ARTE E LIBERDADE.

Ao longo dos anos venho pensando nas convenções e nas imposições comportamentais de nossa sociedade. Como um, digamos, neoanarquista, não gosto de muitas delas. Não gosto, porque não acho justo e porque não acho que venha a nos ajudar a nos tornarmos mais livres. E liberdade é artigo raro, quando se trata de humanos e sua sociedade. Somos chegados a uma autoprivação da liberdade, vide as religiões, uso da gravata e novelas da Rede Globo! Somos escravos de nós mesmos. Sou, ou tento ser, então, como disse, um neoanarquista e sou também um artista avesso a rótulos de estilos ou movimentos artísticos. Sou um artista sem compromisso com ninguém. Como devemos ser. Sem compromisso nem com mercado, nem com amigos, nem com patrocinadores (ah como são raros!) e nem com movimentos. Sou um amante da Arte, como forma de tudo o que de bom possa dar, criar, mostrar ou extrair do homem. Sou um amante e estudioso da Arte, porque ela pode ajudar a nos libertar, isso no seu sentido mais puro. Mais libertário! Bem como Nietzsche queria. E, também por este motivo, sou um apreciador da Arte e seus artistas, avesso a eleger algum, ou alguma obra como a melhor, ou o melhor, diferentemente de gostar mais de uma do que de outra. Gostar é diferente, até oposto de classificar, de hierarquizar. Sou, portanto, se quiserem optar por uma definição, um artista libertário. E tento sê-lo igualmente como pessoa. Aos 56 anos, finalmente! Livre afinal! A Arte me liberta em sua verdade. A Arte, a verdadeira Arte, deve sempre provocar, ajustar, salvar e libertar. Arte é verdade. Liberta e não tem contra-indicações, exceto o risco de sermos mais felizes!

Dentre todas as convenções, uma delas que agora estou implicando, coisa meio arrogante, porque é uma convenção, ou costume centenário é a classificação de excelência por diversos critérios, de uma obra de Arte! É costume inventado pela crítica ou pelo mercado, seja lá o quê for. Hoje não consigo mais aceitar ou compactuar, quando se trata de avaliar ou conceituar este ou aquele trabalho de Arte como o melhor, o primeiro, o mais. Tanto faz para mim se o julgamento se dá para um artista ou para seu trabalho: não acho mais certo julgamentos impositivos para que este ou aquele seja o melhor, ou mais importante. Não mais posso concordar com esta mania opressiva e sufocante, seja de quem for. Sou assim mesmo, gosto de contestar e tentar demolir coisas engastadas e imbricadas pelo tempo e pelo seu mau uso na sociedade e que carregam qualquer matiz ou ranço opressor. Tal e qual um Abelardo "Chacrinha" Barbosa, eu não vim aqui para explicar, vim para, no caso, ajudar a libertar! A Arte hoje é cheia de imposições e para mim, chega! Chega de opressão onde deve imperar apenas o gosto. Meu, seu e de qualquer um! Chega de hierarquias e de classificações! Chega de rótulos artificiais!

O que hoje em dia acho mania excludente, discriminatória e injusta é a mania de escolher, quando nos ambientamos em Arte, o melhor, o mais isso ou aquilo, o primeiro, enfim, o mais.

Arte e liberdade, por terem andado por aí perto uma da outra, devem ser apreciadas e realizadas, sem amarras, sem prêmios por primeiros lugares. Sei que às vezes somos tentados a classificar artistas e seus trabalhos como os melhores ou os mais importantes. É difícil de não fazê-lo. Porém, seria mais correto colocarmos sempre um "dentre os mais", ou "uma das mais importantes", para não incorrermos no que tanto falei acima. Pelo menos é o que penso e tento praticar.

Exemplo? Picasso é O MAIS importante artista plástico do século XX? E Kandinsky? E Jackson Pollock? E Cézanne que o precedeu? E aqueles artistas africanos anônimos que desenvolveram suas máscaras e objetos que impressionaram a Picasso e a outros? Sem eles não haveria Picasso e nem Léger, Braque ou Gris. É injusto eleger algum artista mais ou melhor, se depende de tantos fatores a elaboração ou o fazer artístico e se depende de juízo de gosto, meu, seu e de qualquer um.

Picasso foi genial e impressionante. Foi um marco. Foi muito, mas não foi o mais importante artista plástico do século passado. Para mim, foi UM dos mais importantes artistas do século XX, como todos os outros mais importantes. Picasso também foi um dos mais importantes artistas de todos os tempos, como Da Vinci, Kandinsky, Michelangelo, Pollock, Giotto, Dürer, Cimabue, Cézanne, Velásquez e tantos outros.

Toda forma de Arte, deve fazer constar seu assemelhado, deve expor seu avesso, seu corolário, sua antítese, sua crítica e aí, se sobreviver a tudo, preservando seu cerne, sua proposta, alcançará a verdade. Alcançará a possibilidade libertária, a verdadeira Arte!