O Senhor sem os Anéis (ou, alguma coisa tem que mudar para que tudo continue a mesma coisa)
É cada vez mais verdadeira a velha máxima citada por Lampedusa no seu clássico, “O Leopardo”, romance magistralmente levado às telas de cinema por Luchino Visconti, que diz: “alguma coisa tem que mudar para que tudo continue a mesma coisa”.
Lampedusa estava se referindo à realidade social da Itália, no século XIX, sob a ótica de uma nobreza decadente. Sua frase queria dizer, simplesmente, que a sua classe social teria que fazer algumas concessões para continuar existindo, mantendo alguns dos privilégios que tinha. Ou seja, popularmente falando, a frase poderia significar “vão-se os anéis, ficam os dedos...”, mas, na realidade, ela é mais complexa, mais abrangente e representa uma certa revolta conta à mudança permanente que o passar do tempo provoca. Seria uma frase-mandala, figura de areia colorida que é pacientemente elaborada pelos monges, para ser imediatamente desfeita quando pronta, representando a transitoriedade de tudo o que existe.
Tal transitoriedade é uma regra geral, e pobre de quem não aceita as mudanças inevitáveis, acrescentando-se, como conseqüência lógica, pobre de quem deixa de lutar contra mudanças evitáveis e francamente desvantajosas.
(Caso a luta fosse uma perda de tempo, o Dalai-lama não teria saído do Tibet, nem estariam ocorrendo manifestações pró-Tibet nesse período pré-olimpíadas de Beijing).
Pois se mudanças tem que ocorrer em face dos incontáveis problemas originados pela ação humana no planeta e nos conflitos étnico-sociais, o reconhecimento, hoje, é de que tais problemas só poderiam encontrar as suas soluções mais adequadas dentro de um entendimento global baseado em critérios racionais e científicos e que possam beneficiar, ou pelo menos não prejudicar, a todos os outros povos do mundo. Ou seja, os países ricos do mundo terão que mudar o seu estilo de vida, já que é insustentável impingir ao mundo todo os seus padrões de consumo e de conforto.