O Escritor e as palavras

Nós, que fazemos parte do mundo da escritura, desenvolvemos olhares especiais aos escritos e ao universo da escrita. Sabemos o significado de cada letra esboçada, desenhada, pincelada. Nos brancos de uma tela, no pensamento que voa .........

Respeitamos o escritor que há no outro. Temos afinidades que violam as leis da física e, transcendendo tempo / espaço, fazem - nos romper os limites do óbvio. Nessa relação de escritores e escrituras estamos e somos sujeitos de desejo, tentando construir os próprios desejos, sermos donos de nossos discursos, de nossas palavras, de nossos atos. Nomearmos o nosso desejo, apesar do desejo do Outro. Não há garantias de que o fazemos, contamos com o benefício da dúvida. Com o movimento dentro. Inquieto e provocador.

Na escrita temos o poder de sermos os únicos que nos sabem e sabem o que ela fala, ou o que se denuncia, se renuncia se tece. Desejos, interditos, não - ditos, agitos, manuscritos..... Segredo inviolável, impossível de ser decifrado.

Entre o leitor e o escritor há algo que se desvela de cada um. Em cada um e outro.... A escritura nos permite sermos civilizados diante desse mal estar que assola a humanidade e devora os que, ao se calarem, não se valem da escrita pré - dita, sentida, falida, bandida, parida, partida, emudecida........... fazem sintoma num corpo exaurido de lutar contra seu desejo, suas fantasias. Ah!!! quem dera todos os "loucos" ganhassem uma pena sem pena, aquela que se cumpre ao desenhar com os próprios pincéis os próprios desenhos. A de se tornar um amante exigente da própria pena e então em suas letras colorir de preto e branco a vida a cores. Com letras, pinturas, esculturas .... há tantas formas de se escrever!!! De nos inscrever! Enlaçando para que as fitas se soltem, se prendam, se entrelacem. Sem a dor dos NÓS. Travessia.

O mistério do escritor está na magia e encantamento, ora na ousadia, outras no silêncio escuro e mudo de sua vida, nas manhãs ensolaradas, noites alumiadas. Sóis amanhecendo e luas anoitecendo. Girassóis que se abrem à luz do luar e ao calor do sol. Girando e gerando vida. Sem arbitrariedade cronológica o mistério se oferece. Escrever é um mistério de quem tem em suas mãos uma pena com tinta fresca, em seu coração uma razão pra solidão das palavras que não puderam ser entoadas, estão entocadas onde se esconde o intocável e desejável horror de cada um de nós.

O Verbo se fez Carne e se faz palavra para salvar os poetas, os escritores, os romancistas e trovadores,os compositores e louvadores. Desenhistas, pintores. A palavra liberta, pela sua via o sujeito se constrói. Seja palavra falada, escrita, cantarolada!!! Seja bem vinda e bem ida!

Soraia Maria Lopes Martins.

SoraiaMaria
Enviado por SoraiaMaria em 02/04/2005
Código do texto: T9315