SOBRE O ÂMAGO DO AMOR

“Quero um amor maior, amor maior que eu” (Jota Quest)

-Mas como seria isso?

Hoje cá estou para chover no molhado.

Não faz muito tempo, eu lia um artigo na internet, aliás muito bem escrito por uma escritora com formação em psicologia, que falava sobre o amor.

Mas na verdade sua fala focava mais o antônimo do sentimento...o.ódio? -foi nele que pensaram, não foi?

Pois é, gramaticalmente acertaram, porém sentimentalmente ela focava a “indiferença” como o antônimo do amor, pois defendia em tese, que somente ela “desbanca” o tal sentimento .

A indiferença como um “estado vazio”, não contém nada, sequer o ódio.

E este, com todo o seu conteúdo explosivo de ira, está muito longe da indiferença, e denuncia muita vezes a presença dum estado, que embora doentio, ainda poderá expressar grande potencial de amor, porém já deturpado demais...

Mas o que me movimenta aqui, é a difícil definição do sentimento AMOR!

Talvez o saibamos sentir, conceituar, mas longe estamos de o definir, de desvendar o mistério que enlaça os seres, e que consegue despertar grandes alegrias e grandes sofrimentos.

Quem acompanha os meus escritos, sabe que escrevo muito sobre o amor.

Aliás, o que também não é novidade nenhuma.

Todos os poetas falam, cantam, louvam e enaltecem o amor.

E mesmo aqui no Recanto, percebo que, a despeito da variedade de assuntos que movimentam os textos, o amor ainda é o que mais induz às leituras, mostrando que o sentimento ainda está na moda, acredito que na moda da eternidade.Enquanto houver vida...haverá amor!

As pessoas, de modo geral, se interessam pelo amor, mas percebo que o fantasiam demais..."The love is in the air...”

Mas o que é o amor? Qual a sua melhor definição? O que faz duas pessoas se unirem? Por que amamos este e não aquele? Existe amor “a primeira vista” mesmo? O amor é eterno? O que é o tal do “amor verdadeiro” ?E quando é decretado seu término...será que era amor? !

“A nossa música nunca mais tocou...”(CAZUZA) -mas seria a nossa música mesmo? Ou era a música do vizinho?

Tenho, por várias vezes, parado para pensar no assunto.

Grandes definições de amor vêm ao meu pensamento.

“Amor é fogo que arde sem se ver...” -quem não se lembra desse antológico verso de Camões?

Mas o amor, a meu ver, vai além do alcance, além da capacidade de definição por parte de qualquer ser, seja ele artista ou não.

Tenho pra mim, que a ÚNICA definição do Amor é Bíblica, e também já falei sobre CORÍNTIOS III por aqui. “Ainda que eu falasse a língua dos anjos, sem amor... eu nada seria” .

Esse belo resumo TEOLÓGICO do que é o amor, que nos anos oitenta até inspirou uma música de Renato Russo do extinto LEGIÃO URBANA, é perfeito!- e talvez seja a única definição, porque elege o amor como o sentimento primordial para a real existência e quiçá para a felicidade também tão cantada em verso e prosa..

Mas ultimamente tenho percebido que as pessoas confundem muito o "amor".

Embora holístico e universal, presente em todas as épocas e lugares, nas suas diversas modalidades, o amor que aproxima e que vincula dois seres para uma vida em comum, me parece estar muito banalizado.

Há os que têm um novo amor a cada dia, a cada esquina, e olhem, que já abandonaram a adolescência há anos. Até chego a pensar que sou anormal.

Aonde estaria esse amor que todos encontram num passe de mágica, ao toque da varinha das fadas?

Há também os que se casam todos os meses, morrem de amores a cada novo Carnaval, e se despedem na quarta-feira de cinzas para nunca mais... E é isso que me chama a atenção.

Há os que confundem amor com paixão, com sedução,com tesão, com sexo, com propriedade, com posse, com troféu...com força...com poder...com parasitismo, com conveniência... e acreditam que podem encontrar o amor em cada esquina, a fim de manipula-lo ao bel prazer da hora.Que triste!

Que ledo engano!

"MEU CORAÇÃO TEM MANIA DE AMOR...AMOR NÃO É FÁCIL DE ACHAR..." (Paulinho da Viola)

Hoje, já no auge da maturidade, diria com muita tranqüilidade que o amor ao qual me refiro, e o que todos procuram, não passa muitas vezes pela vida das pessoas. Às vezes passa quietinho, imperceptível, sem fazer alarde, e vai embora para nunca mais. E a grande maioria o deixa passar..

"Foi um rio que passou em minha vida, e que meu coração se deixou levar..."( PAULINHO DA VIOLA)

Trata-se duma manifestação rara e preciosa do mais nobre sentimento, que não se contamina em hipótese alguma da vaidade e do amor próprio. E tem força! E muita!

É quase um despojamento de si, porém sem jamais perder a identidade. Porque se perdermos a identidade, não conseguiremos amar, visto que amor é total interação de seres bem definidos!

É a simbiose de duas “metades inteiras” que coexistem para um todo maior, um ser pleno.

Portanto, amor é a mais perfeita expressão de EDIFICAÇÃO.

Quiçá uma forma de saber que o amor chegou, seria perceber um pouco de si no outro, e ter a percepção de parte do outro em si.

Parece confuso, não é? Mas quem já sentiu, sabe ao que me refiro.

O amor não fere por intenção e jamais destrói, porque em última análise, destruiria a si próprio.

Enfim, aí está um assunto para uma boa tese de doutorado...pela vida.

E se o amor ao qual me refiro, já bateu à porta dos que por ora me lêem, só me resta lembrar do ilustre conselho do “Paralamas do Sucesso”:

“CUIDE BEM DO SEU AMOR...SEJA QUEM FOR...”