Sobre Ser Historiador e Escritor de Fantasia
Até que ponto ser historiador ajuda a escrever um livro de fantasia?
Já dizia Marc Bloch: “A História é a ciência que estuda os homens no tempo.”
Qual a ‘’verdade histórica’’? Que fatos são dignos de memória? Quais merecem maior destaque e, sobretudo, por quê?
O fazer historiográfico, certamente, consiste nessas perguntas, feitas sempre no presente e nas demandas que o cercam. Uma vez que o historiador está intimamente ligado ao seu objeto de estudo, fica claro que a produção historiográfica jamais escapa da influência do presente.
Da mesma forma, podemos concluir que o mesmo ocorre em relação aos livros de fantasia. Não importa se a ambientação é a contemporaneidade ou a Idade Média do nosso mundo ou de outro: a influência do meio é crucial para o escritor, na elaboração de qualquer livro, do mais realista ao mais fantasioso.
Quando, por exemplo, um historiador se debruça sobre um fato histórico, há uma clara distância temporal entre ele e o momento de sua pesquisa. O passado apenas se conservou na forma de vestígios: indícios materiais ou imateriais, deixados pelo ser humano no tempo. É o que o italiano, Carlos Ginzburg, denominou de paradigma indiciário.
Portanto, concluímos: é a partir do conhecimento adquirido no tempo presente que o historiador constrói o seu ofício.
Voltando agora ao tema da pergunta: até que ponto ser historiador ajuda a escrever um livro de fantasia?
Bom, a resposta não é tão simples quanto pode sugerir. Vai depender dos objetivos de cada escritor. Referências de todos os tipos são o que trazem munição para os autores. Isto não é exclusividade do conhecimento histórico. Mas, se objetivo for escrever uma fantasia com fundo histórico plausível, coerente, ainda que numa ambientação alternativa, se torna indispensável.
Indispensável também esse conhecimento se torna à medida que bom escritor percebe que a boa ficção é feita de gente, assim como a História é, acima de tudo, uma ciência humana. Talvez essa seja a maior contribuição da disciplina, não só aos escritores de fantasia, mas a todos os ficcionistas.
De fato, não necessariamente um bom historiador será um bom escritor. Mas o bom escritor é aquele que sabe levar qualquer conhecimento adquirido para o ofício da escrita.