Amor e ódio à propaganda.

Lendo o artigo "Virou vício agredir o espectador", uma crítica de Roberto Duailibi, parti para o tirocínio pensador sobre a propaganda. Confesso que agi com parcimônia, o artigo citado passou por muito mais temas do que este, passou pela conjuntura econômica brasileira, as dificuldades de um profissional da comunicação se colocar na profissão, defender seus textos, enfim, a matéria do Jornalirismo merecia um ensaio mais profundo de minha parte. No entanto, abro mão da utopia que me persegue, aquela que sopra ordens aos meus ouvidos, de que tudo que escrevo deve ser minuciosamente pesquisado, inspirado e nenhuma conjuntura ou ensejo pode ser esquecido. Abro mão desta ordem utópica, deste objetivo, frente ao tempo que corre e escorre na minha rotina, gasto ou perdido com tantas coisas, que não me dão nem metade do prazer que escrever e publicar me dá.

Minha relação com a propaganda é de amor, medo e ódio, comecemos falando do ódio. Sinto a propaganda invasiva e isto me incomoda. Ela aparece, sem que eu peça, nos momentos que dedico ao lazer, ao conhecimento, ou simplesmente ao desanuviar, ali, então, lá vem ela, para me formatar, tornar-me padrão, consumidora, fazer-me obedecer a engenhosidade de um sistema de consumo que faz a economia andar. Pouquíssimas e raras, são as vezes, que a noto como informativa. As piores são as que tentam persuadir o espectador pela tentação aos pecados capitais como a cobiça, a inveja, a ganância e por aí vai. As que usam deste recurso, são as de maior mau gosto. 

Na matéria do Jornalirismo, foram citadas pessoas que atribuem à propaganda a culpa pela violência gerada das classes menos favorecidas contra a elite, por ambicionarem produtos que não podem ter, isto não é verdade, a culpa não é da propaganda. A culpa é da falta da propagação de valores na educação, a culpa é da ausência de um pátrio poder responsável, a culpa é da falta de valorização no ser, em relação ao ter. Talvez a propaganda pudesse colocar o poder que tem, à disposição de ações que corrigissem estas lacunas de valores. Vou além, não seria má idéia que em todos planos de mídia, verbas fossem destinadas a isto, propagar ações que agregam valor à vida civil, cotidiana, pois o buraco de nossos problemas estruturais e sociais vão além de uma melhor distribuição de renda. Supondo que uma melhor distribuição de renda acontecesse, qual destino ela teria? Poupança, ensino, drogas, saúde, alimentação, conhecimento, lazer, artigos de luxo? Nós, brasileiros - se é que dá para usarmos juntas, palavras tão díspares - temos fome de quê?

O medo, o meu medo, preferia nem falar nele, há coisas que se não mencionadas, deixam de existir, assim me ensina a máxima mais ignorante que preservo, quando para algo não tenho solução. Já vi propaganda bem feita colocar político no poder, nem sempre o publicitário pode ou quer, embora devesse, conhecer melhor o produto que irá promover. Tremo só de pensar na propaganda para fins políticos.

Bem, chega de críticas, falemos agora do amor e do reconhecimento. 

A propaganda brasileira está entre as melhores do mundo, é eficaz, abusa da criatividade, surpreende o público sempre, penso até, que ela está muito à frente dos outros meios de comunicação. Meu amor por ela vem, muitas vezes,  por me dar a noção do passar do tempo, as de fraldas, quando as vejo, fazem-me lembrar que os meus filhos cresceram, saudade; as de cremes para rugas, remetem-me a várias situações na juventude, nas quais, eu podia jurar que nunca iria usar tais produtos. E são inúmeras as facetas publicitárias que me fazem pensar que o tempo passa, eu estou passando, mas a propaganda fica. 

Ensaio inspirado na matéria:

http://jornalirismo.terra.com.br/content/view/323/26/