D E S E N C A N T O
Acordo, deixo a cama, descerro a vidraça, olho a vida que palpita lá fora, e tudo em mim se retrai na perspectiva de enfrentar um novo dia. Dia que o passar das horas se estende, se alonga e se perpetua como se eternas já fossem. Há nelas a deprimente solidão dos despovoados mundos, o indevassável e enervante silêncio dos sepulcros.
Numa frustrada tentativa de fuga, busco refúgio em meus pensamentos. Através deles poderei me alçar a distantes e encantadas regiões, onde tudo é luz, cor e movimento. Onde sorrio e todos me sorriem. Onde falo, escuto e sou escutada, onde amo e sou amada, onde volto a sentir a inefável carícia de uma felicidade que me parecia perdida.
Mas esse algo soberano que se chama Pensaamento se escusa o tecer de outros e inúteis sonhares, consciente que está de uma realidade que não mais oferece substâncias para o edificar de novas estruturas.
E assim me quedo vencida, e a Solidão se fazendo Senhora, me envolve, me arrasta e prostrada e vencida me deixa naquele seu tão desolado e opressivo mundo, onde só me resta escutar os 1000 gritos que vêm de um silêncio que chora, e que clama pelo O QUE JÀ FOI, e pelo O QUE AGORA PASSOU A SER.
Os ponteiros do relógio se tornam estáticos,
O Tempo para no Tempo,
E o passar do dia,
Eterno se tornou...
Maria Amélia