TRILHAS DA VIDA

E, pensando sobre a trilha que alimenta e sustenta a vida no organismo... podemos ter no alimento, uma via que baliza o caminho, e nesse aspecto, em várias etapas o corpo humano retira de tudo o que ingere quanto aos nutrientes das matérias-primas para a sua existência.

Boca... pensar em comer, imaginar o comestível e ela se enche de saliva, dando início ao processo de digestão; pensar em amor e a boca quer sentir e tocar, com lábios macios, sorvendo o que outra boca tem a oferecer... a sonoridade da sobrevivência canta a poesia e o grito surdo faz-se ouvir na madrugada.

Estômago... transforma o alimento num líquido viscoso, fragmentando-o quimicamente para facilitar a absorção pelo intestino; nos seus caminhos tortuosos, navega a essência vital que irá verticalizar aquele ser que carrega fragmentos de emoção e ansiedade sabotando o destino... então por vezes, fecha a fenda onde a liberdade se revela.

Fígado... armazena sob a forma de glicogênio, toda a glicose não utilizada pelas células periféricas da circulação... isso nos faz não sentir fome a toda hora; o doce presente guardado no recôndito de si mesmo pode aprisionar os intentos do sofredor... ninguém o vê, nem o deseja antes da hora clandestina.

Célula... captura a glicose em circulação e, por meio de uma reação com o oxigênio, a transforma em energia. O esperado encontro acontece, a simbiose entorpece a razão e quer apenas transcender em sua essência.

Cérebro... ele que agrega os mais potentes sensores que medem continuamente a concentração de glicose no sangue, pois é o órgão que mais a utiliza; tem fama de controlador... senhor dos dias eternos, em vigília constante conhece os seus, dentre os algozes disfarçados e mantém o segredo a salvo até a “noite do acontecimento”.

Suco gástrico... amalgamado num composto de ácidos que quebram as longas cadeias de átomos dos alimentos, transformando-os em pequenas moléculas; o poder do grande guardião é célebre entre seus companheiros e, se arrisca porque sabe que não pode abandonar os seus ou se autodestruir.

Intestino... aqui e acolá, onde se completa a digestão, proteínas são fragmentadas em aminoácidos, carboidratos em glicose e frutose e a gordura torna-se hidrossolúvel caindo na corrente sangüínea; nessa tertúlia, todos se encontram, se amam, se protegem e labutam para que a grande obra possa vir ao mundo, ser provedora e fiel de seus mais belos sonhos.

Criatura... olhas em torno e vês! Tudo é dádiva, é cenário previamente construído nos neolugares impermeáveis do mundo não-físico, não-material... palco armado para mais um evento cosmogônico; uma história que será contada em todo o universo, nas trilhas por onde a tua energia percorrer.