A aritmética de um relacionamento
(01/09/04)
Quanto é um mais um?
“Dois!” diria você prontamente. “Depende!” diria eu cautelosamente.
Se estivermos falando a respeito de matemática, a resposta correta seria, obviamente dois, mas quando falamos em relacionamentos existem várias respostas possíveis: 0, 1, 2 , 3, 11...
Quando dizemos um mais um, ou na sua forma mais simplificada 1 + 1, estamos fazendo uma referência a uma pessoa (1) relacionando-se (+) com outra pessoa (1). Pois bem, vamos aos resultados possíveis:
1 + 1 = 0
Esta situação irá ocorrer quando um parceiro anula o outro castrando-lhe e podando-lhe. E como a situação é recíproca, tudo o que temos é um zero absoluto. Castradas as duas pessoas não são nada, tentam ser aquilo que o parceiro projeta nelas, abandonando a sua essência, vivendo dentro do relacionamento uma aparência. E o que acontece ao final? As partes tentarão libertar-se de suas frustações fora do relacionamento. Assim teremos 0 do primeiro parceiro, 0 do segundo parceiro e zero no relacionamento em si, somando tudo um grande e absoluto ZERO.
1 + 1 = 1
Para este resultado temos várias situações possíveis:
1.Um dos parceiros procura anular o segundo em prol de suas necessidades. Este idealizou no segundo algo que aquela pessoa não é, mas que seria o seu protótipo de parceiro ideal. O outro parceiro se submete a tal ilusão e passa a viver em função dela e das necessidades do primeiro. Com isso ele deixa de existir, anula-se, negando a sua verdadeira essência. Torna-se um zero. O primeiro, por sua vez sente-se completo por estar desvinculado da realidade e não enxerga o que o seu verdadeiro parceiro representa. Assim temos 1 do primeiro mais zero do segundo resultando 1.
2.Nenhum dos parceiros é uma pessoa completa. Ambos possuem dentro de si necessidades mal resolvidas e tendem preencher tais necessidades, internas e que deveriam ser supridas por si mesmo, com as “virtudes” de outra pessoa e vice-versa. Assim ambos possuem lacunas a serem preenchidas, mas ao invés de procurar o auto-conhecimento e preenche-las de dentro para fora, enxergam no outro o seu “complemento” numa espécie de alter-ego as avessas e partem para um relacionamento simbiótico, onde sozinhos não são ninguém, mas em dupla poderiam ser um único indivíduo completo. Assim teremos meio da primeira pessoa mais meio da segunda pessoa resultando um.
3.Um dos parceiros é comprometido com o relacionamento e o outro apenas envolvido. Um se esforça em tornar o relacionamento concreto. O outro aproveitar aquilo que o primeiro faz, sem dispender qualquer espécie de esforço em proveito dos dois. Todo a energia gasta pelo primeiro é drenada pelo segundo. Assim temos um participando do relacionamento mais zero de participação do outro. Resultado 1.
1 + 1 = 3
Neste caso temos duas pessoas se relacionando, porém o relacionamento em si cria vida e toma proporções de pessoa. Um exemplo deste tipo de relacionamento é quando o único motivo que realmente mantém um casal junto e o relacionamento de pé são os filhos ou ainda o patrimônio envolvido. Desta forma não importa a individualidade de cada um ou como tais pessoas se relacionam. O único e decisivo fator que mantém tais pessoas juntas é o que o relacionamento representa. Uma pessoa mais uma pessoa mais um relacionamento travestido de pessoa: total 3, ou nem isso.
1 + 1 = 11
Este caso acontece quando ambos são pessoas que super valorizam a sua própria independência. Moram em casas separadas, vivem suas próprias vidas, não compartilham nem interagem, mas estão juntos, Deus sabe o porquê. Ambos egoístas assumem um simulacro de relacionamento apenas para dizer que o tem. Cada um é cada um e o relacionamento inexiste. Assim temos um mais um, sem o sinal de mais, logo 11.
E quando 1 + 1 = 2?
Isso acontece quando ambos são pessoas equilibradas, dispostas a construir algo em comum. Por serem completos em si mesmos não precisam transformar o outro em uma “coisa” que os completa. Reconhecem e admiram as qualidades que o outro possui e por isso engajam-se no relacionamento, comprometem-se com ele e empenham-se para que ele funcione, doam, um ao outro a sua própria essência, pois foi nela que o outro se identificou. Dois inteiros unidos pela adição, soma e a totalização do relacionamento: 1 + 1 = 2!
Referências:
GAUDENCIO, P. - Minhas razões, tuas razões. Editora Palavras e Gestos
LUCCA. L. A. - Alfabetização afetiva. Editora Vida e Consciencia