AS TRILHAS DO HAICAI

Segundo estudos feitos, o mais antigo haikai que se conhece é de autoria do poeta Fugiwara-Sadaye (1.162 – 1242), que viveu no tempo do imperador Dotoba (1.180-1239), cujo texto é o seguinte:

“Espalhadas flores

quer pegar e pega apenas

o vento de chuva.”

Neste período, também foi escrita a primeira poesia em língua portuguesa, “Cantiga da Ribeirinha” de Paio Soares de Taveirós (1.189 ou 1.198), há uma dúvida com diferença de nove anos. Essa composição foi feita em homenagem a D. Maria Pais Ribeiro, a Ribeirinha, a preferida de D. Sancho, o segundo rei de Portugal. ( Note-se que já haviam canções orais, essa foi a primeira escrita de que se tem notícia)

“No século XVII Bashô, que era um poeta boêmio, fez escola e consolidou o haikai, essa poesia essencialmente sintética muito popular no Japão; porém a poesia mais popular é a “tanka”, de trinta e uma sílabas.”

Essa composição do haicai, como é praticada hoje, é resultante do “haikai do renga” (ou tanka), muito usada antes de Bashô; era um poema coletivo, em que um poeta compunha a primeira estrofe

(hokku), um terceto com 5-7-5 sílabas (ou sons). Em seguida outro poeta compunha a segunda estrofe, um dístico de 7-7 sílabas (ou sons) . E assim, cada poeta que chegava escrevia um dístico de 7-7 sílabas (ou sons) após um (hokku), chegando a centenas. Levavam anos para completar o poema. Não havia pressa em concluí-lo.

Bashô era adepto do “kasen”, um poema encadeado de apenas 36 estrofes (do haikai do renga).

AS TRILHAS DO HAICAI NO BRASIL

O haiku é chamado, no Brasil, haicai. O haicai é uma poesia de estação ou “saisonnière”. Tem que se limitar a impressões efêmeras, do momento que passa. O haicai está ligado às quatro estações do ano: de primavera, de verão, de outono e de inverno. Ele se inspira nos elementos da natureza em cada uma dessas fases. Os motivos de estação são a razão de ser da poética do haicai. Chama-se em japonês “ki dai”.

Segundo o registro de Shuhei Uetska (1876-1835), encarregado de conduzir os primeiros imigrantes, pelo hoje histórico navio Kasato Maru, que ancorou no porto de Santos em 18 de junho de 1908, foi um bom poeta de haikai, e compôs esse poema logo ao pisar em terras brasileiras, acompanhado por (793) compatriotas que vinham tentar a vida no Brasil.

“A nau imigrante

chegando: vê-se lá no alto

a cascata seca”.

Entretanto, as obras que devem ser consideradas como marco inicial do haicai no Brasil são: “Trovas Populares Brasileiras”(1919), de Afrânio Peixoto e “Relance da Alma Japonesa” (1926), de Wenceslau de Morais.

Mas o primeiro livro exclusivamente de haicais é de Waldomiro Siqueira Júnior - Hai-kais (1933).

“O haicai é, dentre as formas poéticas japonesas, a que foi mais amplamente aclimatada no Brasil.”

Afrânio Peixoto, Guilherme de Almeida, Haroldo de Campos, Millôr Fernandes, Paulo Leminski e Luís Antônio Pimentel são os que encabeçaram a lista, entre outros.

O haicai chegou ao Brasil nos livros de viagens, onde vinham traduzidos do francês ou do inglês, e vários outros divulgadores.

Paulo Prado cita como exemplo de haicai, no prefácio do Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, a primeira estrofe do livro de Julen Vocance, publicado em 1921, “Art Poètique”.

Os estudiosos do haicai brasileiro dizem que Afrânio Peixoto foi um dos primeiros cultivadores dessa poesia e teria aprendido com os autores franceses e não do contato com os imigrantes japoneses.

Mas foi Guilherme de Almeida com seu prestígio de poeta consagrado e a boa qualidade de alguns de seus haicais, que o consolidou na Literatura Brasileira.

No aspecto de musicalidade o haicai não tinha uma estrutura aceitável de acordo com a nossa tradição. Suas 17 sílabas distribuídas em um terceto de 5-7-5 (sons), sem rimas, pareciam soar desarticuladas aos ouvidos de nossos poetas, acostumados à sonoridade da trova.

Guilherme de Almeida começou a escrever haicais em 1936. Em 1937 publicou o artigo “Os meus haicais”, onde apresenta sua própria maneira do que seria haicai em português: um terceto com 5-7-5 sílabas métricas, com título, de maneira que o primeiro verso rima com o terceiro e a segunda sílaba do segundo verso rima com a sétima sílaba métrica (ou som), resolvendo assim, o problema da sonoridade no haicai.

Seus haicais foram publicados no livro “ Poesia Vária”, em 1947.

Dentro do movimento haicaístico brasileiro, há muitos seguidores de Guilherme de Almeida, o que lhe valeu a conquista do que se pode chamar de “Escola Guilhermista”. Veja um de seus poemas:

Romance

E cruzam-se as linhas

No fino tear do destino,

Tuas mãos nas minhas.

...........Guilherme de Almeida

Guilherme de Almeida foi um dos fundadores e primeiro presidente da Aliança Brasil-Japão.

MAIS ALGUMAS INFORMAÇÕES

1. O haicai refere-se a um evento particular, ou seja, não é generalização.

2. Apresenta tal evento como “acontecendo agora” e não no passado ou no futuro – um momento vivenciado no presente.

3. O haicai é um exercício de concisão e sobriedade.

4. Não se utiliza títulos por desviar o foco da emoção para a recriação, ou seja, o título conduz o leitor a um direcionamento da emoção.

5. Os sentimentos humanos são submetidos à sensação física que os gerou.

6. A descrição simples e sem artifícios estilísticos de uma sensação é a regra.

Bibliografia indicada

1. GOGA. O H. Masuda, – O haicai no Brasil – Editora Oriento – São Paulo, 1988.

2. GOGA. H. Masuda, e ODA. Teruko, – Natureza, Berço do haicai – Empresa jornalística Diário Nippar, São Paulo, 1996.

Fontes usadas para pesquisa

1. Fonte: www.kakinet.com – Caqui – Empório

Do Livro: NAS TRILHAS DO HAICAI

Autora: Benedita Azevedo

Praia do Anil, Magé – RJ, 22.02.08

Benedita Silva de Azevedo

Benedita Azevedo
Enviado por Benedita Azevedo em 22/02/2008
Reeditado em 01/09/2022
Código do texto: T871409
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