Religião: mea culpa, mea bomba
Religião: mea culpa, mea bomba
Dizem que política, futebol e religião não se discutem. Para quebrar esses dizeres, hoje vou discutir sobre religião.
E quando falo de religião, é bom deixar bem claro, estou falando das organizações religiosas institucionalizadas, não necessariamente da fé ou das crenças pessoais de cada um, mas falo de uma forma geral, não específica.
Tá, concordo, religião pode ser uma parte importante da vida humana, mas não é fundamental, quero dizer, se deixar de existir, ou se alguém abandonar a religião, não vai morrer por isso. Dito isso, então vamos lá.
A religião existe desde antes da Antiguidade, como culto familiar aos antepassados. Na Antiguidade, na antiga Suméria e, posteriormente, na Pérsia, por exemplo, o rei se dizia descendente dos deuses, por isso tinha o direito de governar. No Egito Antigo, acontecia o mesmo, mas eram mais ousados, diziam que eram a encarnação dos deuses. Com isso, tanto no Egito quanto na Suméria a religião era usada para justificar qualquer ato desses líderes políticos.
Então, era o culto religioso que legitimava o poder político. Era como hoje, as pessoas nasciam dentro daquele contexto, daquela sociedade, daquela cultura, aprendiam com os pais que as coisas eram daquele jeito, poucos ou ninguém ousava questionar.
Na Grécia, as coisas mudaram um pouco, mas muito pouco. Com o advento da filosofia, questionava-se até a existência dos deuses. Mas as religiões continuaram firmes e fortes, por exemplo, os jogos olímpicos da Antiguidade eram em homenagem aos antigos deuses. Na Grécia, a religião continuou legitimando o poder das lideranças gregas e perseguindo qualquer que falasse o contrário aos interesses estabelecidos.
Em Roma, a religião e a política unem-se oficialmente. Sendo politeístas como os gregos, havia um deus para cada coisa, inclusive para abençoar a abertura dos trabalhos no Senado romano, a legitimação dos Imperadores que se autointitularam deuses na Terra, tudo isso para terem o poder incontestável e dominar a massa de pessoas ingênuas que nasciam, trabalhavam e morriam sob esse domínio.
A religião não impediu a queda de Roma. Caiu, caiu, Roma caiu, mas continuaram todos os cultos existentes na antiga cidade das sete colinas, todas as superstições, conjurações, crenças que se revestiram e se mascaram no cristianismo da Idade Média.
A religião medieval foi a única instituição que se manteve intacta desde a Antiguidade, ganhou mais e mais poderes, foi a religião Católica da Idade Média que dominou de ponta a ponta o mundo ocidental, e que pretendia ser universal.
No final da Idade Média houve uma reforma, a religião Católica foi abertamente contestada. Os reinos europeus que queriam se ver livres do domínio religioso católico aderiram à nova religião Protestante. Depois de muito derramamento de sangue, as religiões protestantes se impuseram. E então houve mais derramamento de sangue entre os próprios protestantes, pois cada uma dessas novas Igrejas Reformadas se achava no direito de agir em nome de Deus, torturar ou matar em nome de um bem maior.
Com o advento das Revoluções Burguesas, as religiões protestantes e a católica foram para a esfera particular. E lá, nas sombras, continuaram a luta, mas agora por fiéis e dinheiro. Enriqueceram suas lideranças, parafraseando Weber, a Ética Protestante deu lugar ao Espírito Capitalista. Contudo, a ganância pelo dinheiro e poder local não está sendo o suficiente. As religiões protestantes se infiltraram maciçamente no Espaço Público, atingiram postos políticos para sustentar seu plano de domínio total e impor sua visão de mundo sobre as massas populares, e com a taça na mão brindar com sangue seu grande feito na Terra.