Os Três Porquinhos e a Administração dos Recursos
Todo mundo conhece a história d' Os Três Porquinhos, no entanto, poucos sabem dizer o que essa famosa fábula tem a nos ensinar sobre preferência temporal. Mas qual, exatamente, o significado desse conceito? E de que maneira ele se manifesta na saga desses três irmãos tão diferentes?
Bom, ao agirmos, sempre pretendemos substituir um estado de coisas menos satisfatórias por um estado de coisas mais satisfatórias, é fato. Como toda ação requer uma certa quantidade de tempo, na qual muitas realizações são renunciadas para a obtenção desse fim último, somos limitados pelas circunstâncias do hoje e do amanhã, que sempre variam.
Na história d'Os Três Porquinhos, esse estado mais satisfatório seria alcançado com a plena segurança dos irmãos frente o lobo. Para isso, era necessário material para construir uma casa que os salvaguardasse do perigo (meios escassos, valorados em função do fim assim desejado).
O caçula, contudo, não queria ter trabalho. Era o que tinha a preferência temporal mais elevada. Sua visão, sempre muito orientada para o presente, praticamente só considerava a gratificação instantânea, que era poder brincar, sem ter mais nada a fazer.
Os custos de se construir uma casa e o tempo dispendido no processo acabaram se revelando muito altos e exigiam que ele postergasse o seu lazer por um período longo demais antes de se ver plenamente seguro. Não compensava. Consequentemente, decidiu construir a sua casa de palha; assim, poderia se ver livre o quanto antes.
O irmão do meio, por outro lado, era um pouco mais ajuizado. Com a visão ligeiramente direcionada para o longo prazo (a sua segurança), pelo menos construiu a sua casa de madeira, material resistente, embora também inadequado para a sua empreitada, que seria muito mais perigosa do que ele estava disposto a acreditar.
Quanto ao primogênito, este era o que tinha a menor preferência temporal. Também optava pela satisfação presente em relação à satisfação futura (do contrário, só postergaria seu lazer), mas essa diferença não era tão expressiva como a de seus irmãos. Ele considerava o futuro em seu escopo de análise e no enorme benefício que iria advir se construísse uma casa de tijolos.
De que adiantava sair para brincar na hora errada como seus irmãos quando, no longo prazo, não só estaria inseguro, como também impossibilitado de brincar? Uma casa de tijolos, ainda que mais custosa, valeria todo o tempo e o esforço com certeza, pois, nesse caso, haveria um prêmio compensatório!
Da mesma maneira, as taxas de juros no mercado (prêmio compensatório) tendem a ser menores quando a preferência temporal dos indivíduos é mais baixa, uma vez que a diferença entre o valor dos bens presentes (bens de consumo) e o valor dos bens futuros (fatores de produção e bens de capital) é inferior, e há uma maior provisão para o futuro.
Portanto, quando o Banco Central empresta dinheiro sem lastro em poupança, reduzindo as taxas de juros para patamares inferiores aos que prevaleceriam em um mercado livre, apenas por mero decreto, sem ter havido tendência prévia de aumento da proporção de dinheiro em encaixe, uma elevação dos gastos, tanto para investimento como para consumo, será a consequência. A instituição vende títulos de dívida do governo, oriundo dos impostos, aos bancos comerciais, que, em troca, depositam uma parte da reserva no Banco Central (a taxa costuma ser de 10% de lastro em dinheiro em espécie). Os títulos de dívida são vendidos e acumulam juros.
Os preços sobem em seguida, visto que o aumento da oferta de dinheiro disponível proporcionou a criação de uma demanda adicional por mercadorias e serviços, cuja produção depende da extração de recursos de outros mercados. Com efeito, lá na frente, a progressão dessa inflação acaba por pressionar para que as taxas de juros sejam reajustadas. Elas então se elevam de novo, e o que era pura ilusão de riqueza passa a ser desmascarado no cálculo econômico.
Sem uma nova impressão de dinheiro, isso exigirá que parte dos investimentos feitos sejam liquidados, já que o nível de poupança real se revelaria insuficiente para respaldá-los. Pessoas ficariam endividadas; empresas entrariam em déficit e, frequentemente, acabariam tendo de vender seus estoques a qualquer preço, pois não conseguiriam encontrar compradores.
Mas a expansão da base monetária — também conhecida como tributação indireta, o método mais popular de aumentar os gastos públicos (os falsificadores de dinheiro são sempre os primeiros a recebê-lo, quando os preços ainda não se elevaram, cabe destacar) — é um ciclo vicioso. Mesmo se o governo quisesse, jamais pode durar para sempre. Uma hora haverá a completa derrocada do sistema monetário em questão e a fuga para os bens reais (escambo). O dinheiro já não valerá mais nada.