Apelo genuíno e profundamente humano

Talvez, talvez, hoje, não importe mais se o apelo é genuíno e profundamente humano. Se a dor ao se expressar cala fundo em quem o faz. Se o pedido do outro, tão profundo, é o mesmo do coração de quem o recebeu: por favor, me alimente com tuas palavras.

 

Que importa o desejo de conexão, de continuidade, a gana de manter vivo o fio invisível que une almas pela força transformadora da palavra? Nada muda, não convence corações, não importa para outrem o que o coração da poetisa sente e anseia com desespero até. Ela recebe só silêncio e dele engole e, dolorosamente, segue cumprindo sua missão. E não foi pedido muita coisa, mas o que foi é entregue pois como bem dito, "não é um simples ato de criação, mas um compartilhar de essência, um derramar de vida que transcende o ego e alcança o outro na forma mais pura de amor: a doação". E Maria se doa em palavras que não são compreendidas, não são aceitas, não importam mais...

 

Que importa se a missão é uma dádiva ou uma responsabilidade? Se é cumprida com reverência de quem entende o que ela significa para outrem ou não: "sobreviver" é o que se almeja tanto lá, como cá.

 

E quantos já escreveram que palavras não são apenas letras enfileiradas, mas são alimento para corações famintos, são refúgio para almas inquietas, são guias para mentes perdidas. Quem escreve com a alma, em verdade, tece não apenas histórias, mas também pontes, ligando universos interiores que talvez jamais se cruzassem.

 

"A palavra é o que temos de mais importante em nós", me disse lá em 2006 um velho carpinteiro de palavras. E digo que é, pois ela é a única que tem o poder de transcender o tempo, de visitar e revistar memórias, de eternizar-se hoje, no tempo e no espaço - que são coisas diferentes e, simultaneamente, iguais em sua relação intrínseca e real.

 

Que em nossa jornada pela vida nunca falte palavras - para alimento do espírito, para a paz, para o amor, para a esperança...