Aula 4 - Abordagens Interpretativas

In: MALANOVICZ, Aline Vieira. "Safári de T.O: o Percurso de uma Estudante Exploradora pela Diversidade das Teorias Organizacionais". Revista Pró-Discente: Caderno de Produções Acadêmico-Científicas do Programa de Pós-Graduação em Educação - UFES, v.27, n.1, 2021. Disponível em: https://portaldepublicacoes.ufes.br/prodiscente/article/view/28547 Acesso em: 31 ago. 2021.

A organização é um verbo, e não um nome.

Conforme o que já estudamos nesta disciplina de Teorias Organizacionais, os teóricos que tentaram modelar as organizações de forma mecânica adotaram perspectivas que apresentam a organização como uma estrutura estática, e deixaram de lado aspectos fundamentais do estudo dos complexos sistemas organizacionais, tais como as interações dinâmicas que se estabelecem entre as organizações e o ambiente. Assim, as teorias e abordagens que procuraram representar a organização por estruturas ou medidas estáticas de determinados seus componentes mostram-se limitadas na sua tentativa de compreensão das organizações ao não considerarem como hipóteses as dimensões componentes do ambiente que não são precisamente mensuráveis por serem mutáveis, dinâmicas, ambíguas, inexatas, mas que determinam a estratégia e as tomadas de decisão dos gestores das organizações.

Entretanto, quando considerada como um sistema interpretativo, a organização é analisada como uma atividade social humana altamente complexa, pois o ambiente em que atua é complexo, mutável e freqüentemente sujeito a incertezas e ambigüidades. O relacionamento da organização com o seu ambiente é construído no processo em que os gestores obtêm as informações, interpretam informações, dão significado a elas, compreendem-nas de acordo com o contexto em que elas se encontram para a organização, decidem com base nelas as ações a serem tomadas, agem e reagem no ambiente. Assim, transformam dados em entendimento sobre o ambiente, criando conhecimento ao aprender com essa interação. Conforme essa abordagem, a organização deve ser vista como um processo, e não como uma estrutura ou entidade, porque sua existência constitui uma contínua interação de aprendizagem com o ambiente em que está inserida.

Segundo Daft e Weick, a interpretação das organizações a respeito do ambiente em que estão inseridas pode ser realizada de modos (modalidades: representação, revelação, visão indireta e visão condicionada) que são determinados conforme as crenças dos gestores a respeito da possibilidade de analisar esse ambiente externo e conforme a intensidade da interação ou intromissão da organização nesse ambiente para compreendê-lo e modificá-lo.

Quando a organização interage com o ambiente, tomando atitudes que podem alterar esse ambiente, essa interação pode afetar as novas informações que ela obterá dele depois disso. Essas novas informações podem afetar, por sua vez, a posterior (re)ação da organização em relação ao ambiente, que por sua vez, pode afetar as novas informações... recursivamente, o que a configura, não como uma estrutura estática, mas sim como um processo dinâmico e complexo.

Essa interação é, por sua vez, baseada na crença da organização em sua capacidade de alteração do ambiente para seu próprio benefício, pois todo esse processo de criar conhecimento, aprender e inventar o ambiente, é isso que permite aos gestores explicar, extrapolar e mesmo prever eventos. Isso serve de base para decisões de posicionamento estratégico para melhorar o comportamento da organização e também do sistema como um todo, mudando tendências eventualmente desfavoráveis. E também serve de base para a escolha de ações para a condução operacional da organização como um processo único de maneira que os subprocessos internos e externos se alinhem aos seus objetivos estratégicos.

Dessa forma, conclui-se que a organização, ou melhor, o organizar, que é um verbo, não se limita a compreender, processar e interpretar a realidade do ambiente, mas sim procura decidir formas de intervenção, modos de conduzir o que deve ser alterado no ambiente para seu próprio benefício, e encontrar mecanismos capazes de modificar o ambiente em que está inserido. Portanto, as organizações agem de modo que constituem não uma estrutura estática, mas sim um processo contínuo de aprender e criar sentido.

Uma questão que poderia incentivar o debate sobre o tema seria:

Em relação ao conceito de alinhamento estratégico da Tecnologia da Informação com o negócio, pode-se entender que ele estabelece que as organizações sejam vistas como processos, tanto sob o aspecto de sua relação com o ambiente, como sob o aspecto de seu funcionamento interno, porque esses são dois aspectos de um processo único de geração de valor, que é a própria organização?

ou melhor:

O conceito de alinhamento estratégico da Tecnologia da Informação com o negócio estabelece que os processos de relação da organização com o ambiente e os de seu funcionamento interno sejam gerenciados como um processo único de geração de valor. Essa visão decorre da idéia de que a organização deve ser vista como um processo?

Conceito: A

Comentários da professora: Muito boa questão!

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Notas da aula de 05/04/08 (sábado)

Abordagens interpretativas

- A produção de sentido é o que define a própria organização. Por isso, a organização é um processo.

- O "real" só existe para mim se eu me apropriar dele. Não é independente nem exterior ao sujeito. Por isso, abordagens interpretativas!

- Verdadeiro e falso só existem quando se considera a existência de um único "real". Essa é a premissa realista.

- O ambiente não é "superior" nem determinante na vida do sujeito.

- "Apropriar-se de" é construir interpretando!

- Habilidade ou tentativa para fazer/dar sentido a partir de uma situação ambígua.

- Processo de criar entendimento e consciência situacional em situação de alta incerteza e complexidade a fim de tomar uma decisão.

- O processo de fazer sentido é coletivo, social.

- Algo existente, mas percebido só por alguns só passa a ser "real" quando faz sentido para outros! (só nós DECOFianos percebemos os problemas do DECOF!)

- A interpretação também é um ato social (não é só individual).

- A produção ativa de sentido é baseada ao mesmo tempo no indivíduo e na atividade social.

- "Framework" ou quadro de referência permite enquadrar interpretações (e nada funciona). Podemos sim escolher fazer leituras críticas, não somente somas passivas e associações condicionadas a essas referências.

- Produção de sentido ocorre quando há supresas, interrupções, porque aí se fica "obrigada" a produzir um sentido novo. Situações conhecidas, repetidas, já o têm, porque já têm uma expectativa de "script" a rodar.

- Não existe estabilidade absoluta, porque sempre tem mais surpresas.

- Pessoas disciplinadas acreditam no script e assim o legitimam (dominação) e o seguem.

- Pensar já é fazer; postergar a ação já é agir.

- O método do Weick exige a separação da parte individual da parte social da produção de sentido, mas esses aspectos são inseparáveis! Existe uma tensão contínua entre ambos sempre!

- A interpretação parece um produto; a produção de sentido é um processo; não é uma imagem, nem uma metáfora.

- O "ser no mundo" de Heidegger é "consciente" da sua existência. Uma samambaia é só um "ser".

- Compreender o texto é "compreender-se frente ao texto".

- "Ser" para a psicologia social também é um processo.

- O senso mutável do "self" é o "ser" (verbo), a identidade (substantivo).

- Construção do "ser" é contínua conforme as interações.

- "Como posso conhecer quem eu sou antes de ver o que eles fazem?" (p.23)

- A organização é a produção coletiva de sentidos individuais com objetivos.

- A organização não é um ente; não é um nome; é uma ação social. (Graaande vovô Weber!)

- O Racionalismo separa ação e pensamento. :-(

- A releitura dos clássicos permite uma nova produção de sentido.

- A produção de sentido retrospectivo é só por narrativa.

* Winograd e Flores (1986): SI não-racionalistas. :-)

- Produção de sentido é com histórias plausíveis, não acuradas.

- Scott: Teoria Institucional.

- Ler item Raízes históricas do SenseMaking (Weick p.64).

- Ocasiões para SenseMaking (p.86): quando há incerteza.

- VERBO E NOME: Processo é movimento, fluxo!

- Weick foi o pioneiro dessa idéia; a TI apressou!

- Ausência da categoria de poder!?!

- Ler o último capítulo do Handbook v.1: "Paradigmas..."

- Pegar no xerox "Traços fundamentais de uma Teoria da experiência hermenêutica" (texto para deixar de viajar nos miniensaios)