Tinha uma pedra no meio do caminho
"Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra." Mas não foi preciso um tênis de marca, nem mesmo um coturno fodido para que ele mirasse à pedra e desse um chute com toda cólera do mundo. A pedra planou durante alguns metros à frente. O muleque satisfeito, deu um sorriso, mesmo com a cara meio desfigurada em reação à dor que sentia no dedão. Sabia que o caminho estava livre por ali, podia caminhar àgora rumo ao teu objetivo, que não era nada demais. Não era pedir demais querer aquilo. Mas ele estava convícto de que a luta era necessária. E que o dedão do pé ia se curar à tempo dele alcançar mais uma vez a maldita pedra e dar nela outro chute para ela pairar um pouco mais à frente. A pedra estava sempre no caminho, e sempre estaria, mas enquanto ele tivesse forças, iria combater a pedra. E se ele perdesse o dedão em um chute desses, ele tinha ainda o outro dedão, e tinha as mãos, e tinha tudo, a pedra não podia com ele. E ele tinha a cabeça, com um pensamento no objetivo, outro na luta, outro nos que tinham tudo para chutar a pedra, mas quiseram pular e acabaram tropeçando.