Um ser ideal

Animados com o desenvolvimento dos estudos, reuniram-se na tarde seguinte. Após trivial conversa, Robym tomou a iniciativa sobre novo tema.

- Samyra, por ventura, em algum momento da vida, vieste a pensar sobre a figura de um ser imaginário, paradigma de virtudes, um “ser ideal”?

- Creio que não...

- Bem, então vamos compor, passo a passo, esta fantástica figura. Começo moldando-o com algumas características: mentalmente equilibrado, sentimental e emocionalmente controlado, dotado de uma escala de valores coerentes com a realidade.

- Um bom começo. De minha parte, vejo este ser maravilhoso revelando atributos tais como sensibilidade, discernimento, criatividade.

- Imagino-o possuidor de um conjunto de traços psicológicos estáveis, de tal sorte a serem previsíveis suas atitudes, tornando-o um indivíduo absolutamente digno de confiança.

- Isto é fundamental, Robym. Agora, revisto-o de um espírito aventureiro, despreocupado, desapegado de posses materiais, títulos de nobreza, vaidades vãs.

- Observo nosso “ente ideal” tomando forma. Em seqüência, atribuo a ele o dom de ser zeloso de seus direitos e cônscio de seus deveres.

- Um ser responsável, professor. Nosso trabalho continua. Assim, planto bem no fundo de seu coração as mais nobres virtudes: amor, paciência, tolerância, generosidade, humildade, empatia, solidariedade, otimismo, fé, esperança, alegria, coragem, entusiasmo, temperança, sobriedade...

- Muito bem! Contribuo atribuindo-lhe outras virtudes: senso de justiça, imparcialidade, modéstia, respeito, gentileza, doçura, jovialidade, pureza.

- Considero, também, o nosso paradigma de ideais como um ser que cultiva múltiplos e autônomos interesses. À profissão dedica afinco e responsabilidade; aos relacionamentos confere amor e desprendimento; aos esportes oferta entusiasmo e moderação; ao lazer atribui estilo e criatividade; ao serviço social consagra benevolência e solidariedade.

- Aperfeiçoando ainda mais a sua figura, acrescento-lhe a capacidade de autocrítica, ou seja, a habilidade de observar-se constantemente, sob todos os aspectos.

- Professor, o imaginário ser, objeto de nossa idealização, já se apresenta brilhante a meus olhos! Mas, ainda podemos dotá-lo de mais virtudes. Creio que ele, para merecer o título de “ente perfeito” deve dominar todos os aspectos do seu temperamento, harmonizar sua personalidade, aprimorar seu caráter e descobrir sua verdadeira missão no contexto geral do universo.

- Perfeitamente.

- Agora, Robym, gostaria de ver nosso ser imaginário sob outros ângulos.

- Como assim?

- Sugiro que o consideremos uma pessoa de nossas relações.

- Vá em frente...

- Vejo-o como um amigo. Alguém em quem posso confiar serenamente. Junto a ele, sinto-me em paz, experimento alegria, aconchego, calor humano. Recostada em seu ombro, confidencio-lhe incertezas, angústias, inseguranças. Por sua vez, ele ouve-me com atenção e interesse, enquanto acaricia meus cabelos suavemente. Demonstra, nesses momentos, a maior tranqüilidade, oferecendo-me todo o seu precioso tempo. Com sabedoria, aconselha-me, transmitindo coragem e fé.

- Nesta linha de pensamento, vislumbro-o na pessoa de um chefe ideal. Um sujeito bem humorado, solícito, prestativo, solidário. Se, por um lado ressalta meus deveres, por outro valoriza meus talentos, evidencia meus direitos.

- Bem, Robym, gostaria de pintá-lo com as mais belas cores, atribuindo-lhe as seguintes qualidades: não busca fama nem prestígio, contenta-se com uma vida simples, oferta solidariedade às pessoas, ajudando-as efetivamente; é arrojado em suas ações, sem afastar-se da prudência; em circunstâncias adversas, descobre novas alternativas; mesmo pautando suas atitudes com seriedade, mantém sempre um espírito poético, sensível, apaixonado.

- Creio que conseguimos proporcionar ao nosso “ente imaginário” uma bela forma. Para concluir, gos-taria de oferecer-te um poema, cujo autor desconheço:

SÊ O MELHOR QUE PUDERES

“Procura ser tu mesmo, sempre, a cada instante.

Porque não só é belo o que nos parece brilhante,

Porque é necessário que conheçamos o “nosso eu”,

Porque é sendo tu mesmo que o mundo será mais teu.

Procura aperfeiçoar tuas virtudes, teus dons

E fazer de todos eles auxiliares muito bons.

Não deixes que a ambição ou a inveja destruam

As meigas esperanças que outras mentes construam...

Sê o que já és, em perfeita e pura simplicidade,

E assim terás nas mãos a própria felicidade.

Se não puderes ser um rio, imenso, caudaloso,

Contenta-te em ser um riacho, poético, harmonioso,

Pois sempre haverá alguém que de ti vai precisar

E ali estarás tranqüilo, pronto para auxiliar.

Se não puderes ser o sol por tua inteligência,

Sê outro astro menor, mas de constante eficiência.

Se não puderes ser grande como uma montanha,

Que se eleva sob o céu numa imensa súplica estranha,

Contenta-te em ser um monte, pequeno, verdejante,

À sombra do qual descansa um humilde viandante...

Portanto, sê o que DEUS te fez

E jamais imites outros apenas pelo que vês.

Pois tanto tem valor e igual utilidade

A modesta senda campestre e a rua da cidade,

O artista que modela a argila morta e fria,

E o modelo que empresta sua beleza e harmonia.

No entanto, é necessário que, ao seres tu,

a cada momento,

Procures ser perfeito em atos e pensamentos,

Pois só sendo tu mesmo e o melhor que puderes,

Encontrarás paz e alegria naquilo que fizeres.

Darás ao teu semblante o melhor de tua personalidade,

E tua alma restará para a ETERNIDADE!

Do livro do autor "Encontros ao Entardecer"

Ramiro Sápiras
Enviado por Ramiro Sápiras em 12/12/2005
Reeditado em 12/12/2005
Código do texto: T84825