Sobre a moral da imagem
As imagens são criaturas muito fugazes e presentes nos nosso dias, elas nos pertencem ao mesmo tempo em que fogem ao nosso controle. Como vamo perceber isso de forma corriqueira? Como podemos entrar do teórico ao prático de forma que não possamos soar como meros papagaios de grandes pensadores? Simples, vamos tomar o caminho do ensaio, um lugar onde podemos ter toda a liberdade de pensar que nos é própria e a formalidade nos poda.
Pretendo aqui abordar de forma livre, porém bem pensada, sobre como as imagens estão ligadas, ou não, à nossa moral. Como simples ponto de partida eu tomo o egoshot como um fato primordial e recente da manifestação da imagem nas nossas vidas, depois que as infernais câmeras digitais tomaram corpo e popularidade com seus preços a forma mais comum de expressão é o egoshot, ou seja, uma foto da pessoa que é a o dona do aparelho. Essas fotografias condensadas num único ângulo e detentoras do ego de seu fotógrafo, no caso o próprio usuário da câmera, são a expressão mais ridícula de um moral egocêntrico que tanto caracteriza nossa sociedade atual. Mesmo que alguns afirmem que isso nada mais é que algo corriqueiro e cotidiano eu reclamo os devidos valores que tal fotografia carrega.
Facilmente perceptível é a carga egoísta que tal ramo, se assim pode ser considerado, esse esquema pronto de fotografar carrega. O sujeito mostra-se como sendo o foco mais importante de todas as atenções, não que eu queira desmerecer a importância do indivíduo na sociedade, mas sempre é bom ressaltar que tudo o que se pensa, tanto em questões de lei quanto de qualquer política pública é voltada para todos e não para uns poucos que se acham mais importante que tudo o que há por aí, inclusive os políticos corruptos que se incluem aqui nesses termos.
Depois de pensarmos, de forma rápida é claro, a carga egocêntrica vemos o alto grau de exaltação do sujeito como indivíduo, algo que não é tolerável dentro dos parâmetros atuais do mundo. Mesmo que toda a propaganda diga que o sujeito é mais importante que os outros isso naõ funciona no mundo das imagens, por mais que os egoshots digam que focar-se é mais interessante que qualquer outro ângulo descobre-se, após certa análise, que os egoshots são um gênero fadado ao fracasso, pois concetram-se naquilo que é menos importante dentro do processo de produção da imagem: o eu.
Quando se fala em criar imagens o outro é mais forte que o eu que a cria, pois só se produz a partir do outro, o eu é somente a ferramenta que possibilita que todas as imagens sejam criadas, o egoshot resume-se em uma figura estática e pouco original, algo que não pode ser enquadrado como uma imagem interessante em ser observada.