PENSAR NA UNIVERSIDADE

Estupidez é obrigar quem passa pela Universidade a aprender uma profissão. Vai-se à Universidade estudar cultura, estudar o mundo.

Darcy Ribeiro

No ensino universitário brasileiro é corrente a idéia de que sua função primordial consiste em preparar sujeitos para mercados. Assim, o modelo reprodutivista fundamenta as práticas pedagógicas gerando o que ouso chamar de “razão acorrentada”.

Parte desse equívoco está na consciência professoral plena do que se conhece por “pedagogia diretiva”, menina dos olhos de uma educação a serviço dos interesses capitalistas. O pensar, portanto, põe, digamos, o capacete da “razão instrumental” acarretando duas conseqüências deletérias: acomodação e falta de imaginação. Consolidando ainda mais o quadro alienante, no dizer de Paulo Nathanael Pereira de Sousa, “(...) a regra geral da docência superior no Brasil traduz-se pela repetição de lições nascidas todas de um saber cediço e estruturado, que não raro se desatualiza e atinge as raias da inutilidade para o educando”.

Muito além de formação técnico-profissional há de estar Universidade digna deste nome. A cultura, o mundo, a vida, são o porquê de sua existência. Nela, a educação para o pensar (e pensar certo) busca argumentações fundamentadas, consciente de que os sentidos contêm aberturas críticas infinitas.

Pensar na Universidade é “imperativo categórico”, só é possível quando cada um se constrói numa perspectiva de autonomia social. Estou com Pedro Demo: “Saber pensar não combina com cidadania tutelada, aquela que nos quer massa de manobra, submissos e ignorantes. Nem combina bem com cidadania assistida, porque aceita apenas a assistência necessária e tem como ideal viver sem assistência. Combina com cidadania emancipada, aquela que sabe o que quer, por que quer e como quer”.

Parafraseando Horkheimer, a denúncia daquilo que hoje chamamos de pensar é o maior serviço que o verdadeiro pensar pode nos prestar. Afinal, a reflexão, a filosofia, não podem fabricar leituras fetichizadas? Quantas vezes não encapotam dominações, preconceitos e barbáries de todo gênero?

Ou nos lancemos resgatando a “razão emancipatória”, derruindo a trindade do mal pensar – eficácia, dominação e posse - ou, irremediavelmente, as fábricas de ignorâncias persistirão. Que nosso pensar, enfim, seja dialético, que suas categorias básicas - totalidade, contradição, mediação, ideologia, práxis -, sejam exercitadas não só para fazermos os silêncios falarem, mas, sobretudo, para que possamos descobrir “inéditos viáveis”.

Ary Carlos Moura Cardoso

Mestre em Literatura pela UnB

Pós-Graduado em Educação (UnB)

Pós-Graduado em Filosofia (UGF)

Professor da UFT