A felicidade
Robym intensificava seus ensaios para apresentar-se no Dia da Música, que estava próximo. Mas o curso tinha que seguir em frente. Assim, em novo encontro, ele anunciou a Samyra o tema do dia:
- O assunto de hoje é “felicidade”.
- As pessoas passam a vida inteira em permanente busca desta dádiva.
- Samyra, de uma maneira geral, vejo as pessoas buscarem a felicidade no gozo dos sentidos, no prazer emocional, na satisfação intelectual. Outras a procuram em elevadas posições sociais, em relacionamentos, viagens, riqueza, poder. Ou, então, nas artes, conhecimentos, práticas religiosas. Procuram continuamente as atrações do mundo, mas sempre acabam sentindo um certo gosto de insatisfação. A felicidade que possam experimentar esgota-se em pouco tempo, pois se revela insustentável.
- Penso que o egoísmo é uma das principais causas da infelicidade. Quem espera encontrar prazer somente nas coisas que o mundo oferece, com certeza verificará que não se trata de um estado de espírito permanente.
- A felicidade é uma disposição psíquica que
nasce a partir de nossas atitudes ante a vida e suas múltiplas facetas. E mais: a felicidade não pode ser encarada como uma meta, um ponto de chegada, mas sim como uma constante caminhada, um processo permanente. Realizado determinado objetivo, outros são buscados. Em cada etapa vencida, em cada vitória experimentada, vivencia-se o sentido de júbilo.
- E, caro Robym, é possível saborear vitórias em múltiplas oportunidades, no dia-a-dia.
- Sem dúvida. Ser feliz significa conhecer-se a si mesmo, auto-realizar-se, encontrar uma razão de viver. Ao estudarmos o tema sobre motivação, observamos os vários estágios das necessidades humanas. Assim, podemos concluir que a felicidade é experimentada quando o ser humano consegue satisfazer cada uma de suas necessidades, nos vários níveis.
- Uma conclusão coerente.
- Outro aspecto a ser considerado é a questão da liberdade. Para alcançar a felicidade, o homem precisa sentir-se livre, interna e externamente. A liberdade interior ele pode conquistar cultivando o espírito, atingindo a maturidade. A liberdade exterior, conjugando vários fatores: condições sociais, contexto cultural, enfim, um universo de elementos e circunstâncias.
- Mas, em tal conjuntura, parece-me que as coisas não são nada fáceis.
- Vamos refletir um pouco. Vou valer-me de uma alegoria. Uma árvore, para ser “feliz”, precisa potencializar sua natureza. Exemplificando: uma laranjeira, para crescer e produzir laranjas de primeira qualidade, deve estar enraizada em solo fértil, receber raios do sol e gotas da chuva. Satisfeitas estas premissas e sendo favoráveis as condições climáticas, ela poderá desenvolver-se a contento e produzir bons frutos. Em hipótese contrária, oferecerá apenas umas poucas e azedas laranjas.
- E será uma laranjeira “infeliz”.
- Com certeza, Samyra. A seu turno, o homem detentor de livre-arbítrio não precisa ficar “enraizado” como uma árvore. Ele pode alterar as circunstâncias, procurar um contexto mais favorável.
- Armado de fé, coragem e muito amor.
- Sim, sem dúvida. Na verdade, o amor é o dom supremo. Sem ele nada se constrói. Podemos obter tudo na vida, realizar nossos desejos, obter os atrativos mundanos, alçar-nos aos píncaros da glória. Caso não estivermos motivados pelo amor, pelo bem comum, não experimentaremos a paz, a sensação de felicidade. O maior motivo para alguém se dedicar a uma única pessoa, à comunidade, ou à humanidade inteira, é o amor, eterna fonte de inspiração dos poetas em todos os tempos.
Do livro "Encontros ao entardecer"