Sobre o Estilo Literal

Toda e qualquer leitura é útil para o ganho de léxico e conhecimento, é útil para fazer amadurecer nossas idéias e nosso estilo, porém quem escreve deve tomar cuidado com o que se ler para evitar influencias estilísticas que podem vim a causar uma deturpação no estilo próprio do escritor. O mais sábio a ser feito é o escritor por si só ir testando suas habilidades, moldando o escrever a seus gostos e não o oposto, e quando achar o estilo procurado redesenhá-lo e torná-lo mais acessível para sua fácil realização. Um erro grave é tentarmos nos adaptar ao estilo quando na verdade é ele que tem que se adaptar a nós, por eles, apesar de serem como o ouro, algo belo e delicado, não passam inanimada matéria, e tal como o ouro é aberto a moldes e alterações para se adaptar ao gosto do moldador, assim que devem ser tratados os estilos literários, como algo belo, porém, não devemos deixar que sua beleza nos segue e nos molde, devemos moldá-las com nossas mãos e assim criarmos nosso próprio estilo.

O estilo assim como tudo que existe está suscetível a melhorias e a evoluções, pois o que não muda ou evolui está fadado em fracasso e a ter um fim, por vezes prematuro por vezes demorado, mas o fim é uma certeza que está incumbido a tudo aquilo que negou evoluir, a ser como corpo decomposto esquecido pelas eras, a ser como fóssil que é vislumbrado, mas jamais modificado, melhorado. Cuidado ao lerem em demasia, antes de lerem com fome voraz, tratem de fortificar seu próprio estilo para não acabarem sendo meros copiadores dos estilos alheios e serem vistos como “a pessoa que escreve como outrem” quando na verdade querem ser vistos como aqueles que tem seu próprio estilo.

Após termos descoberto nosso verdadeiro estilo e a exercitá-lo, aí então devemos ler e mais ler afim de os moldarmos mais e mais, até que consigamos chegar ao máximo de nosso potencial. Seria como em primeiro momento deixar uma árvore criar raízes, crescer, e ter suas folhas, depois que isso ocorre vem as podas e os embelezamentos externos, que nada mais são que meros acessórios cujo valor serve para dar mais brio ao texto literal.

Conseguir ter teu próprio estilo é mais fácil do que parece, mas muitas vezes os castramos quando nos são reveladas vossas frontes, muitas vezes por julgarmos feias, mas esquecem de duas coisas, 1o que o feio é um mero valor que permuta de pessoa para pessoa, e mesmo sendo um texto e estilo pobre a prática e evolução o transformaram em algo cuja beleza será reconhecida, é como uma flor que no começo da vida é apenas raiz e caule, mas em seu apogeu mostra sua real identidade, revelando depois suas crias e seu olor que embebedam alma de quem escreve e 2o que o tido como feio hoje poderá ser o belo e o sublime do amanhã.

Mais cuidado ainda deve ter quem poetisa, por ser a poesia o falar dos deuses; por ser algo cuja criação advém de fontes que muitas vezes transcendem nosso pensamento, são como as gotas do orvalho que surgem sem notarmos. Não que as outras modalidades literárias não tenham o mesmo valor, mas os traços da poesia são como o rosto de Perséfone, algo delicado e belo, mas por outras vezes algo ácido e mordaz. A poesia é por si só o falar do amor e o cantar da dor, é o eterno paradoxo, é o sagrado sendo posto num papel por mãos profanas, por mãos pecadoras. A poesia assim como a música são elementos transcendentalistas, ou seja, quando as lemos e ouvirmos nos deliciamos, como que bebendo de um doce vinho, ou de uma água gelada, é algo simples que tem o poder de nos levar ou ao sublime ou da decadência. É por despertar nossos mais íntimos sentimentos que a música e a poesia tem uma certa valorização, não que os demais estilos textuais não tenham essa capacidade, mas a poesia e a música como suas rimas e sonoridade nos embebem e deixam nosso corpo leve, mas logicamente podendo fazer o oposto. Por isso poetas cuidado com o que escrevem e também cuidado para quem mostras teus textos.

Deixem suas árvores crescerem e florescerem, desprova-as de toda e qualquer maledicência oriunda de ti ou de outrens, não esqueça que o filho quando está em formação é mera massa disforme e que só mostra sua beleza ao nascer, ao florescer. Deixe-o nascer, escutem o seu choro e o alimentem, dessa maneira terás um estilo que é só seu e não será mais julgado como aquele que escreve como outrem, mas sim como aquele que escreve com seu próprio estilo, aquele que aceitou a deformidade inicial sabendo que o fruto da espera e da evolução é algo cuja beleza é singular e transcende a próprio imaginação de quem escreve.