Aula 2 - Teoria da Burocracia
(OBS.: a professora não gostou nada deste texto...) :-(
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES BUROCRATIZAM O SERVIÇO MAS ALIENAM O TRABALHADOR
A partir do século XIX e principalmente depois das grandes guerras mundiais, a economia mundial cresceu enlouquecidamente e se tornou altamente competitiva, por causa das próprias necessidades de sobrevivência do sistema econômico capitalista. Nesse cenário, as organizações passaram a ter como objetivo estratégico não apenas a automanutenção e o oferecimento de seus produtos e serviços aos seus públicos, mas também o crescimento contínuo. Para tanto, foi preciso desenvolver conceitos e técnicas administrativas que ajudem a garantir a eficiência e a qualidade nos modos e nos resultados do trabalho. Com isso, a organização tornou-se uma estrutura social na qual a direção das atividades coletivas fica a cargo de um aparelho impessoal hierarquicamente organizado, que age conforme critérios impessoais e métodos racionais.
Nesse contexto, "burocracia", à parte da conotação pejorativa de lentidão na prestação do serviço por necessidade de carimbos e vistos em horários e guichês determinados, é conceituada como administração organizada, eficiente e controlada, valendo-se da escolha e aproveitamento racional dos melhores meios, modos e métodos para atingir os objetivos-fins da organização. Sob o aspecto do controle, o ponto a destacar envolve o "poder" do grupo dominante, que dita as estratégias, os objetivos e os modos de fazer o serviço, e a "alienação" do trabalhador que atua em uma organização burocrática sob os ditames do corpo diretivo dela, impedindo, por vezes, o pleno desenvolvimento profissional do trabalhador criativo.
Especialmente a partir do século passado, o modo burocrático de pensar, que envolve “atingir fins práticos calculando os meios a serem utilizados para tanto” deu ensejo ao desenvolvimento das técnicas administrativas, aliado à evolução das tecnologias de automação – principalmente das Engenharias Eletromecânicas, da Ciência da Computação, e da área da Administração voltada para os Sistemas de Informação. Isso permitiu racionalizar a execução dos processos de trabalho ao projetar sistemas, métodos e técnicas que ajudam a garantir a eficiência desses processos, de acordo com o modo determinado pelas regras impostas pelo poder do grupo dominante dentro da organização.
A partir da imposição do corpo diretivo, fica convencionado o uso dos sistemas de automação como obrigatório na organização, por ser mais eficiente, organizado, impessoal, conduzido sob critérios objetivos, controlado, não-corrupto e talecoisa. É conveniente para as organizações que o modus operandi do fluxo de trabalho seja padronizado e imposto por sistemas de automação, pelo uso da tecnologia, por todas essas razões e também como forma de legitimar pelo modo racional a burocracia – neste caso entendida como a dominação das regras – na condução dos processos de trabalho.
As intervenções nos sistemas automatizados, ainda que possíveis, são vetadas ao trabalhador sem poder de decisão e permitidas apenas ao corpo diretivo, que prefere impor a padronização da execução do serviço de acordo com os métodos fixados por ele no desenvolvimento do sistema de informação que apóia a organização. Ainda que o trabalhador perceba que os métodos de trabalho atualmente impostos não sejam os mais eficientes, ele é impedido pelo sistema de propor qualquer alteração no “modo como nós trabalhamos aqui nesta organização”.
Assim, o trabalhador fica alienado da sua criatividade profissional e alheio às opções de outros modos de fazer possíveis. Num contexto excessivamente burocratizado, uma pessoa altamente competente pode não ser capaz de exercer a gama total de sua competência devido a essas determinações específicas de procedimento, à esfera limitada de atividade, e à autoridade restringida devido a exigências hierárquicas.
Assim, frente ao trabalho mediado por sistemas de automação que determinam de maneira fixa, estabelecida e imutável o processo pelo qual deve conduzir o seu próprio serviço, o trabalhador se submete obrigatoriamente à imposição das regras de trabalho determinadas pelo corpo diretivo da organização e codificadas dentro dos sistemas de apoio, portanto ocultas ao próprio executante. O modo burocrático de conduzir a organização, embora eficiente, racional, objetivo e tudo mais, apresenta esta faceta de antagonismo entre poder e dominação, reprimindo a criatividade e as idéias discordantes.
Portanto, a questão problematizadora a ser proposta refere-se a “de que modo a organização burocrática consegue legitimar o poder do grupo dominante ditador das regras de serviço por meio do uso de sistemas de automação para apoio aos processos de trabalho?”.