CRIANÇAS CRIADAS NAS LUTAS TELEVISIVAS – Pergunte ao Doutor! – 11

Por que as TVs exibem tantas lutas nos horários infantis? Por que os programas premiados, como o Cocoricó da TV Cultura se tornam cansativos para as crianças tão cedo?

Não consigo mudar esta rotina em casa e se der ouvidos, meus dois filhos menores querem a todo instante, que lhes compre roupas e brinquedos destes super-heróis, criados para defender o mal que tanto onera os bolsos dos pais. Será que os criadores de tais personagens deixam seus filhos e netos assistirem estas criações irreais? – Pedro (Casa Branca-SP)

Pedro, somos todos fruto do meio em que vivemos.

Quando eu era criança, além do Pernalonga, do Hortelino Troca-letra, existiam também os heróis como o Super-Homem, o Capitão Marvel, o Fantasma. Eles embalavam nossa fantasia, demonstrando a luta contra os males reais daqueles e destes tempos, contra os escroques, os ladrões travestidos de importantes e os assassinos e ladrões comuns, mas uma coisa chamava minha atenção: todos eles sabiam demonstrar amor às pessoas e crença na humanidade sadia, que tanto esperamos ter um dia.

Os tempos mudaram. Os pais de hoje foram obrigados a deixar um pouco do romantismo, nesta luta inglória do dia a dia. Chegam extenuados em casa, se intoxicam com os noticiários “desgracentos” das madrastas e pais assassinos, dos bêbados que dirigem três quilômetros na contramão, matando gente, que ao responderem aos policiais bafejam e cospem saliva alcoolizada, pior que os carros dual-flex, com motor perigando a fundir, com os dantas, cacciolas, dirceus e impostos criados no dia a dia. Em suma programas de dar pesadelos por cerca de cinco meses, após cada audição.

Assustados, crendo que são impotentes, muitos deles se livram das exigências normais dos filhos, dando-lhes a babá “videocassetética”. Que distrai o bambino, preparando-o para em breve “encher de porradas” nos fins de semana o primeiro que olhar para ele, depois de duas vodcas, ou algum “bagulho”.

Ao nascermos, repito isto todos os dias, dois instintos já fazem parte de nossa mente inconsciente: o instinto de prazer e o de defesa.

Se formos bem orientados, poderemos perceber quanto de felicidade podemos ter e distribuir. Poderemos responder a uma agressão com carinho, desarmando o agressor.

Se aprendermos com a violência doméstica e social, seremos agressivos, por estarmos em constante conflito com a insegurança, o medo disfarçado, o desrespeito que atinge à doença mental.

Precisamos saber nos defender. Também a fantasia é necessária. Pessoas criadas sob a égide da passividade, não conseguem vender sua pessoa. Vão se unir a pessoas dominantes e se tornarão ranzinzas, ou mártires sofredores, desagradavelmente chatos, que muitas vezes tentarão comprar os filhos com presentes e direitos que não são reconhecidos socialmente, para terem sua adesão ao seu modo de vida. Estes são os primeiros a dar vantagens destrutivas aos rebentos.

As TVs. querem audiência e faturar com a promoção dos vendedores de powerrangedores de monstros que nos lembram os canalhas de hoje. Chegam a dizer que pregam o bem, mas verão que é falsa a afirmativa, quando levarem um pontapé na canela ou noutras regiões impublicáveis, daquela sua figura descendente.

Talvez aí se perguntem: _Com quem este menino está aprendendo isto? Vou questionar a educação dada pela escola!

Deveria ir e aprender o que está sendo ensinado errado. Deveria ouvir a orientadora psico-pedagógica e tentar ser feliz, dialogando melhor, isto é, usando argumentos lógicos em linguagem acessível aos ouvidos do coitado, que é produto do meio, como iniciei falando...

Que esta resposta não torne meus leitores diminuídos, crendo ser uns ignorantes, pois isto, todos nós somos, mas que leve cada qual a refletir, se vale a pena continuar comendo deste pasto ralo que pretendem nos manter.

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