VIGILIA

Ontem vi o passar da noite.

A insônia imobilizou-a, tornou-a interminável, quase eterna.

Em vão ansiei pelo deus Morféu. Mas ele não fez caso dos meus suspiros, nem das minhas ânsias e não se dignou a aparecer.

Ingrato! E eu que gosto tanto dele quando vou para a cama. È tão aconchegante! Gostoso!

Na tentativa de ludibriar a Inimiga, meus olhos teimosamente se fechavam. Tudo inítil. A desalmada não se deixou vencer e vingou-se

enchendo meu cérebro de angustiantes pensamentos, de indesejáveis recordações. Que tormento!

O relógio não andava, as horas não passavam, e tudo parecia morto. Até eu. Em dado momento, questionei-me; estou viva, ou morta?

Finalmente, desisti de ansiar pelo inconstante Morféu, e passei a ansiar pelo amigo e dourado Sol. Ele poria a noite em demandada, e eu retornaria a vida.

Contudo o Sol parecia não ter pressa em aparecer. Talvez estivesse até mesmo a dormitar nos braços de Morféu, uma vez que com este tudo se esfuna, apaga-se, desaparece. Até mesmo assemelha-se a Morte.

Será boa a Morte? indaguei a mim mesma

Respostas contraditórias, paradoxais, macabras mesmo fustigaram-me o fatigado cérebro. Ora lá! Não quero pensar na Morte. Pessoas qque eu muito amava, foram sorrateiramente levadas por Ela, e nunca mais divisei seus semblantes queridos, não mais escutei o carinho das suas vozes, o inefavel conforto das suas Presenças. Todos esses preciosos bens, foram substituidos por uma coisa que se chama Saudade, e que me faz doer o coração.

Não! A Morte não presta! Não passa de uma implacável Megera. Contudo, quando estamos sob seu dominio não existe também essa coisa também implacável, que se chama Insônia. E assim a Morte deve ser boa, pensei um tanto desconfiada.E logo.

Boa coisa nenhuma! A Morte não presta! È má, impiedosa, sádica, terrivelmente estranha.

E nesses entrechoques, nessa angústia e nesse tormento, o Sol finalmente surgiu majestoso, dourado e cintilante, num céu de um azul de encantar, onde nuvens muito branquinhas vagavam em indolente graça.

Deixei a cama, que parecia ter 1000 espinhos e levantei-me para um novo dia, para a Vida, com suas incertezas e imprevistos, com toda sua miscelânia de alegrias e tristezas, de risos e lágrimas, de ilusões e desenganos.

Não importava! O Sol dera Tchau a atormentada noite, e eu estava viva.

Levantei-me e sorri para o Sol.

Maria Amélia