Jardineiro do Éden
O jardineiro do Éden cultiva muitos canteiros. Entre eles, o canteiro da espera, onde se cultiva a arte de esperar no jardim. Esperança floresce nesse canteiro, onde é dada a lição fundamental ao aprendizado da espera. Aprendizado da espera da germinação do semeado no jardim.
A arte de esperar tem aroma de poesia. A mulher espera o filho, o amante espera a quem ama e Deus espera o melhor de cada ser. O jardineiro conhece as delícias e os mistérios da mulher que tece no seio outra pessoa. Ele espera fielmente em harmonia com os ciclos do tempo - espera, assim, uma cronoesperança.
Esperar, pleno de amor, mesmo quando tudo clama ser inútil a espera. Amor incondicionado a resultados imediatos. Amor que espera do ser amado o gesto de reciprocidade ou reconhecimento e espera resolutamente mesmo em meio ao desalento e à indiferença. Já que confia, acima de tudo, na supremacia do Amor.
Expectativa e espera implicam em risco de decepção. Mas a fé consiste exatamente nisto: esperar sempre, mesmo que pareça impossível a compaixão e o enternecimento. Firmemente esperar, em meio à mentira, a indefectível revelação da verdade ou, em meio à escuridão, o resplendor da luz.
O jardineiro do Paraíso é mestre na espera do alvorecer, quando em meio à penumbra percebe o despertar da vida. As plantinhas se espreguiçam e as flores bocejam. O jardineiro vê o invisível e espera, a cada dia, por mais essa ventura – a de ver despertar o seu jardim, suavemente, perfumando e bailando a sinfonia dos passarinhos.
Assim estava a esperar o Jardineiro da Vida, no alvorecer de um dia, há séculos atrás. De tanto esperar com absoluta fé colheu da morte a Vida e da dor o júbilo. Aquele que não era mais esperado por seus amigos resplandeceu na aurora, para espanto e felicidade da Maria de Magdala. E este dia se perpetuou e é ainda celebrado em cada agora.
O jardineiro do Paraíso pensa no hoje, no ontem e no amanhã? Que mistérios vasculha o jardineiro enquanto planta estrelas e colhe flores? O que será que germina nesse coração e que desabrochares espera? Que beijos e carícias guarda ou aguarda do cotidiano? No meio do campo ou da urbe, que florestas umedecem os rins do guardião de modestos canteiros plenos de encantos? Qual o canto que embala sua espera do florescer e da difusão dos aromas das plantas? Quantas árvores esse jardineiro espera que cresçam e qual colheitas aguarda receber? Quanta fidelidade cultiva este jardineiro em seus dias que passam e já não voltam? Que gozo experimenta em sua solitária contemplação do jardim, que se descortina à visão desde o canteiro da espera? A quem conduz o percurso pelo jardim das delícias?