ENSINO SUPERIOR E DEMAGOGIA.
Surge o ensino superior como a panacéia de todos os males dos brasileiros.
O discurso oficial e de alguns é de que a felicidade plena, a realização e a distribuição de rendas passa necessariamente pelo acesso ao ensino superior.
Quer dizer que o porteiro de um prédio, o frentista de um posto, o motorista de ônibus, a empregada domética, enfim todos que desempenham atividades sem o requisito de formação superior não merecem ter a mesma sorte de um "doutor"?
Sou formado em Direito e garanto que o melhor da minha formação humanista colhi no ensino de primeiro grau e médio. O resto foi por conta de um estudo auto-didata.
A faculdade para mim apenas serviu como habilitação profissional. Nada mais.
Se pegarmos as estatísticas, veremos que os profissionais de classe média com ensino superior são os que sofrem mais de infelicidade porque ocorre um fenômeno de distanciamento do homem de sua família e da alegria com as coisas simples da vida.
Uma boa cerveja com os amigos, vale mais do que algum dinheiro a sobrando no bolso sem felicidade.
Vejo o homem simples sem instrução alguma rir mais com a vida do que um "doutor" cheio de depressão.
O que não se pode é negar ao cidadão o acesso à escola, ao ensino básico, fundamental e médio.
Daí para a frente, a sua boa formação, a sua curiosidade e vontade investigatória farão a diferença.
Pensar de outro jeito é admitir de forma velada alguma coisa da teoria lombrosiana e de algum pensamento eugenista, como se preto, pobre e índio precisassem sempre de muleta para andar.
O que o povo brasileiro precisa é de respeito e amor.
Respeito e amor materializado em habitação, saneamento, saúde, lazer, educação e trabalho.
Com essa história de ensino superior, repete-se a miragem do eldorado.
Todos pensam que a solução da causa impulsiva está no tratamento da causa final.
É como começar a ler um livro de trás pra frente ou de cabeça pra baixo.
Reforma de base significa começar da base. E onde está a base da educação? No ensino superior? Logo no topo da pirâmide?
A banalização do ensino superior vem enriquecendo donos de faculdades, criando o ridículo cenário de mais de cinco ou até 10 faculdades de direito em uma só cidade, como também de fisioterapia e outras mais.
Com isso, o profissional (mal)formado passa a ser proletarizado e tudo volta a ser como antes.
Nesta mar de ignorância, alguém para sair da massa e destacar-se precisa cursar pós-graduação, mestrado e doutorado.
Quando todos tiverem acesso ao doutorado, qual será a solução?
Criar títulos nobiliárquicos para diferenciar novamente?
Isonomia é um conceito que passa primeiro pela noção humanista de igualdade, fraternidade e liberdade.
Desde que esse tripé seja respeitado, tanto faz ter curso superior ou não.
Sendo cidadão e exercendo plenamente a cidadania, o homem é feliz.
O canudo é um detalhe.