O olho sintoniza a essência...

O olho sintoniza a essência de toda uma vida. Desejos, temores, variações múltiplas de uma continuidade, presente a cada momento.

O olho sintoniza tanto quanto o coração assimila, cada emoção sentida com o extremo da sua força. A força da vida. Seja qual for, agitadta, taciturna, imprescindível, desprezível, etc.

O olho sintoniza as contradições dela, com sua fartura, sua miséria, sua paixão, seu descaso, sua paz, sua guerra, sua gula, sua fome, seu desperdício.

E de desperdício nós entendemos muito. Sua prática é constante e ininterrupta.

O olho sintoniza a avassaladora paranóia do querer ir mais longe, quando nem perto de nós mesmo, conseguimos chegar. O distanciamento sempre foi uma rota segura, aplicada em todos os parâmetros, como um benefício, um bem comum.

O olho sintoniza a distraída atenção com que tomamos as mais absurdas decisões, contra fatos, pessoas, delineando supostas atitudes do bem pensar, do bem ser, do bem agir. Desculpando-nos pelos erros que cometemos através de formas e de atos impensados, traumas psicológicos ou afetivos, que culminaram no descarregar de energias brutalizadas em elementos desavisados ou incautos.

O olho sintoniza a hipócrita relação macho-fêmea, dos namoros eróticos, do primeiro orgasmo, da primeira paixão, do encontro escondido, do repulsivo escárnio dos parentes, à união até o final dos tempos. Subvertendo a ordem dos fatores com enlaces perfeitos, nos felizes para sempre, na ordem familiar, nos filhos jogados de encontro com uma realidade não provocada por eles, ao desencontro de opiniões, a traição fictícia, ao relacionamento cordial, mas com um universo de distância.

O olho sintoniza a falta de comprometimento, a falta de sinceridade, a falta de

coerência, a falta de aproximação, a falta de nexo. As relações são uma fantasia provocada pela exigência de alguns mantenedores da escusa ordem pública, e que de pública nada tem, nada oferece, mas pede com a mesma violência de uma bomba atômica, encarcerando e subjulgando quem se detém a pensar noutras alternativas.

O olho sintoniza esse quadro apocalíptico e traz do fundo do seu ser, o desespêro por assistir traumatizado essa infâmia chamada cotidiano.

O olho sintoniza e por isso...chora.

Para muitos amigos, entre isso e outras coisas piores aconteceram. Infelizmente.

Peixão89

Peixão
Enviado por Peixão em 04/04/2005
Reeditado em 29/03/2008
Código do texto: T9684
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