A missão de cada um
Invadiu-me certa vez uma inexorável perplexidade acerca do sentido da vida. Decidi, então, peregrinar por este mundo em fora, para decifrar tão profundo enigma.
A todos os seres que encontrava propunha a questão. À frondosa árvore, enraizada no centro de grande praça, supliquei que me revelasse sua verdadeira missão. Explanou-me ela:
- Em primeiro lugar, devo manter-me viva, forte, saudável, para melhor poder cumprir meu papel. Em segundo, descobrir exatamente qual seja este papel. E, por fim, desempenhá-lo diligentemente. A mim cabe proteger os peregrinos que por aqui passam, nos tórridos dias de verão, ofertando-lhes minha generosa sombra.
Segui adiante e deparei-me com um belo gato siamês. Segredou-me ele que sua missão consistia em fazer companhia a uma velha senhora, ofertando a ela todo seu encanto e ternura.
Por muitos e muitos dias, por escabrosas veredas, feri meus pés à procura de respostas à pungente dúvida. O esforço foi sobejamente recompensado. Mas eu sentia que era preciso ainda ouvir uma sábia opinião de um representante do gênero humano.
Finalmente, após fatigante busca, no alto de um outeiro, encontrei um provecto anacoreta, longas barbas brancas, olhar perdido no horizonte, a meditar...
Acolheu-me amavelmente. Após ouvir, todo paciência e atenção, meu relato e minhas súplicas, sentenciou gravemente:
- Meu prezado buscador. Os sábios seres da natureza propiciaram a ti as respostas. Já és possuidor do inefável segredo. Não obstante, mais posso aduzir: caso descobrires que és uma árvore, sejas realmente uma árvore; se fores um gatinho, não te constranjas em ofertar toda tua meiguice; e se um leão, coloque sempre toda tua energia em tudo que fizeres. Enfim, é preciso descobrir teus verdadeiros talentos, aprimorá-los, produzir os melhores frutos, e então, ofertá-los generosamente.
Do livro do autor "A Magia das Palavras"