A Estética Midiática da Tragédia

A Estética Midiática da Tragédia

Quando o Presidente estadunidense John Kennedy foi assassinado, o mundo todo em novos tempos contemplou o marco de uma mídia descobrindo um ótimo filé tenebroso: a morte, o horror. Quanto pior a tragédia inusitada, melhor para os canais de comunicação em geral. O globo terrestre em tempos de bisonho e americanalhado macartismo sofreu o chamado open-doping da mídia valorando um político que, muito tempo depois, revelou o clã todo em desastres, doenças mentais (como o Clã do "Risco" Bush também), até perversidades, tramóias, conchavos, prevaricações, comportamentos pervertidos e ainda a suspeita que não quer calar, de que os Kennedys-vítimas de ocasião na verdade foram alvos sazonais de queimas de arquivos por causa de algum interesse escuso da católica Mano Negra em país de maioria protestante capitalista-caipira. A partir de então, aos poucos a mídia em geral atacou forte nesse filão de violência que atraia e atrai interessados entre as classes B, C e D da incauta população, dando, afinal, em eras de infovias e de uma nefanda globalização neoliberal (nada ética e nunca humanista) em um chamado Quinto Poder (A Violência generalizada), quando um estado substituto - resultante imediatista da proposital falência do estado de direito, na era do contrabando informal, da terceirização que promove o neoescravismo e das privatizações-roubos - assumiu o controle da periferia S/A (com seus ramos nos demais podres poderes), quando as imagens de ataques dantescos, chacinas impunes, chuvas e inundações, guerras com fito de posses, estupros mirabolantes, eliminações prometidas e outros tipos de barbaridades nos meios de contrastes sociais, riquezas impunes e lucros injustos, legaram um volume de arbitrariedades de tamanho volume que alimentaram os interesseiros bastidores da "máquina de fazer cabeças" que é a tv, gerando bobos programas ao vivo onde bandidos viram monstros sem direito a defesa, culpados se achacam a bel prazer de enxovalhos pseudomoralistas, criminosos de ocasião são julgados por fofoqueiros com godê à revelia do princípio do contraditório pela aparição pública, e o que era informação vira brechó de imprensa marrom e popularesco programeco de baixo nível em tempo de muito ouro e pouco pão, quando, paradoxalmente, por incrível que possa parecer, os verdadeiros corruptos de sempre, notadamente de extrema-direita, são intocáveis em labirínticos processos que caducam pelas falhas técnico-administrativa de nossa justiça suspeitamente cega que tarda e falha, quando não, os próprios abutres da violência dos meios da comunicação criticam os humanos direitos dos direitos cidadãos-contribuintes, valoram (sem conhecer a historicidade do país) a pena de morte só para os coitados dos arigós de sempre, e estão mesmo na verdade mancomunados com os ladrões de colarinho branco, de terno, gravata e impunidade parlamentar, aos quais dão guarida e bancam a ignorância política geral sob o enfoque do burro mote "rouba mas faz!", ou, “é dando que se recebe” (ou, “esqueçam tudo o que eu falei”) onde mamam cargos, simpatias e outras colheitas do amigo do alheio. E vai por aí a cantilena entre chacais. Com essa derrama social, com essa comanda cultural toda no refluxo do inconsciente coletivo, os rocks dantes dançantes viraram pesados no pior sentido, os Raps da juventude rebelde falam de palavrões a termos sujos que, chistes ou chulos, popularizam o doentio, o ignóbil, o vil, quando as gangues refletem a sociedade em decadência moral se infiltrando em manchas organizadas e independentes de torcida- violentas e imbecilizadas pelos falsos craques, placares e calendários superestimados, quando a arma substitui o cartão de crédito, a posse substitui a mais valia na luta de classes, e, os pobres querendo sair dos guetos acham no espetáculo das baixarias o deguste para suas implicâncias frustradas de dívidas sociais impagas desde a falsa libertação de escravos (que só indenizou os donos deles, não as vítimas), que passou depois pela Canalha de Primeiro de Abril de 1964, e terminou na rendição de um ex-sociólogo, ex-marxista e ex-ateu ao seqüestro de um sonho de uma mudança radical em favor dos excluídos sociais e em punição dos marajás de todos os tipos, de tribunais a casernas, de totens capitalistas a midiáticos por interesses puramente especulativos. Com isso tudo, perdeu a informação, perdeu o jornalismo, perdeu a imprensa, e ganhou a velhacaria dos abelhudos repórteres que, no açodado das aparições trazem fatos berrantes, daí surgindo programas como o do Ratinho (que melhorou só um pouquinho para depois acabar chulo e vergonhoso), indo por aí o espetáculo da tragédia, a invenção do aterrador com falas e depoimentos vergonhosos, quando alguns transvestidos de jornalistas (mas formadores de opinião discutível) se esmerilham em arrancar palavras e nódoas circunstanciais de matadores de aluguel, de seqüestradores de plantão, além de arrancarem lágrimas dos telespectadores pegos pra cristos de ocasião ouvindo rezas de reféns, gritos de alerta de policiais incompetentes, mostrando delegados marajás se dando importância em apurações de problemas que vieram na verdade de denúncias anônimas, pois, afinal, nesses tempos tenebrosos valora-se o dedurismo e as panelinhas se fecham quando alguém feroz cutuca a mídia com ética curta. Daí se viu o clamor popular da morte do Ayrton Senna que quase virou santo tropical, parando o Brasil e colocando todas as câmaras enfocando o trajeto do enterro, do velório, das ex-isso, ex-aquilo, quando até, acreditem se quiser, um e outro babaquara politiquinho chinfrim cara de Popeye notadamente da ala direita se prostrava candidamente feito bezerro de ouro desmamado em frente ao caixão, dia e noite, como se ali, entre fhases, no meio de esportistas de renome e gabarito tivesse importância sua cara de pau forjando luto, querendo ganhar notoriedade com a morte, querendo finalmente aparecer, ser bem votado por tolos, já que como atuador em pelejas pró-cidadãos era um aleijado de todas as formas. Depois veio o mesmo problema com o Leandro da dupla sertaneja, e confiram, lá estavam os mesmos "aparecidos" querendo ganhar notoriedade além do boca-a-boca pré-urnas, do corpo a corpo de uma campanha eleitoral, e, indo e vindo, ao lado de autoridades oficiais, pareciam querem aparecer mais que o falecido, quando novamente a dor, a tragédia, a morte, tudo ao farol da mídia viciou a estética popularesca do horror, do hediondo. Popularizados os programecos desse tipo, todos liderados por loquazes papa-defuntos da mídia e pouco afetos a humanismos de resultados, esses programas e seus tarecos ganharam horários nobres, logo estavam refletidos em novelas (balas perdidas e assaltos a condomínios ricos, claro), em roupas cabritadas vendendo peixes utópicos, e, vai saber se um dia esse Brasil de Todos os Cancros e Carandirus Tucanos não se transforma nisso mesmo, num Circo-Horror-Show, com cada clã dando sua parcela de morte e lágrimas, de ataques e chiliques, de bandeiras e estereótipos, então só nos restará desligar a tevê e ir ouvir o bom rádio-tijolo novamente, quem sabe ler um jornal de vez em sempre, ou mesmo catar as rencas de livraços nas bibliotecas públicas do PT e voltar a ler Macunaíma, Grande Sertões Veredas, Memórias Póstumas de Brás Cubas e outros clássicos nacionais. Até porque, justiça seja feita, agora no paiol da Literatura tupiniquim já se aventuram escritores interessados em explorar esse filão do Quinto Poder, daí surgindo desde Cidade de Deus (que é um trocadilho, claro), até filmes falando de matadores de aluguel importados do mercosul a outro roteiros no mesmo fulcro, vendendo a violência e alimentando o Quinto Poder, mas nunca, claro, atingindo as análises dos propositais erros, tramóias (máfias e quadrilhas) prevaricações e mentiras eleitoreiras de tipos ricos e boçais como o próprio FHC, que o José Simão da Folha de São Paulo muito criativamente tachou de FHNistão (e eu o rotulo de Pai da Fome), e que, mesmo quando estava com a ilustre ex-primeira-dama do país em campanha com o embuste do Plano Real e a re-eleição (comprada pelo mensalão), e tendo engravidado uma outra fora do casamento (só se soube mal e porcamente agora), ao contrário do que fizeram com o operário Lula, deixaram o tucano fora do contexto da informação crucial que refletia caráter e transparência sócio-familiar, quando podiam também jogar farofa no ventilador das etiquetas e aparências sociais, provocando então o desmonte de uma imagem maleixa, porque, para achacarem pobres coitados ladrões de galinhas, vítimas e culpados de baixo nível, essa mídia insana com esse lado podre pode, mas, desmontar circos e antros de escorpiões de uma burguesia decadente da burra e insensível classe dominante não, ou estaria jogando contra si mesmo, porque, na verdade, talvez cada país tem mesmo a ala banana da imprensa marrom que bem merece. E, e bem dizer, depois que a revista Época vendeu (...) bem a morte de um fotógrafo e atacou os Sem Teto, depois que o Sílvio Santos para se vender (e vender seu habitat midiático) inventou uma doença terminal e uma morte anunciada, Roberto Marinho morreu de verdade mesmo e a Globo, claro, não perdeu a chance e vender seu morto (e sua historicidade ainda não auditada historicamente pela ética) de todas as formas possíveis, em todos os horários imagináveis, de todos os trejeitos imagéticos cabíveis, chegando inclusive à pachorra de querer torná-lo um neopopularesco de ocasião. É a morte dando lucro, Ibope e vai por aí a prosopopéia fugaz. Agora o caso da morte da menina Isabela. Quem agüenta o horror da morte sangrando na telinha? Depois dela, claro, virão outros monstros, mortos, curiosos, fuxiqueiros, papo aranha para tudo. E uma impunidade disfarçada, claro. Eu, por mim, vou ouvir Pixinguinha, Noel Rosa e Dorival Caimy, vou fugir de enterros virtuais, velórios televisivos, homenagens póstumas sem auditorias morais em vidas pregressas, entre santos de paus ocos a falsa favela duas caras da Globo também duas caras... E quem quiser que fique ligado nas barbaridades por atacado de nossa televisão valorando a violência e esturricando noticiários de tristes reflexos emergentes disso, inclusive a morte de seus próprios profissionais, assistidos também por causa de impunidades antigas financiadas por desembargadores aposentados e sem quarentena ética e por programas de baixíssimo nível que dão lucro e ibope. Para mim tudo na tevê parece um baita samba do crioulo doido. Saravá Ponte Preta!

Silas Correa Leite

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