Coaching
O termo *coach*, que, na tradução literal para o português, significa “treinador”, foi utilizado como definição para uma categoria de profissionais cujo papel era o desenvolvimento pessoal dos indivíduos no ambiente empresarial. Inicialmente, em grande parte, os *coaches* emergiram na esteira de profissionais da psicologia comportamental, cujo objetivo principal era transformar o cenário laboral em uma estrutura de convivência semelhante ao núcleo familiar. A ideia central era motivar os trabalhadores em suas funções com base em uma noção de unidade em torno do bem comum, tal qual uma colônia de formigas, “trabalhando” para formar uma estrutura coesa e, portanto, “bem-sucedida”.
É possível abordar criticamente esse aspecto de reprodução ideológica à luz de Paulo Freire, no seguinte ponto: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar opressor.” Tal pensamento pode ser aplicado à crítica de tornar o ambiente empresarial um meio de reprodução de ideais engessados em torno do bem da empresa, anulando as críticas e, por conseguinte, tornando as pessoas daquele ambiente favoráveis à idealização que, por vezes, pode oprimi-las.
Por meio dessa percepção da empresa como um meio de propagação de ideias ligadas a uma estrutura familiar, ao longo das décadas foram utilizados alguns conceitos como: produtividade, resiliência, proatividade, liderança, dentre outros. Tais conceitos previam a aproximação do funcionário com a empresa através de um apelo moral e da exaltação do papel do indivíduo trabalhador como ente fundamental na formação da estrutura empresarial. Como sugeriu Max Weber, no contexto do capitalismo moderno, o trabalho assume, nesse ínterim, uma dimensão quase religiosa, na qual a produtividade e o sucesso individual refletem valores morais internalizados e, nesse caso, propagados como virtudes empresariais: “O indivíduo existe para a empresa, e esta, por sua vez, é o veículo da sua salvação.”
Alguns dirão que esse marketing psicológico serve apenas para anestesiar os colaboradores diante dos possíveis excessos de seus superiores, pois, quando qualquer ambiente laboral é tido como família, junto a essa percepção nuclear parental, surge o apego à hierarquia do referido grupo, bem como à sua representação afetuosa. Nesse sentido, Michel Foucault observa que “o poder não é apenas repressivo, mas também produtivo, possibilitando a criação de formas específicas de subjetividade que, por sua vez, facilitam a dominação”. O afeto, nesse caso, se traduz em uma relação emocional de passividade, na qual os trabalhadores assumem o papel de filhos, e os donos da empresa, o de pais, reforçando a noção geral de respeito ao superior.
A partir desse arquétipo, podemos derivar uma lógica de dominação do trabalhador por meio de uma transmutação da imagem laboral em família, tendo o apelo moral de respeito ao senhor da casa como cabresto ideológico. Nesse viés, Karl Marx já advertia sobre a alienação do trabalhador, que, ao se identificar excessivamente com a organização, perde a consciência de sua posição explorada: “A classe que tem os meios de produção à sua disposição tem ao mesmo tempo o controle dos meios de comunicação e informação.” Portanto, todos esses fatores fariam do *coach* uma ferramenta ativa de legitimação da dominação do trabalhador a serviço dos proprietários das empresas, partindo de um viés crítico sobre as relações de poder e influência na construção da imagem laboral com tendências familiares.