe um olhar atento ao mercado. E todos nós sabemos como o mercado é condicionado a "nuances", umas propositais, outras espontâneas. Quer dizer, os editores, no faro (como se ufanam de arengar os grandes perquiridores de "talentos"), único e exclusivamente pelo lucro, caçam, de mil e uma formas, tudo o que possa proporcionar-lhes ganhos. Para eles, salvo raríssimas exceções, importa, sim, o sucesso monetário, o negócio e, por isso, promovem avalanches mercadológicas que lhes permitam grandes lucros, venham de onde vierem, seja por qualquer forma que seja. Daí, os grandes "best-sellers" que, vez por outra, surgem, são exaltados, através da mídia de todo o gênero, muitos deles com um valor muito questionável. Na periferia, perambulam muitos gênios ocultos, esquecidos, que não rendem dinheiro e que surgem após a morte. É a incongruência do destino. E isto é um fato tão imanente que escusa de comprovação. E quantos dos badalados em vida, somem na poalha do tempo e jazem no esquecimento "ad eternum!" De modo que, direcionava em vários segmentos à procura de encontrar um caminho mais fácil ao gosto do presumível leitor. Daí, a variedade a que se reporta. Todavia, sem falsa modéstia, garanto-lhe que me sinto à vontade em qualquer dos gêneros que aponta. Procede a sua análise sobre este tema.
9 – A sua lista bibliográfica é extensa (19 publicações distribuídas em contos, auto-ajuda, romances, poesias, crítico-biográfico) mas especificamente do “Porque choram os Biguás” você poderia falar um pouco sobre o processo de criação e motivação para desenvolver o tema, aliás, bem atual?
VS - "Porque choram os Biguás", é, de fato, um grito ecológico. Tive o cuidado de pegar uma ave ou um pássaro nosso, bem brasileiro, ameaçado de extinção, freqüentador de mangues, dos rios e, preferencialmente, no pantanal. Considero-o um símbolo ecológico. Veja, é um pássaro de boa envergadura, de pernas longas e peludas, donde o étimo "biguá" que, na tradução dos índios, quer dizer: pernas cabeludas. De ossos pesados, que os ajudam a aprofundar-se na água. Como não têm o corpo revestido de pele que as outras aves ribeirinhas têm, eles permanecem horas de asas abertas, na copa das árvores, para se enxugarem. A idéia, abocanhei-a quando, na primeira grande hecatombe de vazamento de óleo sobre a baía da Guanabara, um fotógrafo dum jornal, fotografou um biguá, solitário, moribundo, com todas as penas cobertas de óleo mortal. Só pesca em águas claras. Por isso, os índios o seguem, na certeza de que as águas onde eles pescam, são abundantes em peixe.
10) O romance “O Solitário da Montanha” mostra o personagem principal como um homem que se converteu, não apenas de um crime mas de toda uma maneira de enxergar e viver a vida.
VS - “O Solitário da Montanha", a que atribui o caráter de místico. De fato, assim, se poderá considerar já que todo ele gravita em torno da natureza, na solidão que o personagem principal nela se enlaça, coabita, vive e tenta sublimar-se, dando novo sentido à vida e mostrando ser possível que tal aconteça ainda quando se viva numa cidade cosmopolita como São Paulo. É de fato um livro de reflexão intensa sobre a vida, com um ar franciscano; aliás, o personagem, tem momentos de êxtase profundo e entrega-se a exaltações poéticas num acendrado ardor místico, ao sabor do poetar do povarelo e Assis.
11) Os livros de memória correm o risco de se tornarem monótonos, caso não sejam realmente interessantes. O seu “Cancioneiro da Velha Aldeia”(6) é diferenciado porque trás entre os nove livros que o compõe - e entremeada às memórias -, muito da história de Portugal. Conte como foi que surgiu a idéia de escrever um livro assim, e todo em versos. Em quanto tempo o escreveu?
VS - Se lhe disser que, embora essa idéia, desde sempre, me remói por dentro, numa ânsia intensa de haurir das raízes de que provemos, tudo o que herdamos e somos e teremos de, urgentemente, delegar aos nossos vindouros, sob pena de perdermos a nossa autêntica identidade, dizia eu, considero " O Cancioneiro da Velha Aldeia" como um ensaio para um livro maior que eu desejaria imensamente fazer sobre o Brasil. Mas, o Brasil profundo, do escravo, do índio, do negro, do branco, do mestiço, do cafuzo, do mulato, de toda esta raça ou etnia, como se queira, que compõe e cromatiza este maravilhoso Éden onde todo o mundo se espelha, num aceno inquestionável de que é possível a humanidade conviver na paz e na felicidade. De maneira que eu fui à minha velha aldeia fazer isso e mostrar que é possível fazer o mesmo desta parte da grande "aldeia global" que nos envolve.
12) – Poderíamos então pensar o livro “O Achamento do Brasil” também nestes termos?
VS - O "O Achamento do Brasil", trata-se dum poema épico, dividido em cantos, relatando a epopéia das descobertas e, num "post scriptum" final, num sentido, igualmente, épico, abrangendo o Brasil da Independência e da procura da imigração de todas as partes do mundo que, aqui, vivem e contribuem, de forma definitiva, para o seu desenvolvimento. É outra saga, em moldes, embora, diferentes da primeira, igualmente heróicos.
13) Durante o seu trajeto literário você se inspirou ou tem se inspirado em algum reconhecido escritor da língua portuguesa?
VS - Todos os escritores com os quais contactei, observei, me influenciaram duma maneira ou de outra. Há coisas, aparentemente, insignificantes mas que moldaram o meu anseio. Veja, quantas vezes, passeando pelo jardim da Corredoura, lá em Portalegre (Portugal) olhava o busto de José Duro (jovem poeta da cidade) e ficava lendo, até à exaustão, repetindo e meditando os versos decalcados na pedra, no meio do jardim. Repetia-os: "O livro que aí vai, obra dum incoerente/ é um livro brutal, um poema a esmo/pensei-o pela rua, olhando toda a gente/ escrevi-o no quarto, olhando-me a mim mesmo...".
Se a memória não me trai, eram esses. Pegava nas seletas de português e lia, de António Carlos de Oliveira (salvo erro), referindo-se aos Lusíadas: "Alto livro de Camões/ forja de brônzeas oitavas/onde rolam gerações/ entre rimas de trovões/ cadência das ondas bravas..."Isto me deslumbrava, repetia, decorava... e como eles se alicerçavam na minha alma! Lembro, por exemplo, quando saía um livro de José Régio (era professor de Português no liceu de Portalegre), era um fato que me causava uma satisfação deslumbrante. O primeiro romance que me caiu na mão, na minha recôndita aldeia beirã, foi a "Rosa do Adro", nem em lembro mais de que autor. Li-o com uma sofreguidão inaudita. Lembro-me de ler "Mário", de Silva Gaio, Herculano. Quanto me deleitava com os trechos de Lendas e Narrativas, o Monge de Cister, Eurico, o presbítero, etc. Depois, ao longo do estudo, os clássicos eram matéria obrigatória, de estudo e análise. Lia-se e analisavam-se os gregos, da Orésita, Ilíada, os socráticos, os filósofos. Nada escapava. Os clássicos todos no original. O mesmo no que se refere aos latinos - Virgílio, na Eneida, As Éclogas de Horácio, O De Bello Galicum famoso... sei lá mais quantos. Os renascentistas, quantos pudesse. Lembro que, antes de ler, analisar e comentar os lusíadas, fazíamos o mesmo com Pe. António Vieira.
Livros como Jerusalém libertada de Torquato de Tasso, a tudo o que se lançasse mão, era lido. Resumindo para encurtar a amplidão de sua pergunta: todos me influenciaram. Nem sei quantos e nem sei quais.
14) Quem você citaria, dentre os clássicos, em termos de preferência literária? E dentre os contemporâneos?
VS - Claro que a minha formação literária, fundamentalmente, clássica, teria que ter influência primordial nos clássicos. Li tudo quanto pude e tive ocasião. De Pe. Manuel Bernardes a Pe. Vieira, dos clássicos greco-latinos aos modernos, houve escritores que me marcaram. Como ignorar Camilo, Eça, Guerra Junqueiro, Garret, Antero de Quental, Teixeira de Pascoais, Herculano, Oliveira Martins, os românticos todos, os parnasianos, os modernos? O que encontrava, lia, claro. E, concomitantemente, escrevia a meu modo e no papel começava colocando o que sentia.
15) Além da arte da escrita, a que outras você se dedicou ou se dedica atualmente?
VS - Bem, se escrever é arte, só a ela me dedico, atualmente, por prazer ou destino ou por quaisquer outras razões inerentes à própria condição humana. Em termos de arte, no sentido mais restrito, não poderei, propriamente, falar em arte, mas, sinceramente, a minha paixão, se é que há arte, era a música clássica ou erudita.
16) Você que é íntimo dos sonetos: É possível se definir o que seria indispensável para se escrever um bom soneto?
VS - Não me considero mais íntimo com o soneto do que com qualquer outra expressão poética. Pelo contrário, considero o soneto o mais difícil dos gêneros da criação poética. Penso que, de cem, sobra um que nos satisfaça e, ainda assim, não plenamente. O soneto é medida clássica, revestida da perenidade da palavra concisa e precisa a projetá-lo pra eternidade. O soneto insere a imutabilidade da forma e do conceito, com contornos rígidos na regência do poder de síntese consubstanciado na força do verbo... e, nesse sentido, consubstancia a idéia na sua manifestação absoluta no poder de síntese a ele inerente.
Penso que, para se conseguir a feitura dum bom soneto, a primeira qualidade, aliada à inspiração poética do momento, é um forte poder de síntese que, como disse, consubstancie a idéia que se quer abarcar. Depois, o rigor da forma, do acento tônico, a precisão métrica, a cadência do verso ecoando na pureza musical do ouvido, que, dela, faça o acorde perfeito entre a palavra e a harmonia do som da musicalidade, a ponto de se atingir o clímax, num ápice de beleza e sonoridade capazes de atingirem o êxtase e o sublime que devem ornar o tão decantado "fecho de ouro" da famosa composição poética, que é o soneto.
17) Vasco, você que é escritor, editor e bem relacionado: Quem é mais escritor, aquele que escreve e tem talento e não consegue publicar ou aquele que, pagando, publica de vez em quando e fica conhecido?
VS - Parece-me, “data venia”, que as colocações se confundem. O escritor, só é escritor, se tiver talento. Todavia, de nada adiantará ter talento se não o fizer render, parafraseando o sentido evangélico do étimo. Evidentemente, no caso de ambos serem talentosos, o que tiver meios próprios para se auto promover terá facilitado o caminho. O outro, ficará à mercê da sorte e do acaso baterem-lhe à porta.
18) Qual é o segredo do sucesso, na sua opinião, para um livro “vingar”? É o marketing?
VS - Em princípio, sim. O marketing é tudo. Tem o poder de transformar o ruim em bom. Num primeiro momento é possível e, isso acontece com a maioria dos “best-sellers” forjados e arranjados ou, adrede, preparados para trilhar o caminho do sucesso rápido e lucrativo. Quem irá canonizar o autor e o livro, só o tempo o dirá.
19) Você vai viajar para a Europa e fará lançamentos. Quais obras você lançará por lá?
VS - Há perspectivas da edição de três livros, a saber: “João Ramalho - memórias dum povoador”; “O marinheiro das Naus”(7) e “Jesus Cristo, o Filho do Homem”, uma vida romanceada de Jesus.
20) Onde você se considera mais valorizado enquanto escritor, no Brasil ou em Portugal?
VS - Em ambos os lados e em nenhum deles. Explico o paradoxo: - qualquer livro de autor desconhecido ou pouco conhecido, ainda que excelente, é mercadoria difícil de ter sucesso imediato, se não houver um investimento maciço de divulgação, de marketing, em suma. Guardo esta observação de conversa que tive, numa visita à casa do escritor português Fernando Namora, reproduzindo as palavras que o seu editor espanhol lhe lembrava.
21) Quais foram os seus momentos mais marcantes na vida literária? Algum lançamento em especial?
VS - Bem, penso que foi no dia em que eu peguei nas mãos o jornal "A Reconquista" de Castelo Branco e, nele, vi estampado o meu primeiro soneto publicado "In Vasa Mortis". Deve ter sido este, parafraseando Manuel Bandeira, noutro contexto, claro, o meu primeiro alumbramento...
22) Você gostaria de deixar algumas palavras para os seus leitores que também escrevem?
VS - Os meus leitores que também escrevem são irmãos de luta, de sentimento e de sensibilidade, abnegados como eu, persistentes, continuem trilhando o mesmo caminho e não esmoreçam. Escrevam sempre de olhos postos no poder da palavra, na força do verbo, certos de, só assim, podermos construir uma Pátria independente e soberana, livre e progressiva, perenizando o futuro.
23) Obrigada Vasco, pela sua entrevista, e se quiser acrescentar alguma notícia à qual eu não me ative, fique à vontade.
VS - Agradeço imenso a oportunidade que me foi dada. Senti-me muito honrado por merecer atenção de tão excelente poeta e contista de fino quilate, além de jornalista de primeira linha, o que, de “per si”, me alegrou muito.
Vasco dos Santos: Escritor luso-brasileiro radicado no Brasil, São Paulo, onde reside, formado em Direito pela USP (São Francisco). Escritor e editor, poeta e ensaista, romancista, crítico literário, palestrante. Romances editados: Pé de Boi, Pata de Homem (esgotado), O Cristo do Braço Quebrado (esgotado), O Mameluco (romance histórico), João Ramalho memórias dum povoador (romance histórico-esgotado), O solitário da montanha (romance de reflexão introspectiva e mística). Padre Antônio Vieira, o mestiço (romance histórico-biográfico -edição a sair este ano por Lisboa) Contos do Dia a Dia no Vale do Paraíba(esgotado),Os Filhos da Rua, O Menino e a Rosa (esgotado). Poesia: O Silêncio do Mar Salgado, O Achamento do Brasil, Carmen - 47 sonetos + um. Ensaios: Graciliano Ramos Vida e Obra, A Invenção do Mar (Leitura dum clássico - no prelo). Contos: Contos do Dia a Dia no Vale do Paraíba (esgotado), Os Filhos da Rua, O Menino e a Rosa (esgotado). Muitos outros(poesia e prosa) aguardam oportunidade para publicação. Contato: vasco.s@terra.com.br
Por: Cissa de Oliveira
outubro/2008
(1) Gráfica e Editora Bentivegna Ltd (1983)
(2) Editora Nova Aldeia, 2004
(3) Editora Nova Aldeia, 2006
(4) Editora Nova Aldeia 2005
(5) Carmen, 47 Sonetos +1(Ed.Nova Aldeia, 2005)
(6) Inédito
(7) Romance histórico