O ESTILO COMO ESSÊNCIA DO ESCRITOR

A escrita é, antes de tudo, um exercício de descoberta. Cada palavra escolhida, cada ritmo encontrado, nos aproxima de uma voz única, algo que não se pode copiar ou ensinar por completo. Essa busca, muitas vezes solitária, é o que distingue um simples texto de uma obra literária, e talvez seja também o maior desafio para quem se aventura a compor.

Francisco Castro, em Como Encontrar seu Estilo de Escrever, argumenta que a verdadeira escrita emerge do autoconhecimento. Não basta apenas narrar histórias ou construir personagens. É preciso, acima de tudo, entender a si mesmo, pois o estilo literário nada mais é do que o reflexo de quem somos. Ele não está apenas no que escrevemos, mas no como: o tom, o ritmo, a cadência — aquilo que faz um texto pulsar.

Ainda assim, encontrar essa singularidade exige esforço. Escrever é reescrever, esculpir o texto com obsessão até que cada palavra soe indispensável. Como Borges, cuja precisão estilística é quase mágica, ou Saramago, que converteu sua prosa em música, é necessário que o escritor seja exigente consigo mesmo, buscando sempre a beleza — não uma beleza vazia, mas aquela que seduz, emociona e faz o leitor permanecer.

Escrever também é um ato de mostrar, não de dizer. Quando Neruda escreve "Quero fazer contigo o que a primavera faz com as cerejas", ele não explica o amor; ele evoca. Essa evocação, que transcende o óbvio, é o que transforma a palavra em literatura. A trama importa, claro, mas é o estilo — essa música entre as linhas — que torna a leitura memorável.

Além disso, a literatura pede um equilíbrio entre rigor e liberdade. Ela exige pesquisa e verossimilhança, mas não se submete a elas. Como Júlio Verne, que fez do estudo minucioso a base para criar mundos, devemos nos documentar, mas não temer a "mentira literária", se isso servir ao texto. Afinal, mais importante que a verdade objetiva é a verdade da narrativa, aquilo que o leitor acredita enquanto lê.

E há, ainda, a importância da ousadia. É preciso arriscar-se na construção de imagens, no uso de palavras inesperadas, na quebra de regras gramaticais, se isso contribuir para a literatura. O exercício do oxímoro — unir o contraditório — ou a criação de ritmos poéticos em meio à prosa são caminhos que podem levar o texto a um território inexplorado, mas autêntico.

Assim, como defende Castro, escrever é um trabalho ambicioso. Não basta contar uma história; é necessário fazê-la soar como única, capaz de reverberar no leitor. E isso não acontece por acaso. A inspiração pode surgir, sim, mas é a prática, a leitura constante e o rigor na revisão que moldam o escritor. Como Sartre disse, é preciso pensar — e escrever — contra si mesmo, sendo o maior crítico do próprio texto.

No fim, o que permanece é a busca pela beleza e pela verdade literária. Não a verdade dos fatos, mas a verdade que pulsa entre as palavras, aquela que faz o leitor acreditar, mesmo que por um instante, que está diante de algo vivo. Essa é a missão do escritor: transformar ideias, emoções e pensamentos em uma obra que transcenda o papel. Afinal, não escrevemos apenas para contar; escrevemos para eternizar.

Lusca Luiz da Silva
Enviado por Lusca Luiz da Silva em 18/12/2024
Código do texto: T8221579
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