VIDA: ENSAIO OU RESENHA?
"Engraçado, como de repente tudo fica vazio..."
( Fala do filme " O PAI DA NOIVA")
A constatação acima descrita, me inspirou o texto que ora escrevo, e que me gerou dúvida quanto à sua classificação.
Optei por " ensaio", embora farei brevemente uma pequena resenha de dois filmes que recentemente assisti: "O PAI DA NOIVA" E "PS: EU TE AMO".
Não os escolhi pelos referidos títulos, pois confesso que ambas intitulações não me cativaram. Pareceram-me os tais "água com açúcar", embora saiba que adoçar é preciso!
Eu os escolhi por certa indicação de amigos e também pelo gênero "comédia", porque rir é sempre muito bom...
Mas o que motivou esse meu ensaio, é que foram duas comédias que além de me arrancarem lágrimas, me fizeram pensar, o que aliás, ratifica a importância de começarmos a "arte', sempre por um bom título, sob pena de muitas vezes não sermos agraciados pela justa atenção dos espectadores.
Mas, o que haveria de semelhante em ambas as obras?
Na verdade, trabalham o mesmo tema: Aquilo que na vida todos enfrentamos como "perdas", mas que em última análise são apenas transformações.
Em "O PAI DA NOIVA", discute-se a dificuldade que nós, todos os pais, temos em aceitar que nossos filhos vieram às nossas mãos e assim como tudo na vida, um dia seguem o seu caminho.
Em "PS: EU TE AMO", uma jovem viúva enfrenta a dificuldade de aceitar a morte precoce do marido, que ao saber que estava condenado, deixa com a sogra várias cartas à esposa, que lhe serão entregues em tempos sucessivos e que a nortearão a atravessar com mais tranquilidade a dor da perda, a solidão da viuvez.
Um foco interessante é o diálogo que em determinado momento se trava entre mãe e filha, em que a mãe, tentando consolar a viúva, esclarece que ao ser abandonada no casamento quando a menina ainda era muito pequena, também perdera o marido, não para a morte, mas para a vida. E simplesmente... seguiu...
Achei este um marco espetacular do filme. Como é difícil perder para a vida!
Não temos nenhum controle sobre a morte, mas há que se aprender que muito pouco o temos também sobre a vida...
Nós pessoas maduras que já caminhamos um pouquinho, sempre nos achamos em determinados locais dos referidos filmes.
E discutir perdas, talvez não seria tão inédito.
O que aqui ensaio e proponho é discutirmos as transformações, e espero atingir meu objetivo.
É olhar para a vida e entender o quanto tudo é cinético, queiramos ou não.Mesmo frente à nossa aparente imobilidade, tudo caminha, tudo se transforma, e em verdade, estamos num grande processo de "ganhos".
De súbito...tudo muda!
E talvez o mais difícil seja aceitar que inclusive nós mudamos.
As vezes as mudanças nos chegam em pequenos "abalos sísmicos"...noutras vezes em verdadeiros "terremotos".
" A única certeza é que tudo vai mudar" - e " nada é tão definitvo quanto as mudanças"(ditos populares).
O que ocorre, é que frente a nossa tendência humana de acreditar que tudo é eterno ou atemporal, deixamos as dores das transformações vendar nossos olhos para a "evolução' , esse conjunto de "ganhos" de todos os dias, que todos nós, queiramos ou não, temos que conquistar.
Cheguei a pensar que LAVOSIER talvez não tivesse idéia do quanto "holisticamente' estava certo quando em tese afirmou que "na natureza nada se perde, tudo se transforma"
Se tivesse substituido "natureza " por "vida" seria simplesmente perfeito! (Mas que ousadia essa minha!)
Além da discussão das transformações tidas como perdas, outro foco me chamou a atenção: Como dar 'tempo ao tempo" é fator preponderante para trabalharmos "as perdas".Tudo tem o seu tempo, a sua hora.
De nada adianta querer colocar "os carros à frente dos bois" .
A vida, as suas ocorrências e os nossos sentimentos seguem uma logística quântica.
Atravessá-la fora dos sinais, seria sinistrar a existência...
Temos que respeitar nossas dificuldades, nossos erros, nossas crenças, nossas ilusões, nossas desilusões, nossas fraquezas, nosso tempo, enfim aceitar e perdoar a fragilidade da nossa condição humana.
E seguir. Talvez a maior mensagem de ambos os filmes.
Sempre é para frente! Voltar é ilusão.
-Mãe, será que algum dia veremos o papai?
-Não filha, não! (Diálogo de "Ps: Eu te amo.")
Temos que aprender que as expectativas da vida pertencem ao futuro. É nelas que devemos acreditar, pois são as que nos movimentam para a frente.
As voltas existem apenas dentro de nós.
PS:
" De repente...não mais que de repente..."
(Vinícius de Moraes)